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A quarterly magazine on the peoples of Indonesia – cultures, politics, economy and environment
Source: Telling human rights stories on film – Inside Indonesia: The peoples and cultures of Indonesia
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Cineasta Ricardo Dias documentou a vida da mãe da nação timorense Mana Lou
Source: Cineasta Ricardo Dias documentou a vida da mãe da nação timorense Mana Lou
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Rosely Forganes
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Quatro estudantes passaram dois anos a aprender métodos de pesca atlântica em Portugal totalmente desajustados ao Pacífico. Terra calma onde nunca nada acontece e onde faltam estruturas e meios. Há incentivos negativos, fatalmente destinados ao desengano, sem hipótese de sobrevivência, morrendo uma morte lenta, tão lenta que as pessoas acreditavam que vivia. O tempo parara há muito, só as palavras viviam no engano triste do “Loké dalan foun” [caminho para o desenvolvimento], a via para a estagnação dissimulada.
Depois do misterioso desaparecimento do ‘Arbirú’ era necessária uma barcaça de 150 ton. e um rebocador. A primeira seria a ‘Lifau’, 30 m. de comprido e 180 ton. De Macau viria a “Laleia” a reboque da “Lifau” em agosto 1975 mas não foi a tempo, a guerra civil estava a começar. A lancha canhoneira “Tibar” raramente operacional, passava mais tempo na doca seca do que em água.
Tito Duarte escreveu em 28.4.2020,
“Hoje, vou dedicar o meu post ao José Rocha, e à sua meia-irmã, Telvira Dores. Na manhã do dia 28 de abril de 1973, partiu de Díli o navio “Arbirú,” construído nos estaleiros de Aveiro, propriedade do governo de Timor, destinado à cabotagem, sob o comando de José da Rocha Dores. Ia com destino a Banguecoque e, além da tripulação, levava alguns passageiros, entre eles a esposa do Capitão, Rosentina Napoleão, conhecida por Babo, e mais três senhoras: a esposa do Comandante dos portos, Pacheco Medeiros, a do gerente do BNU e a do major Viegas, algarvio. Menos de 24 horas depois, o navio deixou de comunicar, o que não era de estranhar, pois já acontecera anteriormente.
Porém, passados os doze dias, calculados para chegarem à capital da Tailândia, nada aconteceu. Passado algum tempo, iniciaram-se as buscas, quer pelos nossos dois aviões “Dove,” quer por alguns países da área. Alguns dias depois, soube-se que havia um sobrevivente, Paulo do Rosário, resgatado do mar por uma córcora da Indonésia e levado para as Flores. Pouco se soube do que ele relatou e, embora o chefe dos Serviços Meteorológicos, Dr. Manuel da Costa Alves, tenha pedido, ao Centro Meteórico de Darwin, cópias das cartas meteorológicas e das imagens obtidas por satélite, daquela zona, que provavam a evidência clara a confirmar o diagnóstico, formulado pelos colegas australianos de “que um pequeno e intenso ciclone tropical” justamente na posição indicada pelo marinheiro sobrevivente, “provava a existência de uma banda nebulosa com curvatura ciclónica perto do centro de perturbação e que pode ter originado uma tromba de água, que é, nem mais nem menos, um tornado no mar.”
O Governador, inexplicavelmente, com a colaboração da PIDE DGS, não ligou importância ao diagnóstico daquele técnico, nem o deixou dialogar com o náufrago, nem à afirmação do Comandante dos portos, nem à minha, que, então chefiava os Serviços das Alfândegas, de que o navio não tinha carregado qualquer mercadoria… nada!
Com que propósitos preferiram que se espalhasse o boato, que ainda hoje parece perdurar, de que o navio tinha sido atacado por piratas, ou pela Frelimo (incrível!), ou de transportar armas, devido a um misterioso negócio militar, de armas. Passados estes anos, penso que o propósito, de ocultar toda a verdade, terá sido para não terem que pagar indemnizações ou multas, pois o “Arbirú” destinava-se à cabotagem, por conseguinte ao longo da costa, e não a viagens de “longo curso “. Várias vezes fora a Singapura, Banguecoque, Hong Kong, ou Fremantle, na Austrália. Estarei perto ou longe da verdade? Os conhecedores do assunto, já quase todos desapareceram. É o que posso, amiga Telvira e amigo José Rocha.”
Foi isto que escrevi na altura no livro “Timor-Leste o dossier secreto 1973-1975”:
“MAIO 1973 – Em maio assiste-se a um novo mistério típico de Timor, quando o navio Arbirú deixa Díli dia 28 rumo a Hong Kong, Macau e Banguecoque e subitamente desaparece dos mares sem deixar vestígios. Com a cooperação internacional, extensas buscas são feitas pelas marinhas da Indonésia, Filipinas e Malásia mas sem resultados! Semanas mais tarde, um único sobrevivente é recolhido em circunstâncias pouco críveis.
Como sobreviveu no alto mar, infestado por tubarões e sem alimentos, permanecerá para sempre um mistério. Depois de chegar a Díli descreve com implausível detalhe as suas experiências de náufrago, deixando mais perguntas sem resposta do que aquilo a que responde. As conjeturas, então feitas, merecem apenas um vago comunicado oficial. Embora se tratasse de um cargueiro, naquela viagem transportava cerca de vinte passageiros civis, na sua maioria mulheres de oficiais do exército e senhoras da alta sociedade local.
Depois de inquirido localmente, o sobrevivente foi transferido para Lisboa para mais interrogatórios. Desconheço se alguma vez regressou a Timor. Dois anos mais tarde, começaram a surgir rumores de que alguns viúvos estariam a receber mensagens das esposas desaparecidas, mas nenhum deles estava disposto a discutir o assunto ou especular sobre o mesmo. Outro tabu!”
Arbirú | Lifau |
Em 2020, em plena pandemia do Covid-19, chegou-me às mãos um texto, que corrobora uma das versões que ouvi em Timor sobre o desaparecimento. O testemunho afirma:
“Estive lá (jun 72- outº 75) em Ataúro, servindo na Marinha Radionaval. Isso deu-me oportunidade de ver, formar opiniões diferentes dum artigo de Tito Duarte que colocou em linha. O Arbirú e o Comandante tinham uma posição única em Timor. Sou contemporâneo das famílias – não tenho intenções de mexerico. O Arbirú fazia contrabando como qualquer um. Neste caso como navio único em Timor era muito importante mas era um segredo aberto. Na viagem anterior um tripulante foi preso pela PIDE por contrabando de munições. Na última viagem o Comandante do navio moveu mundos e fundos para ir na viagem. Antes da partida o Comandante Rocha insistiu em informar o Sgt. Lourenço da capitania sobre a situação financeira completa. Como não era pedido habitual, disse ”nunca se sabe…”
Na última viagem para Banguecoque seguiam como passageiros os membros da Comissão organizadora da Festa do 10 de junho com fundos para compras e dinheiro do Conselho de Câmbios para transferir para Lisboa. Nos passageiros iam senhoras da fina flor de Díli como a esposa do Comandante DM Medeiros, do Gerente BNU Figueiredo, do Comandante da Intendência militar, esposa do Comandante Rocha, e esposa de oficial de Informações militares (não chegou a partir). No cais com as despedidas habituais, Dona Babo hesita, demora a embarcar, chorando incontrolável. O Comandante Rocha manda Luís Napoleão (irmão dela) levá-la para bordo. No último momento, o oficial de informações militares entra na ponte cais velozmente, trava junto da prancha de embarque, sobe rapidamente, agarra a esposa por um braço e desce.
O Comandante pergunta, ele responde ”a minha mulher não vai”. Entram no jipe e desaparecem. O navio foi dado como desaparecido quando uma das casas comerciais chinesas em Díli, não tendo recebido notícias da chegada a Banguecoque, contactou os serviços portuários acerca da chegada do navio. Foi-lhe respondido ”não está no porto nem é esperado”. Quer dizer não há ETA (data prevista de chegada) ou qualquer outra info. Só depois disso foi dado como desaparecido pelas autoridades de Timor. Devido ao tempo decorrido por não haver ideia da posição do navio, como habitual foram alertados os serviços de busca e salvamento numa área alargada – Indonésia, Singapura, Hong Kong (Royal Navy) e Austrália. Nada. Havia incerteza sobre a posição do Arbirú porque apesar de ter rádios de longo alcance, sempre verificados antes de longas viagens, o navio só fazia contacto uma ou duas vezes depois da saída. A Estação Radionaval fazia a chamada e escutava em hora e frequência determinadas. Depois disso fazíamos chamada e registávamos – chamado, escutado, não ouvido. Era o habitual, portanto não havia motivo para alarme. Quando chegava ao porto de destino comunicava através da Radio Marconi e nós interrompíamos a escuta até sermos avisados da ETD (data estimada de partida) e nova escuta. Eles criaram essa situação e hábito e nunca foram corrigidos! Só passados uns tempos as autoridades receberam informação de um ”Timorense” dando à costa na ilha das Flores. A Informação não correspondia à posição e área de interesse da busca que estava muito mais afastada. Quando eventualmente Paulo do Rosário foi trazido das Flores contou que o navio fora afundado por uma vaga gigante. Havia chuva torrencial com gotas do tamanho de pontas de dedo, vagas enormes, vento forte quando tudo aconteceu e ele, estava na popa a fumar um cigarro, o navio afundou mas ele salvou-se porque entretanto na agua conseguiu agarrar-se a uma tábua (sem referenciar os outros náufragos). Ao fim de algum tempo deu à costa. Este foi o relato publicado n’A Voz de Timor. Chegado a Díli foi levado pela PIDE para investigação e libertado, ficou confinado em casa guardado por polícia.
O Arbirú nessas viagens fretadas levava grades com galinhas no convés juntamente com grande número de bidons vazios. Navegava leve porque ia vazio e com combustível suficiente só para chegar ao porto de destino. Levava dinheiro ou cartas de crédito para atestar depósitos e os ditos bidons vazios. Com a diferença de câmbio fazia uma maquia. Era outro hábito permanente (de tal forma que quando voltava Díli, descarregava num dia ou dois e invariavelmente navegava para a contracosta por uma semana! Quando havia falta de combustível em Díli este vinha da montanha). Não há referência alguma desses bidons vazios a flutuar durante as buscas.
Eles seriam parte dos destroços que esperavam encontrar. Mas nada foi avistado. No fim agarraram-se a uma referência dos serviços meteorológicos australianos ”talvez um pequeno tornado na área com pequenos vestígios de ‘‘flotsam (detritos à deriva).” E foi assim o fim da investigação oficial. Houve missas pedindo a ajuda divina mas não para encomendar os mortos – naquela altura ”desaparecidos”. Só para confirmar que o M/V MUSI navegando Singapura – Díli costumava pedir reatamento de comunicações via Marconi duas vezes por dia, religiosamente, e comunicava para dizer “loud and clear” no traffic – until next QSO thanks and out.”
O mesmo com petroleiros nacionais para o Golfo Pérsico passando por Nacala em Moçambique diariamente até entrar em Ras Ta Nura (Arábia Saudita, Golfo Pérsico). Na volta ainda atracado pedia para recomeçar o contacto até Nacala, o mesmo Radionaval Lourenço Marques (Maputo), Macau e até na base em Diego Garcia. A exceção – Arbirú. Sistema manhoso desde sempre. O chefe de máquinas e telegrafista do navio era sempre da Marinha. O ultimo telegrafista permanente, Célio, aparentemente também queria negociar mas por conta própria e tentou fazer outra comissão mas o Comandante informou o Governador que era desnecessário haver telegrafista permanente. Na navegação costeira só telefonia e para o estrangeiro poderiam levar um dos Correios ou um militar com comissão terminada mas aguardando transporte de regresso.
O Governador concordou e um aprendiz de feiticeiro perdeu o negócio. Quando um novo enfermeiro começou a comissão, Sargento Simões, teve que fazer uma fogueira nas traseiras da radionaval para queimar a droga. Palavras dele próprio e confirmado por outros. Esse citado telegrafista Célio é fácil de referenciar, tinha uma Honda 300 cor amarelo berrante.
O penúltimo Chefe de Máquinas, na penúltima viagem sofreu um acidente enquanto o navio estava atracado em Singapura. A única testemunha que estava com ele na casa das máquinas disse que teria tocado numa bateria e morreu eletrocutado. Era um homem novo e muito calado. Quando em Díli, jantava e dormia na Radionaval, e dizia que tinha medo do que via. O novo chefe de máquinas morreu na última viagem. Eu vi a esposa no aeroporto de Figo Maduro à chegada dos refugiados de Atambua e ela perguntava a toda a gente lavada em lágrimas: digam-me só se sou viúva, digam se o meu marido está vivo ou morto!
E para finalizar o caso do Sargento maquinista morto em Singapura. Houve um inquérito sobre o “acidente” na Capitania de Díli. Aparentemente a única testemunha era já de idade e meio surdo. Quando ele começou a falar contando o acontecido, foi ouvido gritarem-lhe “ouve, tu só respondes ao que te perguntarem. Nada mais!”
Recorde-se que a capitania era o lugar de trabalho e escritórios do pessoal ligado a ela – Sargento Lourenço e escriturários. Lugar de entrar e sair dos que estavam ligados a estas funções. Portanto na sala de inquérito estava rodeado desse pessoal. Depois de algum tempo, meses talvez, passado sobre o naufrágio o José Rocha, filho do Cmdt Rocha chegou de Lisboa, passou um tempo curto e depois voltou. Falou-se que aparentemente as partilhas tinham sido feitas sem alarde. Talvez as informações recebidas pelo Sargento Lourenço tivessem sido úteis. Da parte da Dona Babo ouvi de um parente que tudo tinha sido partilhado sem problemas ou dividido sem dúvidas ou amarguras. Costumávamos acampar para o sudoeste e éramos todos um grupo unido. De ambas as ocasiões foi citado que não tiveram que esperar pelos sete anos (desaparecidos sem prova de morte ou restos mortais.) Alguém saberia alguma coisa que os meros mortais ou plebeus não tinham acesso. Durante anos ouviu-se dizer que alguém em Jacarta ou Surabaya via alguém conhecido, a quem chamava mas olhavam para trás e seguiam sem responder.
Mesmo depois da invasão Indonésia, Timorenses circularam por portos e juraram que “aquele navio era o Arbirú.” Uma pintura diferente, uma chapa aqui ou ali mas era o Arbirú. De lembrar que o navio fora construído no estaleiro de S. Jacinto, Aveiro. Era difícil haver navios gémeos navegando nessas paragens. Eu próprio em Darwin em trânsito para Hong Kong para trazer o rebocador Lifau encontrei um irmão do enfermeiro de bordo, Borges, que afirmou ter mantido contacto com Darwin (onde residia) com um tripulante indonésio que lhe afirmou saber que o irmão estava vivo e iria trazer fotos na próxima viagem.”
A mesma fonte disse: “estive em Macau na tripulação do Lifau na viagem inaugural e quando fomos buscar a Laleia, ficávamos alojados na guarnição local, jantávamos no clube da Polícia Marítima no cais da Taipa.”
IN CHRONICAÇORES VOL 5 LIAMES E EPIFANIAS AUTOBIOGRÁFICAS ED LETRAS LAVADAS PONTA DELGADA
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Um blogue sobre a história de Macau. A blog about Macau’s history.
Source: Macau Antigo: Padre Francisco (Xico) Maria Fernandes: 1935-2005