vem aí a era do hedonismo

A CAUSA DAS COISAS
Caminhamos para novos anos loucos de hedonismo (prazeres supremos) pós-covid-19?
Especialistas apontam que viveremos uma explosão na ciência, arquitetura, consumo, hedonismo. E alertam para o perigo de maiores desigualdades econômicas, sanitárias e digitais.
O dinheiro guardado pelas famílias em forma de poupança —108,8 bilhões de euros só em Espanha, segundo o INE— começará a fluir assim que for possível novamente nos socializarmos. Espera-se que um aumento nos gastos e no consumo venha acompanhado de um novo estado de espírito mais ansioso, no qual os relacionamentos, o lazer compartilhado, as viagens, a moda e o prazer voltem a tomar ímpeto. A indústria está pronta, segundo especialistas, para um salto tecnológico que, além do mais, vai trazer mudanças surpreendentes nesta década. Também para um cuidado com o meio ambiente que passa por outra forma de comer, voar, nos aquecermos ou escolher um veículo. Anos loucos estão chegando em termos de mudanças, sim, mas também um sério perigo de desigualdades, pois as brechas que já são profundas estão se alargando e enviam enormes sinais de alerta sobre o capitalismo como o conhecemos.
As compras online, que explodiram na pandemia, não só não recuarão, mesmo que a mobilidade retorne, mas irão evoluir para um novo formato mais inclusivo, que Sophie Hackford, pesquisadora e especialista em tendências, em Oxford, descreve como um universo mais próximo dos videogames do que os websites atuais: “A nova internet desta década oferecerá experiências mais ricas e cinematográficas que deixarão o 2D para trás. Tomando como modelo os videogames de grande orçamento, vamos passar o tempo em incríveis mundos virtuais fazendo compras, curtindo com amigos, nos reunindo ou em consultas médicas. Serão novos parques temáticos onde comprar, trabalhar e passar o tempo, e não em páginas planas da web. Poderemos sentir os dados, cheirá-los, ouvi-los. Será uma década pós-pixel em que viveremos dentro da máquina e sem olhar para ela. O mundo se transformará em um computador. E a pandemia o acelerou”.
Os paralelismos com a década equivalente do século XX tornam irresistível a proclamação de uma espécie de repetição do fenômeno dos loucos anos 20, imortalizados em O Grande Gatsby, romance de Scott Fitzgerald que não teve muita sorte no filme protagonizado por Leonardo DiCaprio em 2013. Serve para que compreendamos um ícone daqueles anos em que, após a Primeira Guerra Mundial e uma pandemia de gripe que custou milhões de vidas, o Ocidente mergulhou num mundo vibrante de oportunidades, de crescimento espetacular na bolsa de valores, de consumo, de hedonismo, excessos, esperança e vitalidade, embora tenha acabado como acabou. Hoje, graças à ciência e às vacinas, também esperamos sair de uma pandemia que parou o relógio da economia e de nossas vidas. As projeções econômicas já indicam boas perspectivas de crescimento: 6% em 2021 e 4,4% em 2022 em âmbito global, segundo os prognósticos do FMI.
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