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18.12. VAMOS FALAR DE EDUCAÇÃO, 5 Jun. 2019, CRÓNICA 261
Declaração de interesses: só uma vez fui professor de jovens, por imposição do serviço militar em Timor e ministrei por três meses o antigo ciclo preparatório do liceu (5º e 6º ano) em Bobonaro (setº-dezº 1973). Depois, ministrei Inglês no 2 e 3º período (1974) no Liceu Dr Francisco Machado em Díli, usando os métodos de Paulo Freire (muito avançados à época) mas nunca tive vocação para ensinar. Na Austrália dei aulas de Tradutologia e preparei na UTS (Universidade de Tecnologia de Sydney) os candidatos à profissão de tradutor e intérprete sob a supervisão da NAATI, entidade federal de acreditação oficial.
Desde que vim da Austrália, a cada três anos, comprovo as atividades de formação pessoal e profissional para continuar acreditado como Tradutor Oficial.
“É responsabilidade do Estado formar as pessoas para que saibam ser melhor profissionais e capazes de gerir mais autonomia” disse José António Salcedo em 3.6.2019.
Estamos de acordo e daí o tema do 34º colóquio, pois o estado só pensa em falsificar estatísticas, e em poupar $$ sem contratar professores mantendo vínculo precário 10, 15 anos ou mais. Os resultados escolares dos Açores são dos piores na Europa. E a geração mais antiga, dedicada (não serão muitos, mas há bons profes) está desgastada, exausta, desmotivada e frustrada pois fazem tudo menos ensinar e são quase que obrigados a passar todos e baixar as taxas de retenção…
«Interessa-me a educação pois ainda me preocupo com o mundo. Se queremos mudar, temos de investir na educação. A economia e a guerra não podem mudar pois estão nas mãos dos donos disto tudo, mas a consciência humana pode ser mudada. Por isso me interesso pela educação. É possível mudar a consciência dos mais jovens. Mas temos de mudar de paradigma, tem de ser valorizada com gente com talento e competência, com a vocação pedagógica, de transmitir valores (…)» Chrys C. 2006.
Já vi professores sem vontade ou vocação, enfastiados a dar aulas, sem que o sistema faça a triagem entre bons e maus profissionais, recuperando os que podiam ser dedicados, interessados e capazes de passar conhecimentos e ensinar a pensar. Vi a educação e o ensino degradados pela tutela e pela sociedade, com a família a endossar obrigações parentais para os educadores. A escola passou a ser um armazém para onde se mandam as crianças enquanto se vai ganhar algum e os professores que os eduquem…
Quando há greves a preocupação dos pais não é um dia a menos na aprendizagem, mas um dia sem ter onde deixar os filhos. A educação assistiu impávida ao massacre dos professores, o orçamento nacional baixou 4% na secundária e básica e 8% na terciária (2011). Os professores qualquer dia acampam na escola para fazerem o que os pais não fazem. O ensino é uma lástima, os professores são bodes expiatórios. Em vez de se extirparem os culpados, aplicam-se medidas draconianas para os incumpridores e os outros, que se esforçam e cumprem, sem ambiente de trabalho apropriado, sem condições físicas ou materiais para exercerem a profissão, recebem de prémio a honra de serem vilipendiados e com carreiras congeladas.
Por outro lado, cada vez têm menos tempo para ensinar e preparar aulas, gastam enormidades de tempo em reuniões improfícuas sobre tudo e mais alguma coisa, além das constantes alterações da tutela. Os alunos de meios desfavorecidos (rurais ou urbanos) não têm alternativas de ensino, andam contrariados, desmotivados e muitas vezes não querem mesmo aprender, o futuro são as vacas e não a sala de aulas. Entretanto como não gostam de Filosofia, Matemática e outras coisas, o melhor é cortar o seu peso curricular. Os editores agradecem, pois são mais uns livritos a imprimir para os encarregados de educação comprarem.
Depois, uns iluminados em eduquês, sentados nos gabinetes com comodidades e equipamentos adequados, em vez de porem as crianças a gostar da língua e da gramática inventaram a TLEBS, coisa muito fina, própria de doutores, esquecendo-se que é boa para os filólogos e estudantes do ensino superior que se dedicam à área específica da língua. Esqueceram-se de que iria sempre haver uma certa dificuldade porque no ensino do Francês, Inglês e doutras línguas não se podem ensinar aqueles palavrões. Nós, plebeus da educação, estávamos conscientes do logro, pois essas línguas de bárbaros incultos se descuidaram ao não adotarem a TLEBS. A França e a Inglaterra (como todos sabem) são países de analfabetos que não percebem nada de linguística e ninguém lhes disse que Portugal inventara a TLEBS.