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Comprei em Macau, o M-61-63, o primeiro carro a ficar oficialmente registado em meu nome. Tratava-se de um Fiat 128 3-P Coupé-S, 1100 cc, todo artilhado, cabeça rebaixada e com uma potência surpreendente que me iria servir durante ano e meio ou dois. Estive quase a inscrever-me no Grande Prémio de Macau dadas as suas capacidades desportivas. Mais tarde, este potente carro viria a ser lentamente assassinado com quilos de sal no depósito de gasolina, quando as seitas resolveram adicionar sal à gasolina, em vingança por ter cortado um dos esquemas de extorsão a candidatos a funcionários.
Essa mistura imagética combina culturas e sons e persegue-me com a sua mística enleante, esta melopeia atrai-me, chama-me e seduz-me em cabaias provocantes, pede-me que a descubra como outrora a descobriram os portugueses que por ali andaram há quinhentos anos. Macau é nome de mulher, de deusa, de sereia, religião, amores por mitigar. Agora, em vez de uma imagem mítica de uma Macau retrógrada e com algumas pinceladas portuguesas, surge uma nova identidade mais embiocada, voltada ao futuro, à imparável rapidez do progresso: prédios construídos com andaimes de bambu, estradas, pontes e túneis, aterros e junção de ilhas. Da vontade de criar coisas novas sem descurar a herança do passado que marca a diferença entre esta urbe e as restantes megalópoles asiáticas. Nela, reavistei alguns esconsos lugares que guardei na memória velha de trinta anos, e redescobri uma cidade nova pujante de vida e de futuro, onde dantes habitavam fantasmas de passados coloniais cheios de plumas ocas de governantes, meros tigres de papel como aqueles papagaios de seda que se levam à praia de Hác Sa para voar ao domingo.
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