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Com os aviões a levantar voo para as praias os pais da classe média sobrante e das classes proprietárias já colocaram os filhos em ensino presencial com explicadores privados, um luxo que pode chegar aos 500 euros por mês em disciplinas fundamentais. Sabendo que no ensino online o futuro dos filhos está em causa.
Os outros todos, filhos da imensa maioria dos salários e PMEs falecidas, layofs, foram sujeitos ao “ensino” online, onde nada aprenderam. Facto que o Ministério acabou por confessar esta semana ao assumir que os que vão fazer exame podem escolher as perguntas que vão responder, e destas, os professores ainda podem seleccionar as mais bem elaborados – é a confissão pública de que não há “ensino” online e tudo falhou. Estivemos dois meses a esgotar professores e alunos, contrariando todas as indicações médicas de exposição a ecrãs, levámos famílias inteiras à beira da loucura em teletrabalho e teleensino, para no fim vir dizer que afinal há exames, mas ninguém será examinado.
Os municípios já assinaram contratos milionários, porventura com ajustes directos, para comprar mais computadores e testes online e livros online. Quem pode paga para tirar os filhos dos computadores e assim transmitir-lhes conhecimento.
Como alguém dizia ontem aqui nas redes sociais os ricos vivem a vida, os pobres vêem nas redes sociais a vida que vivem dos ricos. Uns passeiam e aprendem e namoram, outros vêm fotos dos outros a aprender, namorar e passear.
Nunca o conceito de alienação, coisificação (reificação), regressão da humanidade a uma mera mercadoria, um objeto, foi tão longe como nesta experiência de “ensino” online em que fizeram de professores, pais e alunos cobaias de uma solução obscura, que vende bem. Contra a ciência, a pedagogia, a neurologia, enfim.
Estamos num retrocesso a caminho da idade média em que não há livros proibidos – nem é necessário. É impossível para a vasta maioria aprender a ler livros, pensar, refletir, conhecer e assim ser livres. Eles devem saber apenas carregar o botão, que o computador pensará por eles. A rigor, com estas medidas, é impossível falarmos de democracia. É que se o Governo diz que não há democracia sem jornais o que dizer quando há jornais mas há cada vez menos cidadãos educados com conhecimento, capaz de pensar os jornais, escrevê-los, e lê-los, reflectir sobre o que lá está, e criticá-los?