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Trai a TAP… e os interesses estratégicos do país.
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« (…) A reviravolta de Albuquerque é ridícula quando comparada com a enorme reviravolta política da semana, que Fernando Medina confirmou depois de, na semana passada, no Parlamento, Costa já ter aberto a porta. A TAP pode ser privatizada a 100%.
É verdade que António Costa preparou o terreno para aqui chegar: o programa eleitoral das legislativas de 2022 já não referia uma única vez a palavra TAP. Uma omissão total que permite agora ao Governo dizer que não está a fazer nada contra o seu programa. Na verdade, nunca disse ao que vinha (em 2022).
Mas se recuarmos ao Verão quente de 2014 (quando Costa se candidatou contra Seguro e o PS parecia uma casa assombrada), o discurso era outro e a TAP era fundamental. Já secretário-geral do PS, em Dezembro de 2014, Costa pronuncia a frase histórica: “É fundamental termos hoje a TAP como foi fundamental no passado termos as caravelas que fizeram os Descobrimentos”.
Um ano depois, antes de formar Governo, em Dezembro de 2015, diz esta pérola depois de uma reunião com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho: “É perigoso para o futuro pretender resolver um problema imediato de capitalização da empresa sacrificando aquilo que é estratégico para o futuro do país, que é a manutenção do controlo público de uma empresa que é hoje um dos pilares da soberania nacional”.
O “pilar da soberania” foi-se esta quinta-feira, quando Fernando Medina anunciou que pelo menos 51% do capital da TAP seria alienado, podendo ir até aos 100%.
Costa de 2023 trai Costa de 2015, aquele que o colocou pela primeira vez no poder. “A soberania nacional não é afirmada simplesmente pela garantia que as Forças Armadas dão sobre a integridade do território nacional. A soberania nacional também é assegurada pela capacidade que o país tem de se interligar com o mundo – e nessa capacidade a TAP tem um papel absolutamente central”.
A TAP, que era quase tão importante como as Forças Armadas, deixou de o ser. Apesar dos lucros. Só dava chatices, não era? O Governo quis livrar-se de chatices. Agora, pode desatar a privatizar tudo o que resta e não resta muito.
A Iniciativa Liberal, o PSD e a direita só não ficam contentes porque vêem, pesarosamente, o PS a cumprir os seus programas.»
[Ana Sá Lopes, “Público” 29/09/2023]