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Parabéns, bom povo açoriano!
Em primeiro lugar, quero saudar o bom povo açoriano, de todas as nove ilhas, da maior à mais pequena, pela lição de civismo, de maturidade democrática e de liberdade que deu nas eleições legislativas regionais. Sinto um grande orgulho em ser originário desse povo e em pertencer a esse povo!
Em segundo lugar, quero felicitar Vasco Cordeiro, que, para mim, é o grande vencedor destas eleições. Não sendo um político perfeito, como ninguém é perfeito, tem sido um verdadeiro “timoneiro” nas “águas difíceis” da pandemia, procurando as melhores soluções para defender os açorianos, perante a lamentável incompreensão de alguns. O povo açoriano está-lhe grato e manifestou nas urnas essa gratidão. Com a sua imagem de boa pessoa, de homem sério e com vontade de servir a terra açoriana e o seu povo, Vasco Cordeiro recebeu a expressa confiança do eleitorado para continuar a governar, embora numa situação de maioria relativa. O povo açoriano não está, de modo algum, contra Vasco Cordeiro, deseja apenas que ele se liberte das “amarras” do Partido Socialista e dialogue mais com os outros partidos com representação parlamentar. Sem Vasco Cordeiro, o Partido Socialista teria perdido muito mais votos e teria menos deputados.
Em terceiro lugar, felicito o PS, que tem agora uma excelente oportunidade de se reencontrar com a sua matriz socialista em grande parte há muito perdida, de recuperar o seu património de força política democrática e de abandonar tentativas absurdas de soluções “dinásticas” nos Açores.
Em quarto lugar, felicito todos os partidos políticos concorrentes a estas eleições, que se comportaram, sem excepção, com grande elevação política e democrática.
Dito tudo isto, regresso a Vasco Cordeiro, que tudo indica vai constituir um novo Governo Regional. Que escolha pessoas competentes e com provas dadas, mesmo que não sejam militantes do PS. Não ceda a nomes impostos pelo PS, não ceda a directrizes de terceiros, procure apenas personalidades com elevado perfil técnico, defensores do regime democrático e apologistas da Autonomia político-administrativa como instrumento fundamental para o progresso das ilhas açorianas.
Vasco Cordeiro tem também agora uma excelente oportunidade para se “libertar” dos Césares. Os Açores devem muito a Carlos César, antigo presidente do Governo Regional dos Açores, mas ele devia ter a humildade de se retirar, como fez Mota Amaral, que ele tanto citou no discurso de encerramento da campanha eleitoral do PS. O tempo de César nos Açores já passou: de nada serviu o seu longo discurso, muito cheio de palavras mas muito vazio de conteúdo. Como está à vista, não ajudou em nada o PS, bem pelo contrário. Deixe agora o “campo” todo para Vasco Cordeiro, que merece e precisa de toda a liberdade para actuar. É deveras lamentável ouvir, como eu já ouvi, militantes do PS dizerem, num misto de orgulho e de gozo, que “o Vasco faz tudo o que o César manda”. É essa, de facto, em grande parte, a imagem que existe e Vasco Cordeiro não merece isso. Ele tem dimensão política, estatuto político e experiência política para não precisar de “tutores”, dentro ou fora do seu partido. Além disso, Francisco César que sossegue, porque seria um desastre completo se obrigassem Vasco Cordeiro a abandonar o novo mandato a meio para ele ser seu substituto como presidente do Governo Regional. Francisco César não tem dimensão política para ser presidente do Governo Regional.
Além de tudo isso, Luísa César é muito simpática e já deu um importante contributo para o projecto de recuperação, conservação e valorização do Palácio da Conceição, em Ponta Delgada. Não há nem vai haver “Casa da Autonomia” alguma, isso é tudo uma fantasia. Luísa César também deve retirar-se desse projecto, para o qual não é necessária qualquer “estrutura de missão”. Existem técnicos muito competentes na Secretaria Regional das Obras Públicas que podem orientar e acompanhar a obra em curso.
Quanto ao principal partido da oposição, o PSD, conseguiu um resultado que não é de desmerecer, mas podia ter reforçado a sua posição eleitoral, se não tivesse cometido vários erros, deveras clamorosos. Cito dois: candidatar a deputado regional um antigo líder que somou derrotas sobre derrotas eleitorais não representando qualquer mais-valia política e candidatar também a deputado regional um militante que já é deputado à Assembleia da República e que logo avisou que não deixaria o seu lugar no parlamento nacional. O líder do PSD-Açores, José Manuel Boleiro, que é também uma boa pessoa, tem muito ainda para aprender e corrigir, para poder chegar mais longe. De resto, a sua saída atabalhoada de presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, suspendendo apenas o mandato, mas dizendo que não regressaria ao cargo, não favoreceu a sua imagem política.
Com os resultados eleitorais alcançados, começa um novo ciclo no regime autonómico açoriano. Acaba uma tentativa de governamentalização da Autonomia regional e a Assembleia Legislativa recupera o seu protagonismo institucional de principal órgão do regime autonómico. Agora, sim, haverá mais democracia, mais diálogo e mais cooperação. É o que os açorianos desejam e foi isso que expressaram nas urnas. O povo ainda é quem mais ordena, apesar de alguns pensarem que não. Parabéns, pois, bom povo açoriano!