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Crónica 367, um pequeno conto surreal 20.11.20
Uma mulher fez-se explodir no centro de Tunes, capital da Tunísia. A explosão ocorreu na movimentada avenida Habib Bourguiba. Oito dos feridos são agentes da polícia.
A mulher usou uma granada de fabrico caseiro com pequenas quantidades de explosivos. Fotografias entretanto publicadas pela rádio nas redes sociais mostram uma mulher no chão, aparentemente morta, com ferimentos na anca esquerda, vestida com calças e blusão escuro, com véu.
Desde a revolução que fez cair a ditadura de Ben Ali, em Janeiro de 2011, a Tunísia foi palco de centenas de atentados que quase acabaram com o turismo, setor responsável por 7% do PIB.
Era jovem e sonhava com revoluções, uma alma perdida nos labirintos do Daesh que sonhava com as suas 72 virgens nos céus e o fim dos infiéis cristãos que dominam o mundo e conspiram contra a memória de Alá.
Quando viu o Pedro Paulo Câmara após este a fotografar nas pedras do cais em Lisboa, trocara com ele um breve e tímido sorriso e dele ouviu estas palavras.
Quando, no cais das minhas colunas, uma imagem fala por si, fala pelo mundo. Voa, gaivota, voa de asas milenares, mais velhas e usadas do que esta nação ou esta Europa casa-mãe e casa-mar. Voa e recebe nos teus ninhos todos quantos de amparo precisam.
Não entendeu então que a Ibéria em tempos fizera parte desse sonho do Al-Andalus e ainda éramos todos aparentados, herdeiros dessa vivência intemporal que unia credos distintos séculos antes das fogueiras da Inquisição.
Nada tinha a temer, nem era ucraniana para morrer torturada numa sala do SEF no aeroporto de Lisboa no séc. XXI.
Subiu aos céus na Tunísia sem saber da pandemia de Covid-19 ignorando que como descendente renegada de sefardita podia requerer a nacionalidade portuguesa e ser feliz aqui em frente ao Tejo. foto do Pedro Paulo Câmara
Chrys Chrystello, Jornalista,
Membro Honorário Vitalício nº 297713
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