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Do novo “morgadio” de Tormes
Abomino a ideia do aproveitamento político a que a Fundação Eça de Queiroz se sujeitou ao aceitar (e promover) a trasladação dos restos mortais de Eça para o chamado Panteão. E também é certo que imensos munícipes de Baião e a maioria dos habitantes da União de Freguesias de Santa Cruz do Douro e S. Tomé de Covelas, que sempre se orgulharam da instituição FEQ, estão hoje danados com a arrogância do acto – cujas razões de fundo conheço bem, e logo com data prevista de modo a alindar a “rentrée” com pompas de Estado e palavreado a preceito.
Mas quem lá esteve na Administração ainda as conhece melhor, e por isso deixo aqui um breve desabafo do meu cunhado Rodrigo Cortez Fragateiro, marido da minha irmã Maria Teresa, que assistiu à metamorfose da FEQ numa espécie de “morgadio”.
“Tenho evitado comentar a estória da transladação dos restos mortais de Eça de Queiroz. No entanto, face a todo este empolgamento de medíocres que se querem empoleirar nas costas da memória de alguém que foi gigante , não posso continuar calado.
Numa altura em que a Fundação Eça de Queiroz atravessava uma gravíssima situação financeira, provocada pelo fim dos direitos de autor, a Senhora Dona Maria da Graça (tia Gracinha), pediu-me para assumir responsabilidades na Administração da Fundação.
Aceitei consciente das dificuldades e problemas que lá ia encontrar, fi-lo por atenção aos meus filhos.
Quando lá cheguei, deparei com um discurso patético da parte da Fundação com apelos à ajuda das entidades públicas e privadas…, e o discurso era “Salvem o Eça”.
Por uma questão de bom senso e seriedade, disse à Senhora Dona Maria da Graça para acabar com esse disparate, porque o Eça não precisava da Fundação para nada, a Fundação é que precisava do Eça!!!…
Fiz o que pude, investi muito tempo, energia e algum dinheiro, para evitar o que para muitos parecia inevitável: a falência da Fundação EQ.
A solução apareceu, não graças ao meu esforço, mas sim à vitória eleitoral do dr. José Luiz Carneiro para presidente da Câmara Municipal de Baião.
Efectivamente o dr. José Luiz Carneiro percebeu de imediato a importância do Eça para o Município de Baião e muito inteligentemente deu todo o seu apoio à Fundação.
Solução encontrada, aparece do nada um novo administrador: Afonso Cabral!
Tinha è verdade um grande ascendente na Senhora Dona Maria da Graça, e soube usá-lo.
Daí até á completa falta de respeito por todos os que nas horas difíceis lá tinham estado foi um momento, próprio de gente com este tipo de carácter.
Demiti-me da administração da FEQ em plena reunião de administração e com corte de relações com o dito Afonso Cabral.
Soube posteriormente que a Senhora Dona Maria da Graça tinha sido retirada da casa da FEQ e hospedada num lar da terceira idade em Baião, e que o Afonso Reis Cabral, filho do Afonso Cabral, tinha sido nomeado novo administrador da FEQ.
Continuo a dizer o que sempre disse, o Eça não precisa da FEQ para nada e muito menos dos Cabrais!”
E é isto.
Em acontecendo o “pagamento” previsto, certamente Setembro terá a sua pompa e circunstância, numa colagem inevitável às cretinices que Acácios e Pachecos debitaram à data da trasladação destes irrequietos restos mortais de Paris para Lisboa, e que os jornalistas e homens de letras do tempo não se cansaram de chacotear.
(imagem: caricatura de Rafael Bordallo Pinheiro)