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422 SE HOUVESSE CULTURA NOS AÇORES TERÍAMOS CASAS-MUSEU 26.10.2021
Já em 2003, recém-chegado da Austrália, imaginei Portugal com roteiros culturais dedicados aos seus autores, como então escrevi em “A língua portuguesa e a UE alargada”, 2003-06-02 Revista ELO |
Quem se lembrou de incluir roteiros turísticos literários a locais celebrizados pelos monstros sagrados da literatura dos sécs XIX e XX? Alguns constam dos vulgares roteiros paisagísticos, mas falta organizar a leitura desses autores, e a divulgação nesses locais [como em abril 2003 com o prémio Camilo Castelo Branco a Mega Ferreira]. Disponibilizavam-se traduções ou reedições (económicas, sem luxos) para os milhares de turistas que quererão vir a Portugal. Lucrava o país, editores, operadores turísticos e a língua. Podíamos começar com Saramago e um roteiro às terras de origem acompanhado de leitura de obras suas, disponibilizadas em línguas dos países da UE, passando por locais evocados em “A Cidade e as Serras” e paisagens dos Açores de Nemésio, à Brasileira de Pessoa ou a Monsanto de Fernando Namora. Convidavam-se professores jubilados que amam a Língua Portuguesa para falarem das mil e uma nuances de cada um, pedia-se aos autores vivos que disponibilizassem um dia do calendário para falar ou ler a sua obra num cenário apropriado. Estou certo de que a organização de tais eventos custaria menos do que muitas funções oficiais já agendadas.
Posteriormente, com a morte em 2008 de Dias de Melo e de Daniel de Sá em 2013 propugno a criação de casas-museu como forma de homenagear aqueles autores e a sua obra, uma na Calheta de Nesquim e outra na Maia micaelense. Agora que o Cristóvão de Aguiar abandonou as vestes terrenas, e depois de falar com os filhos reitero a necessidade de uma Casa-Museu na localidade de S. Miguel Arcanjo, São Roque do Pico para onde ele se mudou na década de 1990 e ali fez a sua segunda casa. Os filhos estão dispostos a repor toda a sua biblioteca e manter a casa tal como estava quando ele a habitava a fim de que possa ser convertida num local dedicado ao autor e às suas obras. (mas face ao desinteresse do governo regional e autarquias, a casa foi vendida.) Se a região autónoma dos Açores tivesse uma verdadeira Secretaria da Cultura esta deveria inscrever já no orçamento regional montantes destinados a adquirir as casas daqueles autores e convertê-las em Casa-Museu. Uma região que não honra a memória dos seus maiores nas letras e artes não pode arrogar-se o direito de falar na sua história e muitos menos dizer que tem cultura. É essa visão que sempre faltou a esta autonomia envergonhada em que vivemos. Propositadamente deixei de fora todos os outros autores que merecem idêntico tratamento e concentro-me nestes três pois com eles lidei e deram contributo de relevo aos nossos Colóquios da Lusofonia. Se o governo não quiser, que seja a autarquia de São Roque do Pico a tomar a dianteira e a iniciativa e a ficar na vanguarda desta merecida homenagem ao prolífico autor Cristóvão de Aguiar. Fico à espera.