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As razões de tanto “ódio”
O dr. Vasco Cordeiro, antigo presidente do Governo Regional dos Açores, presidente do PS-Açores e líder parlamentar socialista na Assembleia Legislativa Regional, é um homem honesto e uma pessoa estimável. Eu ouvi com todo o interesse a entrevista que deu à RTP-Açores. Ele disse, nomeadamente, que o que une os cinco partidos que apoiam o actual Governo Regional é o “ódio ao PS”. Sim, tem razão.
Mas o dr. Vasco Cordeiro parece que ainda não reflectiu sobre a razão ou razões por que se criou tanto “ódio ao PS”. Aqui é que está o principal problema. E a razão ou razões de tanto “ódio ao PS” foram os muitos anos da política socialista de “quero, posso e mando”, em que o PS se transformou em “dono disto tudo” nos Açores, ignorando muitas vezes a oposição e afastando-se também muitas vezes da sociedade, dos seus problemas e das suas necessidades.
O PS começou muito bem, mas acabou mal. O mesmo já tinha acontecido com o PSD. O PS, quando chegou ao Governo Regional, ao fim de muitos anos de governação social-democrata, foi fantástico: abriu a sociedade, trouxe ar político novo, apostou em novos sectores económicos, incrementou novas dinâmicas sociais, realizou obras públicas muito importantes e investiu mais na Educação, entre outras ações. Mas depois, lamentavelmente, foi piorando com os anos, cometendo muitos erros, nomeadamente com projectos sem sentido numa Região Autónoma de limitados recursos financeiros. Dois exemplos apenas: gastou muitos milhões de euros numa “Casa da Autonomia” e num “Centro de Artes Contemporâneas”, que nunca serviram nem servirão para nada, enquanto os hospitais regionais estavam e estão na penúria de meios técnicos e de recursos humanos. Isso não é socialismo democrático: é, sim, má governação!
O PS perdeu a maioria absoluta nas últimas eleições legislativas regionais porque, depois de um início muito bom, acabou governando encerrado em si mesmo, afastado do interesse colectivo, com as suas elites manifestando muitas vezes arrogância política e falta de humildade democrática, como pensando que o poder seria eterno. Enganaram-se!
O dr. Vasco Cordeiro disse, também, que a actual solução política e governamental açoriana, assente em cinco partidos que até já se criticam no parlamento regional, não tem consistência suficiente para ter um projecto de futuro para os Açores. Partilho da mesma opinião. De resto, há secretários regionais, após três meses de serem empossados, parece que não sabem ainda que são governantes, porque não dão qualquer sinal de ação. Devem estar a desinfectar os gabinetes, talvez, porque trabalho não se vê nada. Mas também aqui há um aspecto que o dr. Vasco Cordeiro, apesar de ser um homem inteligente, parece que ainda não percebeu: a “geringonça” açoriana permitiu, pelo menos, abrir a janela da democracia açoriana para entrar ar político novo. A Assembleia Legislativa recuperou o seu papel central, contra a governamentalização que existia do regime autonómico regional. É preciso mais? Com certeza que sim. Então, se o PS, que continua a ser o maior partido no arquipélago embora com maioria relativa no parlamento, quer recuperar a confiança maioritária dos açorianos e das açorianas, tem que se refundar, reorganizar e purificar, recuperando os ideais iniciais, de progresso, justiça social e democracia, longe do “quero, posso e mando” que o caracterizou durante muitos anos.
O PS, se se mantiver como está, com as mesmas ideias e as mesmas práticas, até com dirigentes que cada vez que falam – não me refiro ao dr. Vasco Cordeiro, como é óbvio – só arranjam mais anti-corpos para o partido, então vai continuar por muitos anos na oposição, apesar de a “geringonça” açoriana muito dificilmente conseguir um patamar de maior progresso e de maior felicidade para todos os açorianos e para todas as açorianas, porque faltará sempre a consistência suficiente para um projecto de longo alcance, mesmo com a boa vontade, a competência e a honestidade de vários governantes actuais.
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