CÉSAR E DINASTIA POLÍTICA NO PS AÇORES

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Vejo uma esquerda desunificada, desnutrida e enfraquecida.
Pensar que a coligação pudesse ficar sequer à frente da Sónia Nicolau foi apenas um sonho molhado do PS. Aliás, nem eles próprios acreditavam nisso.
Isabel Rodrigues não renunciou por gesto nobre.
Foi calculismo, mas lá conseguiu sair com alguma elegância. Ela bem sabia que não ia vencer e, mesmo que em sonhos vencesse, estaria sempre condicionada ao poder de César. No fim, cumpriu o seu papel, protegeu a sua imagem, evitou uma humilhação e saiu de fininho.
Enquanto o Cesarismo for o brasão da família socialista, a liderança centralizada continuará a controlar o fluxo de poder e de ideias dentro do partido. Que o digam a mulher, o irmão, o filho, a nora e o primo de Carlos César. E esse controlo absoluto impede renovação, inovação e a unificação dentro do PS.
E não é por acaso que, com tantos traidores e oportunistas dentro do partido, nenhum consiga ou queira derrubar os César. O Cesarismo está enraizado, tem poder, presença pública e é símbolo do próprio PS. E, convenhamos, dá jeito a muitos camaradas.
Soa até a filme de mafiosos, mas ao longo dos anos, Carlos César criou ligações, amizades e aliados poderosos, e colocou familiares em cargos estratégicos. Assim, mantém a lealdade dentro do partido, dificulta oposição interna e consolida a sua linhagem na política.
É o “padrinho” disto tudo e não é do interesse de muitos camaradas irem contra ele.
Vai ser difícil descontaminar o PS.
Só alguém com coragem, carisma e fiel aos valores e princípios socialistas conseguirá unir a esquerda, livrar o PS dos oportunistas e acabar com o Cesarismo no partido… de dentro para fora.

algumas obras do autor

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May be an image of text that says "MELHOR DO QUE SER CONHECIDO, É SER UMA PESSOA QUE VALE A PENA CONHECER"

A família

A família : o desafio da diversidade / Adelina Gimeno ; trad. Chrys Chrystello. – Lisboa : Instituto Piaget, D.L. 2003. – 335, [4] p. ; 24 cm. – (Epistemologia e sociedade ; 197). – Tít. orig.: La familia: el desafio de la diversidad. – Bibliografia, p. 319-326. – ISBN 972-771-596-6
Link persistente: http://id.bnportugal.gov.pt/bib/bibnacional/1166364 Copiar link

A Família - O Desafio da Diversidade de Adelina Gimeno - Livro - WOOK

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destes autores: Adelina Gimeno Collado , J. Chrys Chrystello
destes temas:
316.35(075) (sociologia, política, direito, educação, etnografia, …)
316.47(075)
deste editor: Instituto Piaget
desta coleção: Epistemologia e sociedade

https://bibliografia.bnportugal.gov.pt/bnp/bnp.exe/q?mfn=88019&qf_AU==CHRYSTELLO%2C%20J.%20CHRYS%2C%201949-

lendas da minha Galiza (lomba da maia, dez.º 2011) poema de chrys c

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1. lendas da minha Galiza (lomba da maia, dez.º 2011)

Galiza és tão especial quando sorris

por que não sorris sempre?

Galiza és tão bela quando escarneces com gargalhadas cristalinas

por que não ris sempre?

Galiza és tão enamorada quando falas e cicias

por que não tagarelas sempre?

no monte das Ánimas

na era dos Templários

os cervos eram livres

e os servos escravos

do poço no meu eido

transbordam palavras

dele sorvo inspiração

amores e mouras encantadas

lá aprendi a história de Ith

filho de Breogán

indo à Torre de Hércules

seduzir Eirin a Verde

este conto queda silente

na memória dos velhos

já não o aprendem os nenos

li em livros vetustos

o sumiço das Cassitérides

eram cativos os Ártabros

nas forjas de estanho

não encontrei os mapas

no meu poço seco e definhado

nem um fio de água

sem pardais nas árvores

nem flores no jardim

senti o coração trespassado

as lágrimas minguaram

jamais haveria fadas ou sereias

cronópios e polinópios

fui penar ao cimo do monte

 

pios e polinia fadas ou sereias

atopei umas Meigas

a dançar com o Dianho

também vi o Chupacabras

estandarte de Castela

sem medo de travessuras de Trasgos

nem Marimanta ou Dama de Castro

sem temor da Santa Companhaa Santa Companhatravessuras de Trasgosa

nem do Nubeiro vagueando

entre tempestades e tormentas

juntei ferraduras, alho e sal

colares de conchas e tesouras abertas

esconjurei meigas castelhanas

que me salve o burro farinheiro

ou o banho santo em Lanzada[1]

visitei Santo Andrés de Teixido

duas vezes de morto

que não o visitei uma de vivo

desci a Ribadavia

ali nasce o Minho

que ora passa caladinho

para não despertar os meninos

sigo caminhando

busco a moura fiandeira

um dia virá o eco

e brotará áuga do meu poço

escreverei os versos e serão mágicos

afincado no chão

erguerei a tua flâmula

no poste mais alto e cantarei

Galiza livre sempre.

 

[1] (Sansenxo)

vontade é partir. projetos para uma utopia (poema de chrys c de fevº 1976)

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vontade é partir. projetos para uma utopia (fevº 1976)

https://blog.lusofonias.net/wp-content/uploads/2025/10/vontade-e-partir.pdf

vontade é partir. projetos para uma utopia (fevº 1976)

 

improvisa um despertar

nada tens aqui de teu

nada podes perder

quando nada tens

só a solidão pode perdoar

improvisa um despertar

dele será a tua luta

quotidiana

cobardes

inermes

inertes

e outros

bichos-de-sem-vontade

mero adorno

objeto a marginalizar

vontade é partir

tu

as alturas e as muralhas

montanhas do teu ser

vontade é erguer novo

tu

mundo dos filhos sonhados

habitantes futuros

improvisa um despertar

e parte!

o que é novo

o que é mundo

não espera

tu desesperas

parte já

novo o queres

logo é já amanhã

demasiado tarde

vontade é partir

fly me into the earth

plastic world

tudo é plástico

até o céu azul-metileno

as ruas

as casas

as próprias pessoas

no deposit on return useless as everything else

people to throw away pure waste everything’s plastic

até eu escrevo no plástico papel

com uma esferoplastográfica

vontade é partir

vivemos num mundo uniforme

sem classes só lutas

tudo é meramente igual

constante matemática complexa

a igualdade do ser ao plástico

vontade é partir

levem-me daqui

fly me

take me away

to longtime lost and forgotten worlds

matthew and son

o gato esteves

ainda hoje é voz

mas sem nome de cat stevens

terna expressão

diz-nos das mãos cansadas

trabalho de dias sem fim

em troca de quase nada ou nada

led zeppelin e a propulsão do hélio

pelo mundo toda a mensagem

whole lotta love

resultados trágicos

inesperados

vontade é partir

confundidos com a vinda do messias

os judeus de Israel

tomaram de assalto o sinai

sinal de quem espera amor

o todo total dos lados do suez

cá em baixo do céu

mulher

amor

nem de plástico

e tudo é azul

no calor tranquilo

modorrento da família

amoleces na indecisão

vontade é partir

deixa o hábito onde o usaste

sempre

num cabide

esquece-te dele

deixa passados por ressuscitar

sonhos irrealistas

qualquer passado

é futuro de triste presente

não é livre como o vento

nem raiz no pensamento

vontade é partir

como quem regressa

saber do hoje

o percurso frustre

 

O CERCO APERTA

andamento 1º

sou este cavalo louco

desfilo nas noites

cavalgo ideias

ignoro donos e senhores

sei da liberdade esta vontade

voz incómoda jamais obnubilada

et ça

ça suffit

andamento 2º

prometa a salvaguarda dos interesses

retome a louca compostura do silêncio

diálogos cruzados

impostor! anarquista!

destruidor premeditado da sociedade!

novo e ingénuo levado por utopias

belas e impraticáveis

pretendo a sociedade e não estereótipos

as estruturas disfarçam jogos subterrâneos

a estabilidade estagnante

é preciso reinventar a vida

entre os dois primeiros seres

partir numa conjugação correta do zero

abolir dogmas quaisquer que sejam

ordenar o código geral não-penal

andamento 3º

sem donos nem senhores

desfilada na noite

da libertação conheces utopias

tua a voz

incómoda

perdida a louca compostura

do silêncio

a vida no grau zero do zen.

 

 

sobre o monumento à vaca e a Capital da Cultur

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commented.
Ainda sobre o monumento à vaca e a Capital da Cultura deixo aqui a minha resposta a uma pergunta do Paulo Do Nascimento Cabral no mural do Luis Filipe Franco porque a pergunta me parece pertinente e acho que é uma discussão que deve ser tida…
“Não concorda que a agricultura também faz parte da nossa cultura e identidade?”
Caro Paulo Do Nascimento Cabral Não, não concordo. Nem me parece que a identidade possa ser reduzida, ou sintetizada, se quisermos, a algo tão básico ou, mesmo, folclórico como a vaca ou o atum-patudo. Acho, aliás, que essa ideia deve ser combatida, sobretudo no contexto dos discursos identitários regionais, que tantas vezes tendem a cristalizar a identidade em imagens cómodas e estereotipadas, e que, no limite, cerceiam a liberdade criativa e a pluralidade do pensamento.
Na minha modesta opinião, a identidade é um movimento dinâmico, que não se reduz à agricultura nem a qualquer outro elemento isolado, como o mar, as vacas, o verde ou a bruma. A identidade é algo múltiplo e em constante reconstrução. A agricultura pode fazer parte da história e da paisagem, mas não é, nem nunca foi, a totalidade da experiência de ser de Ponta Delgada, ou mesmo dos Açores, nem sequer a sua essência.
E, a sê-lo, por hipótese, e no que estritamente tem a ver com este monumento à vaca, teria então de incluir o chá, o ananás, a laranja, o pastel, o trigo, as baleias e os atuns… se é que queremos, de facto, prestar homenagem à história dos Açores que ajudou a construir a sua identidade.
Essa visão instrumental da “identidade”, enquanto decoração naïve e folclórica, com tudo o que o folclore tem de mau e retrógrado, usada como adorno turístico, argumento político ou símbolo de uma autenticidade vazia, é um fator de atraso cultural. É, aliás, a antítese do que deve ser a Cultura. Em vez de aceitar o cliché do “povo ligado à terra”, pode-se, e deve-se, no meu entender, defender uma identidade feita acima de tudo de contradições urbanas e rurais, tensões sociais, transformações culturais e desafios contemporâneos, onde a paisagem, e a agricultura, se quisermos, ou até a monocultura da vaca, sejam antes lugares de debate e de discussão, em vez de unanimismos identitários e celebratórios.
Eu sei que é tentador reduzir a identidade a uma imagem simples e redutora, o campo, o mar, as vacas, o verde e a bruma. Há sempre uma certa nostalgia que procura conforto nesse retrato bucólico e pastoril de nós mesmos, como se bastasse a agricultura para explicar quem somos ou o bailado da garça para brindar a nossa melancolia intrínseca. Mas essa síntese folclórica é uma ilusão, por mais conveniente que seja. Oferece uma ideia estável de pertença, mas oculta as mudanças reais e as pressões que moldam o presente, onde a vaca, aliás, tal como o turismo, são fatores de dualidade e ambivalência e não de coesão identitária.
A identidade não é, nem pode ser, um museu de tradições, nem um catálogo de símbolos. É um processo vivo, feito de tensões e contradições entre o urbano e o rural, o passado e o futuro, o centro e a periferia. Posso até recomendar um pequeno livro que trata exatamente desta matéria e está à venda na Livraria SolMar
Ponta Delgada não é apenas a memória da terra lavrada: é também o eco da cidade em transformação, onde o quotidiano já não cabe no seu substrato rural nem nas molduras dos postais turísticos, muito menos no slogan pueril das “vacas felizes”.
A razão por que esta matéria causa tanta estranheza é precisamente a alta expectativa e ambição com que os agentes culturais de Ponta Delgada, e dos Açores, julgo eu, aguardavam um evento tão impactante como Ponta Delgada Capital da Cultura. Perceber, logo no seu início, que está a ser tratado com tamanha frivolidade, numa mistura de marketing empresarial com folclore identitário, é não só desgostoso, como perturbante.

Cristina Ataíde vai criar escultura de homenagem aos produtores de leite açorianos – jornalacores9.pt

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A artista Cristina Ataíde vai criar a escultura pública de homenagem aos produtores de leite açorianos, iniciativa integrada na programação oficial de Ponta Delgada – Capital Portuguesa da Cultura 2026 (PDL26), em parceria com a Bel Portugal. O anúncio foi feito hoje durante a conferência “Cultura, Educação e Território no Lugar do Amanhã”, no auditório […]

Source: Cristina Ataíde vai criar escultura de homenagem aos produtores de leite açorianos – jornalacores9.pt

Timor oriental, au pays des crocodiles – Regarder le documentaire complet | ARTE

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Le Timor oriental est le plus jeune État d’Asie – il a obtenu son indépendance en 2002. Dans ce pays, la nouvelle génération s’attelle à protéger une nature encore préservée, où évoluent de rares espèces animales, dont le célèbre crocodile marin, ancêtre vénéré de l’île devenu aujourd’hui monstre tueur.

Source: Timor oriental, au pays des crocodiles – Regarder le documentaire complet | ARTE

wc no avião descarrega na atmosfera?

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On a 747 long-haul flight, each passenger uses the toilet an average of 2.4 times, resulting in 870 liters of excrement. This is roughly equivalent to the capacity of a four-person jacuzzi.

There is a huge amount of unwanted material, and processing it all requires miraculous engineering techniques.

This is where the flush function of the airplane toilet comes in handy.

These toilets currently don’t work with traditional siphons and water.

As early as 1982, new toilets began to be installed on airplanes. The toilet featured a non-stick toilet bowl that used a blue substance called SkyChem instead of water, and a powerful vacuum suction device that left almost nothing in the toilet bowl.

Skykem helps to eliminate bad odors and disinfect toilet bowls. What’s more, vacuum toilets use much less water than siphon toilets, are much lighter, and can be installed in a variety of ways, increasing fuel and space efficiency. This is two very important factors on an airplane.

When flushed, the trapdoor at the bottom of the toilet bowl opens, filling it with Skykem liquid. The loud noise you hear when running water is not, as many people think, the sound of a trapdoor opening outside. It’s simply the sound of vacuum suction, like a large vacuum cleaner.

Waste sucked in through holes in the toilet bowl travels through pipes to the rear of the aircraft and ends up in tanks that can only be accessed from outside the aircraft. Even if they wanted to, pilots would not be able to empty this tank in flight.

When the plane lands on the ground, the tank is emptied with a special tanker truck. Tank trucks attach hoses to airplanes and vacuum up waste. When an airplane tank is empty, it is cleaned with disinfectant.

However, in the past there have been a number of accidents in which waste from airplane toilets fell from the sky and into houses.

This was a common problem in the 60s and 70s, when airplane toilet pipes were not sealed properly, causing leaks. Urine and excrement mixed with Skykem and leaked out of the pipes, usually near the rear landing gear and onto the outside of the plane.

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Frank Alabastro

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somos todos idiotas

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Somos todos “os idiotas”
« (…) As redes sociais industrializaram o reflexo idiota. O algoritmo necessita de que estejamos convictos de que o outro é um idiota, pois rentabiliza e monetariza essa certeza. (…)»
[Luís Pedro Nunes, “Expressso”, 16/10/2025]
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«É evidente, óbvio e indiscutível que o idiota, os idiotas são os outros. Sempre. Estou mais do que absolvido. Aquele ataque de raiva no trânsito que tive ali atrás? Estava com pressa. E tinha razão. Basta o dia horrível que tive.
O outro tipo era um asno. Há neste “reflexo idiota” um instinto automático e um equívoco cognitivo de milissegundos: explicamos os nossos erros pelas circunstâncias, mas os dos outros pelo carácter. Uma economia emocio­nal de autopreservação, pois poupa-nos a chatice de admitir falhas. Só que o preço a pagar é a empatia. Absolvo-me automaticamente mas nem tento perceber o outro.
O exemplo da estrada — a road rage, a fúria no trânsito — serve bem porque está estudado, mesmo a nível neurológico, o motivo que explica como pessoas pacatas passam de repente a “ver tudo a vermelho”. E assenta nesse princípio primevo de sobrevivência e reação, que hoje se resume a atacar o outro ao desconsiderá-lo em termos de carácter: “É um idiota”.
O problema é que essa “certeza moral” passou para a política e para a sociedade e tornou-se na base de toda a polarização: cada um “sabe ver o mundo melhor do que o outro”. O problema são sempre os outros, e o outro é um idiota, logo quero odiá-lo e assim necessito dele para existir.
É aqui, diz Amanda Ripley, autora do livro “High Conflict”, que o conflito passa a ser a nossa própria identidade. E é isso que nos está a acontecer. Ou já aconteceu. Vivemos para estar em conflito com o outro, que tentamos desvalorizar. Somos algo em função daquilo que ofendemos nos outros: os idiotas. Muitos dirão que nada disto é novo, a teoria. De Nietzsche a Sartre, o homem moral sempre precisou de um culpado ou sempre soube que o inferno foram os outros.
Mas há uma alteração crucial que transcende a filosofia e a análise social. É que este mecanismo é um atalho evolutivo do cérebro, em que a amígdala cerebral dispara antes de pensarmos e em que inundamos o corpo de adrenalina — preparando-o para um suposto perigo. O normal seria a via lenta emocional, em que o estímulo passaria por uma rota racional pelo córtex. A raiva é um curto-circuito evolutivo. A amígdala não distingue a ameaça física da ameaça simbólica — reage a ambas com a mesma bioquímica.
E hoje temos humanos viciados num loop de indignação e raiva que proporciona um prazer moral. Essa é a resposta a esses sucessivos estímulos. E é onde o cérebro se vicia nesses estímulos que acaba por construir uma visão do mundo baseada no princípio de “os outros são idiotas”. Nas redes sociais, óbvio.
As redes sociais industrializaram o reflexo idiota. O algoritmo necessita de que estejamos convictos de que o outro é um idiota, pois rentabiliza e monetariza essa certeza — e a raiva é o modelo de negócio. Ripley, por exemplo, diz que as redes, para poderem ter lucro, funcionam como empreendedores de conflito, uma “máquina de indignação” onde se vendem certezas morais, geram cliques e fabricam inimigos.
A idiotia tornou-se relacional: eu sou inteligente porque o outro é estúpido. As redes não criaram o reflexo do idiota — apenas lhe deram megafone e esteroides. Mas a raiva é uma emoção com recompensa neuroquímica — liberta adrenalina e dopamina. E queremos cada vez mais.
As redes sociais industrializaram o reflexo idiota. O algoritmo necessita de que estejamos convictos de que o outro é um idiota, pois rentabiliza e monetariza essa certeza
Esta é verdadeiramente a embrulhada em que estamos. O “reflexo idiota” já não é algo circunscrito à raiva no trânsito. Deixou de ser um lapso cognitivo e tornou-se numa economia de atenção. Da “road rage para a rage scroll”. Em vez de buzinar, comentamos com raiva; em vez de cortar a passagem, bloqueamos; em vez de sair do carro, cancelamos.
É o mesmo mecanismo fisiológico: descarga de adrenalina, necessidade de reafirmar domínio e sensação moral de superioridade (“estou certo, logo o outro é idiota” ou o contrário).
Nas redes, este comportamento é até premiado — cada explosão moral rende atenção, reforçando o ciclo do reflexo idiota. A estrada tem faixas, o Twitter tem timelines: ambos territorializam o ego. Ultrapassar alguém é igual a contradizê-lo publicamente — ambos ameaçam o estatuto.
No “beef”, o território é simbólico: quem responde por último ou mais agressivamente reconquista o espaço social perdido. E a economia de atenção é a economia da raiva, em que o “nós” é moralmente superior ao “eles”, os idiotas. No trânsito, o outro é incompetente; na política, o outro é ignorante; na cultura, o outro é inculto.
O idiota é o motor da civilização digital. Quando falamos de polarização, de tribalismo, de divisão na sociedade, temos de pensar que, no fundo, estamos a ser manipulados através de um mecanismo de autopreservação — a raiva —, que nos serviu para sobreviver (algo chamado “sequestro da amígdala”), mas que agora é usado para odiarmos o outro sem refletirmos. A amígdala não distingue um tigre-dentes-de-sabre de um tuíte, que nos deixa o sangue a ferver.
E temos aqui uma questão grave que não estamos dispostos a aceitar: o problema poderá estar na arrogância do diagnóstico. O idiota é o espelho onde se reflete a nossa própria necessidade de superioridade. É que a solução é complexa. Num cenário destes, ser inimigo de alguém é mais confortável do que ser incerto em relação a algo.
O reflexo do idiota pode ser a lente com que se pode ler o século XXI. A indignação é a droga socialmente aceite, a raiva é o prazer mais estimulado e usado para criar identidade. O moralista é o toxicodependente da dopamina da superioridade.
E sim, estamos todos nisto. Os outros. E nós. E se não percebermos isso, estamos bem lixados. Somos todos idiotas. Eles e nós.»
[Luís Pedro Nunes, “Expressso”, 16/10/2025]