um palco nao é um altar

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Fabuloso texto, como habitualmente, do Vasco Gama Lobo Xavier : UM PALCO NÃO É UM ALTAR: Confesso que me tem faltado tempo para acompanhar em pormenor a última campanha da comunicação social e de uns quantos comentadores e activistas mais ligados ao bloco e às alas mais esquerdistas do Partido Socialista. Mas a campanha é de tal forma agressiva e repetitiva que é impossível não esbarrar nela a cada esquina, a cada página, a cada noticiário. Infelizmente, ainda assim não me sinto mais informado e, pelo contrário, sinto-me novamente enganado pela comunicação social. Vamos lá ver. A comunicação social está a vender-nos a ideia de que se está a “construir um altar por 4 milhões de euros” (ou 5 ou até 6 milhões, como já ouvi). Parece muito dinheiro a qualquer um, com efeito, mas fui ver e não era verdade: o que se está a fazer não é um altar mas sim um palco imenso que servirá, por ora, para receber as Jornadas Mundiais da Juventude e para a celebração de uma missa por S.S., o Papa Francisco, e que as cidades de Lisboa e Loures contam poder vir a utilizar para diversas outras situações futuras com dezenas de milhares de pessoas, com requalificação de todo aquele espaço e criando aquilo a que os políticos responsáveis têm apelidado de um novo “parque urbano”. A comunicação social quer vender-nos a ideia de que o aludido “altar” – rectius, palco – resulta de exigências da Diocese de Lisboa (ou da Igreja, como também ouvi). Mas fui ver e não era verdade: a Diocese de Lisboa terá apenas dado indicações ou partilhado informações com o Governo e os Municípios de Lisboa e Loures sobre como as coisas se passaram em outros locais onde se realizaram anteriormente as Jornadas Mundiais de Juventude e sobre o que são considerados os elementos mínimos necessários. Trata-se de uma partilha de experiência para que os poderes públicos saibam com o que podem contar e o que devem fazer para o país não passar vergonha. A comunicação social pretende imputar à Diocese de Lisboa a decisão de gastar os ditos 4 milhões com o palco. Mas fui ver e também não é verdade: não é ninguém da Igreja que decide o que se deve ou não fazer, a quem se deve ou não adjudicar a obra, se o preço é bom e justo ou não, com quem se deve fazer o contrato ou sequer que obra deve ser feita, como e quem deve ser o arquitecto ou grupo de arquitectos. Há ali um conjunto de obras e situações que ultrapassa por completo a Diocese de Lisboa, a vinda de S. S. o Papa Francisco ou mesmo as Jornadas Mundiais da Juventude, como seja a utilização do “palco” para ulteriores eventos, a recuperação de uma imensa área completamente degradada, a criação de um novo centro urbano e de lazer, a actividade e especulação imobiliária, o desenvolvimento económico em geral, e tudo isso é completamente estranho à Igreja em geral e à Diocese de Lisboa em particular. É matéria do Governo, dos municípios de Lisboa e Loures e dos empresários imobiliários. A comunicação social quer impingir-nos a ideia de que tudo isto é feito apenas para receber S. S. o Papa Francisco e para a celebração de uma Missa. Fui ver e também não é verdade. Espera-se mais de milhão e meio de jovens naqueles 8 ou 10 dias, que certamente circularão entre Santarém e Setúbal durante esse período. Uma imensidão de gente que virá ao país consumir todo o tipo de bens e serviços e, assim, ajudar a nossa economia tão necessitada (e a recolha dos impostos que esmagam a nossa sociedade). A acrescer, serão dezenas ou centenas de milhões de pessoas que, pelo mundo fora, estarão pregadas às televisões a assistir às Jornadas Mundiais da Juventude e a receber a imagem de Portugal, que todos pretendemos seja boa. Não imagino qualquer outro evento em Portugal que dê tão imensa imagem do país ao mundo. A comunicação social repete-nos à exaustão que 4 milhões de euros é muito dinheiro. Aqui é verdade, pelo menos para mim. Mas isto de 4 milhões ser muito dinheiro (e esquecendo as contrapartidas já afloradas nos parágrafos anteriores) é também muito relativo. Se virmos bem as coisas, 4 milhões é o mesmo que despedir 4 directoras da TAP (a um milhão cada) ou 8 administradoras da TAP (a meio milhão cada). Por esta perspectiva comparada, 4 milhões para a obra em causa (e respectivas utilidade, visibilidade e retorno) parece-me um preço muito em conta. Talvez se devesse construir dois palcos. A comunicação social foi buscar o Coordenador da Equipa para as Jornadas Mundiais da Juventude nomeado pelo Governo, pedindo-lhe um comentário sobre o assunto, coisa que ele ofereceu, indignado e surpreendido, particularmente com o valor da obra e clamando que deveria haver soluções mais baratas (supunha ele, não sabia se seria assim nem tinha estado no processo mais recente). Surpreendido e indignado fiquei eu com a identidade do Coordenador da Equipa para as Jornadas Mundiais da Juventude nomeado pelo Governo (confesso que, de início, pensei até que era erro, equívoco ou resultado de um sentido de humor algo estranho da estação televisiv
Seen by Ana Franco at 20 December 2022 at 21:18
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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