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Transparência José Soares
As lágrimas de Deus
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), depois de reunida para discutir vários assuntos da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), decidiu mandar investigar os casos de abusos sexuais – ou outros – praticados no seio da Instituição.
Parece-nos ridícula esta decisão de mandar o lobo guardar as ovelhas.
A comissão que será indigitada de o fazer, terá sempre de se manter em contato com os responsáveis bispos, que acompanharão todos os trabalhos da tal comissão a formar proximamente por pessoas convidadas pelos próprios.
Não nos parece de bom senso tal atitude, a não ser que a mesma seja justificada com toda a espécie de receios do que aí venha na investigação a fazer.
Muitos são os cronistas, escritores, jornalistas, comentadores e outros, que desde há muitos anos alertam para muitas situações no geral e algumas até em concreto. Eu próprio, na minha condição de agnóstico “esta doutrina que declara o absoluto ou as questões metafísicas inacessíveis ao espírito humano, por não serem passíveis de análise pela razão”, escrevi inúmeros trabalhos jornalísticos sobre o assunto, sendo um deles a 30 de abril de 2002, no jornal Açoriano Oriental, com o título “Muro das Lamentações” e ainda recentemente neste jornal uma crónica sob o título “Holocausto católico”, onde falava do relatório resultado das investigações em França, bem como dos números assustadores que tal relatório revelou.
E foi a dimensão deste caso que moveu, enfim, os bispos portugueses a fazerem algo parecido. Digo algo parecido porque não acredito que sejam capazes de tornar pública a verdadeira dimensão do problema em Portugal, que não sendo menor do que em qualquer outra parte, tem sido menosprezada e abafada até agora.
Há mais de cinquenta anos que tenho conhecimento de vários casos, tanto por investigação feita sobre o assunto, como por queixas recebidas de muitas pessoas que me abordavam para confidenciarem o assunto. Muitos agressores e vítimas já não fazem parte deste mundo e foi muito conveniente a Igreja de Roma só agora vir fazer comissões em França, Portugal ou noutro sítio do mundo católico. O Papa Francisco há muito que sabe destas situações.
A estratégia da ICAR sempre foi a de ignorar os seus erros o máximo, até não ser mais possível esconder a cabeça na areia. Ao levantar do véu, vai ser muito penoso engolir a Verdade, Ressurreição e Vida…, ninguém vai ao Pai senão por mim.
Sobre a dita comissão a formar agora em Portugal, os bispos escrevem:
“A comissão responsável por essa investigação, deve ser composta exclusivamente por leigos católicos, por não crentes, por profissionais das ciências sociais e da justiça, cuja autonomia e independência sejam absolutamente inquestionáveis”, admitindo, no entanto, a assessoria de “algum elemento do clero”.
Portanto, admitem que vão assessorar (controlar) os danos o máximo possível.
Esperemos para ver o que vai acontecer. Por ora, merecem o benefício das nossas dúvidas.
lusologias@gmail.com