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(Apresentação nas Lajes das Flores, a 19 de Julho)
POETAS EM TEMPO DE NÁUSEAS
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EMILIO PRADOS
Como a Pedro Garfias em Monterrey
tornou-se o mar miragem nos teus olhos:
o mar e as andorinhas, que chegavam
«cuando era primavera en España».
A liberdade tem seu preço, tu sabias.
Como vê-la perdida – e com isto os espelhos
da água humilde dos arroios reflectindo
as cerejeiras com fruta e as raparigas,
corpos-flores, quais nardos desabrochando
dentro do teu coração, frente ao céu limpo
«cuando era primavera en España».
De México a Vera Cruz ou a Acapulco
é menos longe que de Madrid a Málaga
se se quer ver o mar; e tu, imagino,
fizeste a viagem. Mas aqueles não eram
o teu litoral, sem vinhas e olivais
e as andorinhas, ruflos de asas, vindo
«cuando era primavera en España».
Partir doera; mas pior o depois:
crescer dentro de ti,
água da morte horizontal e escura,
a certeza de que foi para sempre.
Demorava o inverno na tua Espanha.
(Pedro da Silveira, Fui ao mar buscar laranjas, 2019)