timor poema de 2012 ainda atual

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547. eleições sem lições em timor (lomba da maia) 8 julho 2012

díli, 23 setº 1973 cheguei hoje a timor português

a vinda marcará a minha vida para sempre

sem o saber nunca mais nada será igual, o futuro começa hoje e aqui

entrei no tempo da ditadura sairei na democracia adiada

 

na bagagem guardo sabores

imagens e odores

sonhos de pátria e amores

divórcios e outras dores

 

cheguei sem bandeiras nem causas

parti rebelde revolucionário

tinha uma voz e usei-a

tinha pena e escrevi sem parar

pari mais livros que filhos

para bi-beres e mauberes

 

48 anos de longo inverno da ditadura

24 de luta independentista

agora que a lois vai cheia

e não se passa na seissal

já maromác se apaziguou

crescem os lafaek nos areais

perdida a riqueza do ai-tassi

gorada a saga do café

resta o ouro negro

para encher bolsos corruptos

sem matar a fome ao timor

 

perdido nas montanhas

sem luz, água ou telefone

repetindo gestos seculares

mascando sempre mascando

o placebo de cal e harecan

mas com direito a voto

para escolher quem o vai explorar

sob a capa diáfana da lei e ordem

do cristianismo animista

oprimido sim mas enfim livre.

 

 

548. queria ser toké (lomba da maia) 11 julho 2012

 

queria ser toké e contar o que vi

desde que partiste em 1975

 

queria saber falar, narrar e recitar

dar os nomes os locais e os atos

de todas as atrocidades, violência e mortes

que testemunhei mudo na minha parede

 

queria ser toké e escrever tudo

queria contar o que não querem que se saiba

queria contar o que não queriam que se visse

queria contar os gritos que ninguém ouviu

 

queria ser água e apagar os fogos

que extinguiram a nossa história

como se não fora possível reconstruí-la

 

queria ser pássaro e levar nas asas

todos os que foram chacinados

violados, torturados e obnubilados

voar com as crianças que morreram de fome

as mulheres tornadas estéreis

 

tanta coisa que queria dar-te timor

e não posso senão escrever palavras

lembrar teu passado heroico

sonhar futuros ao teu lado

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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