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Xanana Gusmão: há 36 anos a dizer que só quer é cuidar da terra e escrever poesia
por João Pedro henriquesOntem20 comentários
Xanana Gusmão: há 36 anos a dizer que só quer é cuidar da terra e escrever poesia
O caminho de líder da resistência a governante
Em outubro de 2002, recém-eleito presidente da República de Timor-Leste, Xanana Gusmão garantia numa entrevista ao DN que “se pudesse resignava hoje mesmo”. “Continuo a dizer ao povo que fui obrigado a ser presidente, fui escolhido por eles, não quero ser presidente.”
Em 2003, o líder timorense insistia, numa outra entrevista ao DN: “Daqui a quatro anos estarei fora disto, em casa, claro!” E poderia recandidatar-se a presidente? “Não haverá situação que justifique isso.” Categórico. Em 2005 ainda surgiam textos na imprensa portuguesa garantindo a pés juntos que tudo o que Kay Rala Xanana Gusmão queria era dedicar-se à família (tem dois filhos de um primeiro casamento e três do segundo), a cultivar a terra, a escrever poesia. E, em 2007, surge a surpresa: deixa de ser presidente, funda um partido, candidata-se a primeiro-ministro, ganha – é este o cargo que ocupa desde então.
Há 36 anos que Xanana Gusmão lidera pessoas; de 1978 até 1999 na resistência timorense; de 1999 a 2002 na transição para a independência; e de 2002 até agora como presidente ou primeiro-ministro. Desde sempre fez questão de se afirmar como um líder acidental. Segundo já contou, quando o 25 de Abril chegou estava a pensar emigrar para a Austrália. Tinha 28 anos. Mas a revolução chegou, a guerra civil entre timorense iniciou-se, tornou-se jornalista, filiou-se na Fretilin, de que se tornou líder em 1978, passando então à clandestinidade, comandando nas matas a resistência. Hoje tem 68 anos.
Adelino Gomes, jornalista, acompanhou o principal do percurso de Xanana como líder da resistência e depois como líder pós–independência. Também lhe ouviu histórias de como só queria ter tempo para escrever poesia. E hoje, perante o caso dos juízes portugueses expulsos do país, afirma-se “estupefacto” com Xanana, que viu pela primeira vez em 1993 em Díli, quando foi cobrir o julgamento indonésio ao líder da resistência, tendo desde logo ficado “impressionado” com a sua “estrutura de resistência”.