Zeca Afonso em Timor Rosas de ERmera

“Rosas de Ermera” retrata vida da família de Zeca Afonso em Moçambique e Timor

Posted: 09 Oct 2015 03:42 PM PDT

Díli, 08 out (Lusa) – A irmã de Zeca Afonso, Maria das Dores, regressa este mês a Timor-Leste, quase 70 anos depois de ter partido do território, onde chegou a estar detida com os pais, durante três anos, num campo de concentração japonês.

A história da vida de ‘Mariazinha’, dos seus irmãos, João e José (Zeca), e dos pais é o fio condutor do documentário “Rosas de Ermera”, uma longa-metragem que está a ser realizada por Luís Filipe Rocha, numa produção da Fado Filme.

No material de promoção do documentário, Luis Filipe Rocha destaca que a sua amizade com os Afonso dos Santos “permitiu conhecer com alguma profundidade as aventuras e desventuras duma fascinante saga familiar”.

“Tendo como pano de fundo a História de Portugal e da Europa, de Timor e do Mundo, entre 1939 e 1946, o tema principal do documentário será a revelação, no verdadeiro sentido cinematográfico, das memórias de Maria das Dores, de João Afonso dos Santos e do irmão já falecido, Zeca Afonso”, explica.

“E, através dessa revelação, dar a conhecer aspetos pouco iluminados de uma época importante da nossa história ‘pública e privada’ do século passado”, sublinha.

Depois de filmagens em Moçambique, onde a família se separou, Luís Felipe Rocha chega sexta-feira a Díli para 10 dias de filmagens no país que marcou a infância de Mariazinha.

“Acompanharemos Maria das Dores na dilacerante separação dos irmãos e na viagem com os pais, pelos Mares do Sul, em três barcos diferentes, até Timor. Procuraremos a Casa em Lahane, a escola e a vida ao ar livre, no mato e nos ribeiros, com os amigos Liquiçá, o cavalo que montava em pelo, e Bonita, a cabrinha preta”, descrevem os produtores.

A história começa em 1939 quando os pais e Maria das Dores Afonso dos Santos, então com sete anos, partem para Timor-Leste, onde o pai vai assumir o cargo de juiz e os dois filhos do casal, João e José Afonso, de 11 e quase 10 anos, seguem para Portugal.

Dois meses depois dessa separação, a 01 de setembro de 1939, a Alemanha invade a Polónia e, dois dias depois, a Grã-Bretanha, a França, a Austrália e a Nova Zelândia declaram guerra à Alemanha, iniciando-se a 2ª Guerra Mundial.

O Japão junta-se à guerra em dezembro de 1941 e a 20 de fevereiro do ano seguinte invade e ocupa a ilha de Timor.

A “vida serena” em que Maria das Dores “era a única e solitária criança” vê-se transformada pela chegada da guerra e a “aterradora noite da invasão japonesa”, os barcos e os aviões, o quintal da casa invadido, a rendição dum grupo de Holandeses, os Australianos refugiados na selva.

Maria das Dores, que recorda até hoje o cheiro a rosas em Ermera, o coração da região do café timorense, a sudoeste de Díli e onde passou férias com os pais – só se reencontra com os irmãos seis anos depois, em fevereiro de 1946.

Para Portugal levou a vivência de Timor e a dor, medo e pavor sentidos durante os quase três anos que passou num campo de concentração japonês.

Nos irmãos encontra a asfixia do catolicismo do Estado Novo, a dor de um longo período afastados dos pais e irmã e o temor da falta de noticias de Timor-Leste.

Esta é a sinopse do documentário que ouve Maria das Dores e João Afonso, já ambos com mais de 80 anos e que “continuam a recordar de forma vivida e emocionada esse período das suas jovens vidas, bem como a evocar comovidamente a companhia do irmão falecido em 1987”.

Luís Filipe Rocha entrelaça as recordações dos dois com as do seu irmão José num diálogo, explicam os produtores, “a que a idade, a memória, a evocação poética e os sentimentos duradouros conferem dramatismo e espessura únicas”.

“Rosas de Ermera” é um título de grande simbolismo para a toda a família e já o músico João Afonso, sobrinho de Zeca Afonso, se referia a elas na sua música “O som dos sapatos”.

ASP // SO