faleceu o nosso patrono e Presidente Honorário João Malaca Casteleiro

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acabo de saber com imensa mágoa, tristeza infinda, e incredulidade, que um dos homens que mais admirava e que tanto nos ajudou desde 2007 nos colóquios da lusofonia, nos deixou dia 7 de fevereiro (não tenho mais detalhes)….faleceu o nosso patrono e Presidente Honorário João Malaca Casteleiro
`A Conceição os nossos votos de solidariedade neste momento difícil. Recordo algumas imagens dos últimos seis anos em que conviveu connosco e esteve sempre presente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

nota do Público dia 10.2.20

João Malaca Casteleiro (1936-2020), mais do que obreiro do acordo ortográfico

Ficará conhecido como o ‘pai’ do Acordo Ortográfico, mas o seu papel na coordenação do dicionário da Academia das Ciências é talvez a sua grande marca. João Malaca Casteleiro tinha 83 anos.. Não foram para já adiantados pormenores sobre as cerimónias fúnebres do linguista.

O linguista João Malaca Casteleiro, coordenador do dicionário da Academia das Ciências e figura central do novo Acordo Ortográfico, morreu na sexta-feira, aos 83 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, onde estava internado, confirmou neste domingo ao PÚBLICO o jornalista e investigador António Valdemar, amigo do professor catedrático.

Pela exposição mediática do Acordo Ortográfico, é provável que venha a ser recordado por ter sido um dos principais responsáveis pela elaboração do respectivo acordo em 1990 – que viria a entrar em vigor em Portugal em 2009. Mas para quem com ele privou, e acompanhou o seu percurso profissional, mais significativa foi a coordenação científica do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, que viria a ser publicado em 2001, resultante de 12 anos de trabalho.

“Ele coordenou, e interveio activamente, na elaboração do dicionário que estava há 200 anos parado, o que é uma grande marca”, reflecte António Valdemar. “O [Almeida] Garrett dizia que o dicionário começava em A e tinha acabado em ‘azurrar’. Depois o [crítico literário, ensaísta e professor] Jacinto Prado Coelho fez uma tentativa, há cerca de 50 anos, de um 1.º volume para não acabar em ‘azurrar’, e o [linguista] Lindley Cintra fez uma diligência, mas quem concluiu o dicionário foi o Malaca Casteleiro. Havia uma espécie de maldição que vinha desde o tempo do Garrett e a sua acção foi determinante.”
Mas como se escrevia no PÚBLICO na época, passada uma semana do lançamento o dicionário já estava envolto em polémica e foi contestado por outros especialistas.
Com as investigadoras Maria de Lourdes Crispim e Maria Francisca Xavier, João Malaca Casteleiro trabalhou também no Dicionário da Língua Portuguesa Medieval.
No Acordo Ortográfico defendeu que a unificação do português era uma medida de pragmatismo que visava, acima de tudo, promover a língua portuguesa no mundo, ao mesmo tempo que facilitaria “a comunicação entre os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa..” Em 2008, dizia ao PÚBLICO que no “plano da lusofonia interna é lamentável que não exista um acordo”, argumentando que a língua portuguesa “é a única com duas variantes que têm de ser traduzidas nas Nações Unidas.”
Apesar das polémicas que enfrentou, recusou sempre qualquer cenário de se voltar atrás, mantendo-se como defensor do Acordo, do qual foi o principal responsável da Academia das Ciências de Lisboa, pela elaboração do documento e autor do anexo de seis páginas que o encerra, acreditando que poderia “fortalecer a lusofonia” e “promover o idioma em todos os países” e organismos internacionais. “Ele deu o seu contributo para o acordo, que não é perfeito, mas nenhum acordo o é. Assumiu uma posição sujeita a todas as controvérsias.. Mas espero que não seja recordado apenas por isso”, sintetiza António Valdemar.
Natural de Teixoso, Covilhã, licenciou-se em Filologia Românica em 1961, tendo obtido o doutoramento pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1979, com uma dissertação sobre a sintaxe da língua portuguesa. Professor catedrático naquela faculdade desde 1981 e membro da Academia das Ciências de Lisboa, foi também director de investigação do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, conselheiro científico do Instituto Nacional de Investigação Cientifica e presidiu ao Conselho Científico da Faculdade entre 1984 e 1987. Foi ainda presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia entre 1991 e 2008. Em 2001 foi feito grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
A 5 de Maio próximo, no Dia Mundial da Língua Portuguesa, no âmbito de um colóquio a efectuar na Academia das Ciências, em Lisboa, António Valdemar irá realizar uma intervenção de evocação a Malaca Casteleiro. “Tinha proposto ao professor Telmo Verdelho, que preside à comissão, que se fizesse isso há algum tempo. Agora é importante salientar a importância da sua obra, sobretudo a coordenação do dicionário.”

João Malaca Casteleiro (1936-2020), mais do que obreiro do acordo ortográfico

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[LER MAIS “Acordo Ortográfico é uma medida pragmática”, diz Malaca Casteleiro | Portugal | PÚBLICO]

Crónica 316 Eulogia ao Mestre Malaca

Há textos que jamais se espera escrever e este é um deles. Dia 7 de fevereiro 2020 é um dia muito triste, vinte e oito anos e um dia depois da morte do meu pai morreu um dos meus mentores, uma pessoa que muito estimava e que me honrava com a sua amizade.

Escrevo estas linhas, a quente, pouco depois de ter sabido da notícia e tenho pena de não ter acedido aos pedidos dos associados da AICL, Luciano Pereira e do Rolf Kemmler em 2018, quando propuseram fazer uma homenagem aos nossos dois patronos, e decidimos que eles fossem (na nossa assembleia-geral de 2019) nomeados nossos Presidentes Honorários e continuassem como Patronos. Esperava eu que a sua longevidade nos permitisse fazer essa homenagem num colóquio inteiramente dedicado a ambos.

Claro que os homenageamos a ambos durante os anos em que com eles aprendemos tanto quando, connosco, humildemente partilhavam o seu saber.

O Professor João Malaca Casteleiro surgiu no nosso seio em outubro 2007 com Evanildo Bechara quando ambos aceitaram o meu ousado convite a estarem presentes, e lembro-me, como se fosse hoje, que depois de um dos jantares, no Poças em Bragança, quando regressávamos a pé, à velhinha Residencial Classis onde estávamos todos alojados, eles me perguntarem já perto da meia-noite se eu os queria aceitar como nossos patronos, dado que o primeiro patrono JOSÉ AUGUSTO SEABRA falecera em 2004. Nem queria acreditar que a sorte nos bafejara naquela conversa informal, quando eu me queixava da falta de visibilidade do 8º colóquio em 2007.

Logo a seguir, fruto desse mesmo colóquio em Bragança, a comunicação social daria tanto relevo ao acordo ortográfico de 1990 que ali se debatera, que prontamente o estado português o ratificou e começou a implementar. A partir desse momento, durante anos a fio, em escolas, universidades, colóquios, Malaca Casteleiro e Evanildo Bechara eram as faces mais visíveis dos colóquios e do AO 1990, da Galiza a Portugal, Brasil, Macau, catapultando estes colóquios para a ribalta.

Durante os primeiros anos estabelecemos as metas necessárias para que a novel Academia Galega da Linga Portuguesa se pusesse de pé e frutificasse e a sua palavra e as suas estratégias ajudaram a conseguir o que poucos acreditavam ser possível numa Galiza espanholizada e castelhanizada linguisticamente.

Quando em outubro de 2010 fomos vítimas de uma ameaça da Câmara Municipal de Bragança de tomar conta dos nossos colóquios encontrei em ambos, o apoio necessário para avançar a todo o gás para a nossa associação, a AICL, garantindo os direitos de autor do nosso logótipo, do nosso nome e do nome dos colóquios.

Depois, foi Malaca Casteleiro quem coordenou as diligências para irmos a Macau em 2011, no ano a seguir à nossa bem-sucedida ida ao Brasil, onde marcamos presença na conferencia de Brasília da CPLP (março 2010), no Museu da Língua em São Paulo e no 13º colóquio em Florianópolis. Assim, acabaríamos por levar uma extensa comitiva de 43 participantes, dos quais 19 totalmente apoiados pelo Instituto Politécnico de Macau.

Recordo as passadas rápidas e vigorosas de Malaca Casteleiro na nossa ida ao Canadá em setembro 2012 pela Yonge St abaixo rumo à Universidade de Toronto onde a Manuela Marujo nos esperava para celebrar os 65 anos de estudos portugueses. Antes disso, em abril de 2009 na Lagoa, o nosso patrono recusara a carrinha de 9 lugares que andava numa lufa, para a frente e para trás, e decidira meter pés ao caminho que separava o teatro da Lagoa da residencial Arcanjo na vizinha Atalhada, onde estava hospedado, e quase conseguia chegar ao mesmo tempo que a viatura.

Durante os primeiros anos estabelecemos as metas necessárias para que novel Academia Galega da Linga portuguesa se pusesse de pé e frutificasse.

Já em 2016 em Montalegre, em amena cavaqueira, com ele, e a sua inseparável Conceição, perdemo-nos do nosso guia, o célebre Padre Fontes e fomos a pé cavalgando as ruas e caminhos de Vilar das Perdizes, enquanto os restantes faziam a rota cultural estabelecida.

Mais tarde quando o meu filho João foi convidado pelo Ministro da Ciência e Tecnologia a ir falar a Picoas, ao atual edifício Altice, em maio 2017 nos 30 anos do programa Ciência Viva, o Malaca e a Conceição lá estavam, a partilhar o meu orgulho imenso, jantando connosco e ficando em amena cavaqueira até altas horas quando fecharam o bar do Hotel.

E sempre estiveram connosco desde 2007, menos no ano de 2018 quando a saúde do nosso mestre e patrono o traiu e ele não pode estar presente no 29º Belmonte 2018, 30º Madalena do Pico 2018 e 32º na Graciosa 2019 (por temer a falta de condições hospitalares em caso de necessidade urgente nas ilhas). Ainda em novembro último confirmara a sua presença em Belmonte este ano…

Não vou falar da sua notável carreira, nem da sacanice da perseguição que a Academia lhe moveu nos últimos anos que nos levou em 2009 a propor uma ACADEMIA DE LETRAS DE PORTUGAL mas que infelizmente, não lograria apoios suficientes para arrancar e deixar de ser uma subserviente Secção de Letras da Academia de Ciências de Lisboa, mas recordarei sempre a sua confissão de que tinha vindo de uma família humilde e, como quase todos os desta geração, subira a pulso, fruto de muito trabalho e estudo, coisas que, indubitavelmente fazem falta hoje em dia.

Muitas vezes falamos disto, da ética de trabalho, da necessidade de sermos exigentes e perseverantes.

Guardarei comigo tudo o que partilhamos nestes 13 anos de convívio são e fico eternamente grato pelo muito que com ele aprendi. Continuará sempre como nosso patrono e Presidente Honorário, ele que presidiu à Mesa da Assembleia-Geral da AICL desde a sua fundação em 2010 até à Assembleia-Geral de 2019 e deixo aqui em imagens a sua passagem no nosso seio, que tanto nos ajudou e influenciou. [1]

Chrys Chrystello, 9.2.2020

Presidente da Direção da AICL, Colóquios da Lusofonia

[1] As imagens serão projetadas no 33º colóquio em abril 20202 Belmonteé o 2º mentor e 2º patrono dos colóquios que nos deixa….jose augusto Seabra em 2004 e agora o Malaca..