timor RELEMBRAR O DESAPARECIMENTO DO ARBIRU

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Tito Duarte

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VOU CONTINUAR…
A tragédia deu origem a uma grande comoção geral pois, não só o comandante Rocha DOres e a esposa Rosentina — conhecida como Babo — eram imensamente queridos, como havia algumas passageiras portuguesas e a tripulação era Timorense. Mas este drama passou a fazer parte das imensas fábulas timorenses, mas, desta vez, não devido à fértil imaginação do povo de Timor mas porque o Governo enveredou por um caminho, que julgo que, até hoje, ninguém entendeu.
Contemos: após vários dias de frenéticas buscas, quer pelos aviões “Dove” de Timor, quer de países da zona, logo que o sobrevivente foi trazido, da ilha das Flores, já o então Chefe dos Serviços Meteorológicos, Dr. Manuel Costa Alves, estranhando os boatos que começavam a correr, pedira, ao Centro Meteorológico de Darwin, que lhe enviasse “cópias das cartas meteorológicas e imagens obtidas por satélite e, segundo conta no livro que publicou, “quando elas chegaram, a evidência era clara, a confirmar o diagnóstico, formado pelos colegas australianos, de que um pequeno e intenso ciclone tropical, localizado justamente na posição indicada pelo marinheiro sobrevivente, e que provava a existência de uma banda nebulosa com curvatura ciclónica próxima do centro da perturbação e que podia ter originado uma tromba d’ água, que é, desfaçam-se equívocos lexcicais, um tornado no Mar”. Mas, o que mais espantou este digno profissional, foi que, apesar de toda a documentação apresentada, o Governador continuou céptico, inclinando-se muito mais — certamente porque lhe convinha — , para as novelas de ataques terroristas, como o de um ataque chinês a pedido da FRELIMO, ou de contrabando de armas ou de droga, não permitindo, tão pouco, que o prestimoso e competente meteorologista se avistasse com o náufrago salvo.
Idêntica cena acontece quando, uma tarde vou entregar ao Governador uma informação, que ele me pedira e, estando no gabinete também o Comandante dos Portos, cuja esposa ia no navio, o Director da Fazenda, o aviador Castro e o inspector daPIDE, este afirmava, cheio de certezas, corroborado pelo Governador, que o navio embarcara bidões vazios, apesar de, tanto eu como o Comandante, afirmarmos que não. Este senhor Inspector, que já enfiara vários “barretes” ao anterior governador, voltava a querer mostrar trabalho e a querer saber mais do que os Serviços Aduaneiros e a Administração do Porto. Não sei, até hoje, qual o propósito de tal invenção (seguros que o Governo teria que pagar?!). O que aconteceu foi, passados alguns dias, de propósito, ter sido publicado, no semanário “A Voz de Timor”, uma foto com o “Arbirú”, atracado à ponte-cais e muitos bidões na ponte.
O que é certo é que a “estória” evoluiu, ao longo dos anos “viram” o navio várias vezes no Porto de Díli, durante a ocupação Indonésia, viram a esposa do comandante em Bali, e até um taxista me disse que vira o “Arbirú” em Hong-Kong quando, a bordo do navio “Timor”, no seu regresso a Portugal, terminada a sua comissão militar, tendo o barco riscos de tinta por cima do nome (inacreditável !!!). Além disso, o alferes, da sua companhia, reunira todos e dissera-lhes, que se mantivessem calados… porque tinha sido um “negócio” de contrabando de armas. Quem não acredita e nada destas invenções é o filho Zé Rocha, tendo perdido pai e mãe, e que afirma que, tendo falado várias vezes com o sobrevivente Paulo do Rosário ele lhe contou sempre a mesma versão do naufrágio. Mas a “Lenda” continuará e, com o passar dos anos, com muitos mais invenções e pormenores.