Vamos ter deputados de sentar e levantar

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Filomeno Moreira to Açores Global

Vamos ter deputados de sentar e levantar

Está concluído o processo de entrega das listas de candidatos às eleições legislativas regionais de outubro próximo. Há partidos novos e uma abundância de candidatos novos… Quais as suas primeiras impressões sobre estas listas?
No geral, não há surpresas. Consta que os principais partidos levaram muitas negas. Ninguém, no seu perfeito juízo, com talento e com ambições profissionais, estará interessado em fazer compromissos com partidos, muito menos com os de cá, que são de uma mediocridade óbvia. É, por isso, que as listas apresentam os candidatos que sabemos. Quase tudo de terceira linha, para irem para o parlamento fazer aquilo que os partidos querem: levantar e sentar conforme as indicações do líder. As listas dos maiores partidos são um exemplo claro da falta de pensamento crítico. Os homens do aparelho é que vão nos lugares cimeiros e o resto é para compor o ramalhete. Será mais uma legislatura sem história e, mais uma vez, um parlamento preguiçoso, como este que terminou.
Sem as campanhas tradicionais, por medo do SARSCOV2, que espaços haverá para espalhar ideias de forma eficaz?
Presumo que vai haver muito porta a porta, com o devido distanciamento. De resto, pelo que vamos vendo nos cartazes por aí espalhados, mantém-se a falta de imaginação, pobreza de marketing e mensagens obsoletas. O único que parece ter uma máquina mais profissionalizante é o PS. Mas este nem precisa de fazer campanha. O Governo Regional vai fazendo, com os seus três pontas de lança para amaciar o pensamento da sociedade mais inquietante: Sérgio Ávila a distribuir milhões pelos empresários e funcionários públicos, Andrea Cardoso a bater o recorde mensal, mais uma vez, de visitas e promessas a tudo o que é instituição social, e João Ponte com os seus quilómetros de visitas a pastagens, quintas e associações com os milhões prometidos pelos fundos comunitários. Só aqui temos mais de 50 mil eleitores. Está feita a campanha e eleito o mordomo.
A comunicação social dos Açores estará preparada para cumprir um reforçado papel de cidadania no esclarecimento do eleitorado açoriano, na ausência de outros meios tradicionais? Estarão os partidos preparados para se sujeitarem a uma campanha na comunicação social com critérios editoriais?
A comunicação social é o espelho da região: conformada e cheia de reverência. Não há recursos, de toda a espécie, e o que há é muito pouco qualificado. Não é por aí que o eleitorado ficará mais esclarecido. Os partidos – sobretudo os que estão no poder – têm os seus canais próprios para chegar ao cidadão, através do subsídio, da ajuda social, o saco de cimento, o medicamento, o RSI, o cheque pequenino, a habitação a custos (des)controlados, a pedinchice do costume e por aí acima…
Estamos em plena pré-campanha. Já percebeu o essencial das narrativas?
Nenhuma! E faz sentido. O eleitor açoriano está muito distante das prioridades dos partidos. O discurso dos partidos não tem nada a ver com as prioridades das famílias. Enquanto não tivermos listas uninominais os eleitos vão ocupar os seus cargos com o voto de uma minoria da população. Presumo que nas eleições de 25 de Outubro vamos ter a maior crise de representatividade que já tivemos na história da Autonomia. O que também não surpreende nada.

OSVALDO CABRAL, JORNALISTA

Entrevista, in, Diário Insular, 22 de Setembro / 2020