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(quarentene-se em boa companhia…das ilhas)
JOSÉ MARTINS GARCIA:
EXTRATERRITORIAL
da relação entre língua e alma
(obviamente colectiva a última)
há tratados tratantes até ao vómito
se tudo fosse como ficou dito
(a blasfémia científica será menor que a outra)
então eu acataria plácido o meu inferno
a minha alma (egoísmo) não é a língua portuguesa
(embora em português me exprima e desespere)
mas um amálgama de nativos erros
por comparação com o padrão que todo lo manda
(excepto obviamente a transgressão que sou)
erros saborosos que infeliz-dificilmente ressuscitarei
assim ementes podrigos de pecados
ingeirados à bocanha dos jarões
como nasseiquedigas e maroiços basta
(lá se foi o relâmpago isolado
onde fulgiu a ilha e logo o escuro
portuguêsmente me devolve a alma usual)
ah lembro-me de me proibirem o verbo abaniar
tão expressivo dizer atirar para algures
o impróprio objecto isto é menos ũa alma
et puis un jour j’ai lu l’histoire
de la Chèvre de Monsieur Seguin
et puis le matin le loup la mangea
agora ando a ler só notas de rodapé
que em português-inglês já são de pé de página
onde muito aprendo da corrupção anímica
onde se explica que morrer frizado é enregelar de vez
e que o sinó é filho factual do tempero açoriano
onde neve não há nem frizas que se prezem
nem comida encanada nem draivas de bâses
nem bossas de camelo nem dos outros
nem lá os talafones servem pra chamar alguém
chamo a isto uma breve amostragem
da alma (se ela é língua) às postas
e pouco rentável no mercado do saber
(
