Urbano Bettencourt · SOBRE O (bom) EMPREGO DA LÍNGUA

Views: 0

SOBRE O (bom) EMPREGO DA LÍNGUA
(século XIX)
(…) Em presença, pois, do que por aí se está passando e atentas as complexas e variadíssimas exigências criadas pela reforma que ultimamente acaba de sofrer a lei do selo, eu venho respeitosamente propor:
1º – Que nas repartições em que se faz mais uso das estampilhas sejam criados alguns lugares para empregados que se denominarão MOLHADORES;
2º – Que os indivíduos escolhidos para os desempenhar tenham a língua bem comprida e as glândulas salivares muito desenvolvidas;
3º – Que durante as horas de expediente das repartições em que eles hajam de servir, lá se conservem em pé, de boca aberta e língua de fora, para que o consumidor possa, sem perda de tempo, dispêndio de saliva e estrago da própria língua, molhar a estampilha na língua do empregado respetivo;
4º e último – Que os ditos empregados MOLHADORES, nos dias em que houver mais serviço, vão em jejum para as repartições e que diante deles se coloquem, resguardadas por varões de ferro, opíparas e saborosas iguarias que lhes façam crescer água na boca.»
Manuel Zerbone, «O Açoriano», 21-3-1886