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18.3. VOLTEM AS CARAVELAS, OS CTT AGRADECEM, CRÓNICA 260, 1.6.2019
Emitida a 18 de abril a carta emitida em Lisboa com o respetivo cartão bancário chegou à Lomba da Maia, S Miguel, Açores a 31 de maio, com uma impressionante rapidez de 43 dias que demorou a atravessar o mar adamastor que nos separa de Lisboa, sem notícia de furacões, vulcões ou sismos e menos ainda de greves aéreas.. Quase que batia o recorde de cem dias da carta emitida pela MEEA (Associação de Jornalistas Australianos) em 8 de dezembro na Austrália e que aqui chegou a 19 de março, mas isso justifica-se pelos perigos do Pacífico infestado de tubarões. Nos tempos do infame Estado Novo uma carta do meu pai, do Porto a Díli, Timor, demorava normalmente quatro semanas usando a mala militar, sarcasticamente denominada Carreira das Índias Orientais.
Quanto à distribuição local de correio nesta costa norte de São Miguel, ao fim de 15 anos de um dedicado carteiro que até fazia sinais de luzes e me parava na estrada entre a Lomba da Maia e a Maia, para me entregar correspondência, passamos a um novo sistema em que um jovem carteiro voluntarioso usa a sua viatura particular (que ele ou a companheira conduzem), para distribuírem o correio, provavelmente uma vez em cada semana. Não adianta preencher a queixa no livro de reclamações, assim como de nada adiantaram os protestos de alguns deputados na Assembleia da República, foi isto que compraram e é isto que têm, graças a essa generosa venda a privados de uma das companhias de marca e de valor, e que eram os CTT, com uma tradição centenária de bem servir um país que mais parece uma manta de retalhos no que toca à distribuição postal.
Claro que, se trouxermos as naus e caravelas de volta estamos certos de que a qualidade do serviço irá melhorar, proporcionando serviços, pagos ao salário mínimo, aos desempregados e aos que recebem o rendimento de inserção social e, que não perderão a oportunidade de vida aventureira nas naus e caravelas, podendo simultaneamente desfrutar do prazer de utilização de smartphones entre escalas marítimas.
Desta forma poderiam evocar a memória de Pedro da Silva, o imortalizado carteiro português que ficou célebre no Canadá no século XVII, como Pierre da Sylva. Batizado na Igreja de São Julião em Lisboa em 1647, deixou Portugal em 1672 e chegou à Nova França, casando em 1677 e gerando 14 filhos. Em 1681, mudou para Sault-au-mattlot no Quebeque. A documentação revela que em julho 1693 recebeu 20 sols (20 libras), para transportar um pacote de Montreal para Quebeque e em dezembro 23, 1705 recebeu uma carta assinada por Jaecques Raudot, declarando-o o primeiro correio do Canadá. Depois, receberia permissão para transportar cartas de entidades privadas, sendo sempre pontual e cumpridor, diligente e leal, auferindo o privilégio de ser o mensageiro regular de mercadorias e de correspondência oficial do Governador-geral da Nova França, entre o Quebeque a Trois Rivières em Montreal. Pedro da Silva efetuou o transporte de correio e mercadorias pelo rio São Lourenço durante a guerra entre a França e os iroqueses, que apoiavam o império inglês, o que terá contribuído para que o rei francês Luís XIV o tenha nomeado como Mensageiro Real na Nova França. Em 2003[1] foi emitido um selo comemorativo e houve outras homenagens.
[1] Há um documentário histórico de homenagem ao primeiro carteiro do Canadá, realizado pelo produtor e realizador Bill Moniz, a biografia histórica assinada pelo investigador lusodescendente Carlos Taveira, ou a iniciativa dos Serviços Postais canadianos que lhe dedicaram no princípio do séc. XX um selo.