27 de Outubro 2024 . www.diariodosacores.pt
Miguel Teixeira
Como todas as ilhas do arquipélago açoriano, Sta Maria também se preparou para entrar na era do Turismo. Com um excecional potencial e abençoada por um clima ameno, "A Ilha do Sol" encontra-se, no entanto, neste momento numa encruzilhada que ditará o seu futuro de forma irreversível.
Apesar da pequena dimensão, 97 km2, e pouco mais de 5 mil habitantes, a ilha é já uma referência mundial para a prática do turismo de mergulho e esta atividade é facilmente detetável ao longo de todo o ano num frenesim diário junto ao cais de embarque das várias empresas que se dedicam a esta atividade. Com aproximadamente a mesma área submersa a menos de 45 m de profundidade, a ilha é um paraíso para este tipo de turismo, isto a par de uma marina que representa um papel cada vez mais importante, por ser a mais segura de todo o Arquipélago e começa também a ser reconhecida internacionalmente pelos seus excelentes serviços de apoio.
Com uma extraordinária rede de trilhos, que percorrem todos os recantos da ilha, acrescidos de um trilho circular com mais de 90 km, Santa Maria é igualmente um destino muito procurado para o crescente turismo de caminhadas, BTT, birdwatching entre outras atividades. Os Geossitios e pequenos museus de particular variedade e interesse histórico, além da Rota dos Corsários, entre outras pequenas maravilhas que a ilha apresenta, apesar da sua pequena dimensão e a sua extraordinária diversidade paisagística, de relevo e florestal, a par das praias de areia mulata, deliciam dos veraneantes e alguns teimosos surfistas durante o ano todo.
A Ilha preparou-se desta forma para o turismo de qualidade, beneficiando também por ter um aeroporto internacional e tem estado na mira de investidores turísticos.
As iguarias de Sta Maria, desde a morcela, passando pela meloa, e pelo vinho que nasce em encostas castigadas, fazendo dele um vinho único no mundo, são atrativos e complementos para o tão desejado turismo de qualidade.
A arquitetura singular que reporta as suas origens, as casas alentejanas e algarvias dividindo os povoados por cores distintas fazem a delícia de quem a visita, bem como os seus jardins impecavelmente preparados.
Alberga nos edifícios da antiga base, empresas, serviços e associações como a sede da "Agência Portuguesa Espacial" tudo bem, até poderia estar no coração de Lisboa ou Ponta Delgada ou em qualquer outro local do país.
Mas com os recentes lançamentos de pequenos foguetões no final do passado mês e o entusiasmo que isso causou num pequeno grupo de residentes (além, como seria de esperar pelos intervenientes no projeto, que já anunciaram lançamentos de foguetes superiores a três toneladas).
Soou o alarme em vários grupos, quer de residentes, quer em estrangeiros que escolheram esta ilha para viver ou passar grande parte do ano, ajudando de uma forma decisiva a economia local e respeitando o que a ilha oferece.
Foguetões e Turismo são como água e azeite, não se misturam, apesar de existir uma campanha apoiada pela Câmara Municipal de Vila do Porto a tentar explicar a coexistência entre as duas atividades (não negando da existência de pequenos danos colaterais). Podem fazer as maiores campanhas do mundo, inventar os mais altos valores e benefícios dessa atividade, mas não conseguirão convencer o mais ingénuo operador turístico, mesmo tendo sido o ano de 2024 o melhor ano de sempre na ocupação hoteleira.
A empresa que eu represento na área do agroturismo, mandou parar os projetos que tinha para a ilha apesar de já ter feito uma aquisição, e mandou abortar a compra de um edifício. Muitas empresas ligadas ao turismo estão apreensivas, algumas diria mesmo em pânico, e o espalhar da notícia sobre um porto espacial na Malbusca será fatal, colocando um ponto final em qualquer ambição de investimento turístico na ilha.
Há outras consequências ocultas, com riscos mais elevados para a ilha, nomeadamente possibilidade de ser um alvo militar, aumentos na área dos seguros, como me foi explicado por um agente na cidade de Ponta Delgada recentemente. Outros malefícios associados existem certamente, já sem falar na obra já executada (e não licenciada) para o lançamento entre dois Geossitios de relevante importância.
A clarificação impõe-se, e essa clarificação e compromisso terá de vir do Governo Regional, que fez questão de se congratular com os lançamentos do mês passado.
A escolha de Santa Maria para esta atividade (que seria sempre liminarmente recusada pela população das outras ilhas) merece uma explicação digna e verdadeira.
Os Empresários merecem e esperam uma resposta.
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Antigamente, em tempos idos da comunicação telefónica, aconteciam linhas cruzadas. Levantar o auscultador do telefone, daqueles com uma rodinha com números, e ouvir outra conversa que não era a nossa, com mensagens que não conseguíamos perceber de onde vinham e como haviam chegado a nós.
A comunicação entre pais e adolescentes, muitas vezes, é marcada por linhas cruzadas, em que o significado etimológico da palavra "comunicar" se perde. Falamos mas não nos colocamos em comum.
No artigo de hoje, deixamos algumas estratégias válidas que ajudarão pais e adolescentes a colocarem-se em comum.
Mostre interesse e escute o seu filho, mesmo quando não concorda com as suas ideias ou argumentos. O seu filho precisa de sentir que é validado e que os pais têm interesse no que ele pensa, mesmo que não estejam de acordo com os seus argumentos. Os adolescentes sentem-se confortáveis quando se sentem aceites, compreendidos e amados.
Quando o seu filho quiser comunicar, assegure-lhe estará lá para o ouvir. Não o force a falar. Se o seu filho se coloca em silêncio, mostre que se sente mal por não conseguir comunicar com ele. "Gostaria muito de conseguir falar contigo. Entristece-me não saber o que sentes e não poder ajudar-te, caso necessites" é uma boa abordagem! Em vez de frases como "Conta-me como foi o teu dia...", fale de si próprio, de como foi o seu dia, dos seus problemas ou dos seus amigos, iniciando as frases por "Eu", sem receio de falar sobre as suas próprias vulnerabilidades e erros.
Evite ser demasiado crítico. Se for demasiado crítico face aos gostos do seu filho ou se apresentar demasiadas "queixas", poderá afastá-lo.
Filipe Fernandes *
Tenha em conta que o seu filho não é (só) aquilo que ele fez. Distinga "o que ele fez" daquilo que "ele é". Esta forma de comunicar com o seu filho permitir-lhe-á desenvolver-se de forma saudável.
Aja com firmeza e assuma o controlo da situação quando não há entendimento. Não permita que o seu filho adolescente assuma o controlo e o poder. Tal resultaria numa inversão de papéis e os pais não estariam a exercer a sua função parental. Na sua função, os pais deverão equilibrar a firmeza necessária ao controlo da situação com o apoio emocional de que o seu filho necessita. Pode haver oscilação de papéis, mas não de forma rígida.
Utilize a palavra "não". O seu filho tem direito a manifestar desacordo, mas deve compreender quais os seus limites de ação. Em suma, seja afetuoso e firme, colocando normas e limites.
Essencialmente, seja um modelo e um exemplo para os seus filhos. Torne a sua casa, o seu lar, um espaço emocionalmente seguro para os seus filhos.
Vamos evitar as linhas cruzadas?
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
* Psicólogo Clínico e da Saúde e Vogal da Direcção da Delegação Regional dos Açores da OPP