Quo Vadis Saúde?
[Saúde (do) Pública(o) (28), no Diário dos Açores de 30.07.2025]
O tema da semana: alertas, boas e péssimas notíciasNa semana passada uma notícia de saúde global destacou-se, pela sua relevância e impacto social:
o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a solidão, considerada a Nova Crise de saúde global: a solidão está a tornar-se uma epidemia silenciosa, com consequências devastadoras para a saúde física e mental.
Um relatório recente da OMS, “Da Solidão à Conexão Social: Traçando o Caminho para Sociedades Mais Saudáveis”, revelou que mais de 871 mil pessoas morrem anualmente devido aos efeitos directos e indirectos da solidão, o que equivale a mais de 100 pessoas por hora.
Há, pois, o reconhecimento de um problema crescente: a OMS, ao classificar a solidão como uma crise de saúde global, eleva este problema ao patamar de uma ameaça séria, que exige estratégias de Saúde Pública. Isto é crucial, numa Era de hiperconectividade digital, e onde, paradoxalmente, a desconexão emocional e social parecem estar a aumentar.
O Relatório sublinha a ligação da solidão com vários problemas de saúde: AVC, doenças cardíacas, demência, depressão, ansiedade, diabetes e morte prematura. Isto demonstra (mais uma vez) a complexidade da saúde humana, onde factores sociais e emocionais desempenham um papel tão importante quanto os biológicos.
Ao destacar este tema, a OMS incentiva os governos a desenvolverem políticas e programas que promovam a conexão social e combatam o isolamento. Isto levará a investimentos em infraestruturas comunitárias, programas de apoio social e estratégias de sensibilização.
Neste aspecto os Açores foram até pioneiros, quando em 2021 avançaram com o Programa “Novos Idosos”. É sempre bom lembrar.
Esta semana destaco também a recomendação de novos medicamentos, pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA). A EMA deu pareceres positivos para a aprovação de medicamentos para o tratamento do tumor de células gigantes tenossinovial (Romvimza) e um novo medicamento para o glioma de grau 2 com mutação IDH (Voranigo), entre outros. Estas recomendações significam que os doentes, na Europa, poderão ter acesso a novas opções terapêuticas para situações que, em alguns casos, são raras ou têm poucas alternativas de tratamento eficazes. Isto representa um avanço na qualidade de vida e no prognóstico, para muitos doentes.
Embora seja uma boa notícia para os doentes, a introdução de novos medicamentos, especialmente para doenças raras ou complexas, pode ter um impacto significativo nos orçamentos dos serviços de saúde nacionais. As decisões de preço e reembolso, ao nível de cada país, serão cruciais para determinar a sua acessibilidade.
Em Portugal, continua a crise nas urgências hospitalares. O Hospital de Santa Maria e o Amadora-Sintra, por exemplo, continuam a enfrentar fortes pressões nas suas urgências, com notícias de encerramentos temporários de serviços.
Em resposta a esta situação, o Ministério da Saúde autorizou a contratação de 350 médicos para as urgências, através de contratos sem termo, numa tentativa de colmatar a escassez de profissionais e responder a situações de manifesta urgência, até ao final do ano.
A escassez de profissionais de saúde, particularmente de médicos e enfermeiros, é um desafio estrutural do SNS, que se agrava com o tempo.
A contratação de 350 médicos é uma resposta de emergência, mas levanta questões sobre a sustentabilidade a longo prazo do modelo, e a necessidade de medidas mais profundas para atrair e fixar profissionais no serviço público de saúde. Este deveria ser o foco de discussão de TODOS os agentes políticos, e não situações laterais.
A homenagem da semana: mais enfermeiros nos AçoresA Secção Regional da Região Autónoma dos Açores da Ordem dos Enfermeiros (SRRAAOE) iniciou, em Ponta Delgada, o processo de inscrição dos novos Enfermeiros licenciados pela Escola Superior de Saúde da Universidade dos Açores, seguindo-se a ilha Terceira, em Angra do Heroísmo.
Segundo Pedro Soares, Presidente da SRRAAOE, “a inscrição de 65 novos enfermeiros na Ordem representa mais do que um acto formal, é a incorporação de novos profissionais essenciais para garantir o direito à saúde no arquipélago dos Açores. São peças fundamentais para reforçar as equipas de enfermagem num momento em que há uma reconhecida carência de profissionais nas unidades do Serviço Regional de Saúde”.
Indubitavelmente, uma boa notícia para @todos.
Coordenador Regional de Saúde Pública dos Açores