Uma Vida aventurada … 1924-2020
Nascido a 4 de setembro de 1924, Victor Manuel Caetano viveu uma vida de aventuras. A maior de todas, foi quando aos 26 anos, resolveu partir para os Estados Unidos da América, num barquinho construído com as próprias mãos, media apenas 6 metros de uma ponta à outra à vela e remos. História esta, que depois de tanto ouvida, no seio familiar, passou quase como se de uma lenda se tratasse. Mas esta era bem diferente, esta era contada pelo próprio, o que vivenciou e sentiu na pele todas as tormentas que foi atravessar um oceano rumo ao desconhecido, rumo ao que todos diziam ser a ”terra prometida”.
Ouvir da boca dele, para nós, era um orgulho. Ter na família um homem que se aventurou sem saber o seu destino, rumo ao que pensava ser o melhor para a sua família e para ele próprio. Victor Caetano e Evaristo Gaspar, partiram de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, a 28 de junho de 1951 e chegaram a 4 de setembro aos Estados Unidos, onde foram recebidos como heróis, depois de terem sido dados como mortos. Sim, a travessia não foi simples, contava ele, “ao fim de umas semanas já não havia comida e os tubarões já circundavam o barco”…” Valeu-nos um cagueiro junto às Bermudas que nos salvou”…
Contava ainda, muito orgulhoso, que depois de tal proeza conheceu John F. Kennedy o qual lhe foi apresentado numa festa para assinalar o aniversário da igreja portuguesa de Cambridge, num dos maiores hotéis de Boston. Isto porque, dizia Victor, “foi John F. Kennedy, à data congressista pelo estado de Massachusetts, que assegurou-me que iria empenhar-se na minha legalização para ficar no país pois tinha ficado fascinado com a minha aventura marítima”. “Ele ficou admirado com a nossa história. Ele próprio contou-me como ficou ferido durante a II Guerra Mundial, num barco de patrulha. Todos os anos, graças a JFK, eu renovava os meus documentos e, quando faltavam sete dias para os cinco anos (período necessário para obter a cidadania), tornei-me cidadão americano”, acabando sempre por dizer: “Nunca conheci homem como ele”.
Esta e muitas outras histórias eram contadas por ele e sempre comprovadas com os documentos e fotos que tinha em sua posse exibindo-os sempre orgulhosamente.
Quis sempre ajudar a sua família, viu todos os seus netos casarem e fazerem vida, netos dos seus três filhos que deixou para trás quando se pôs ao mar, mas que nunca esqueceu, teve a felicidade de conhecer ainda 5 bisnetos.
A maior parte da vida, foi um exemplo para muitos, mas como todos os seres humanos também errou, mas isto não fez dele menor ser humano, pelo contrário mostrou e deu o exemplo do que é certo e errado…
Desta vez, aos 95 anos, a vida quis que passasse por mais uma aventura, a fragilidade da idade, apesar de aparentemente parecer aquele homem forte que sempre foi, fez com que tombasse. Desta vez, partiu para a sua última aventura, navegou na sua última viagem…
Certamente deixará muitas saudades entre os seus.
Como neto deixo o meu pesar pela sua grande falta, pois sempre foi um homem que admirei!
Com muito amor, até sempre Avô Victor…
Ponta Delgada, 31 de março de 2020
Michael Paul Caetano