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Adesão em 2025 à ASEAN é realista para preparar adequadamente quadros timorenses, diz PM
4 Setembro 2023
por Lusa
O primeiro-ministro timorense disse hoje que a adesão de Timor-Leste à ASEAN em 2025 é realista e permitirá ao país preparar os muitos quadros técnicos e especializados necessários para maximizar as oportunidades de fazer parte daquela organização regional.
“Temos de formar mais quadros, procurar recursos humanos competentes em áreas importantes, relativamente ao que ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático] nos pode dar e ao que podemos dar à ASEAN. Áreas muito relevantes, especialmente porque sabemos que o objetivo do mandato deste Governo é desenvolver a economia”, disse Xanana Gusmão em entrevista à agência Lusa.
“Sobretudo no setor da economia, do investimento e das áreas relacionadas com este propósito e com esta interligação com os países da ASEAN, precisamos de gente capaz. Já fizemos uma análise e vemos que ainda estamos fracos em vários aspetos”, afirmou.
O chefe do IX Governo timorense participa na cimeira da ASEAN depois de Díli ter fixado o ano de 2025 como a meta para a adesão, processo que se chegou a debater poder ser concluído ainda este ano e ainda sob a presidência rotativa da Indonésia.
Um complexo roteiro de adesão implica que Timor-Leste terá de alcançar várias metas essenciais antes da conclusão de um processo que se arrasta há vários anos, mas que teve o seu maior impulso em 2022 com a votação a favor do estatuto de observador.
À Lusa em Jacarta, onde esta semana representa o Estado timorense na 43.ª Cimeira da ASEAN, Xanana Gusmão admitiu que a meta deste ano era excessivamente otimista, em termos de calendário.
“Iniciámos este processo de adesão no IV Governo. E sim, podemos falar de otimismo em relação à pressa, sim, mas não de otimismo em relação a querermos a adesão, porque isso é uma posição global, de todo o Estado”, disse o primeiro-ministro.
Timor-Leste já esteve representado na primeira cimeira deste ano, também organizada pela Indonésia, em Labuan Bajo, com o então primeiro-ministro Taur Matan Ruak a ser o primeiro líder timorense a intervir num encontro da organização regional.
E ainda que o país não esteja formalmente integrado, Taur Matan Ruak já entrou na `foto de família` dos chefes de Estado e de Governo que hoje decora a página principal da presidência indonésia da ASEAN.
Xanana Gusmão explicou que mais do que intervir no encontro, se trata de ouvir e de “trabalhar com os dedos”, registando as impressões, comentários e posições dos membros da organização, para compreender melhor os assuntos em cima da mesa.
A reunião de Jacarta ocorre num momento de vários desafios complexos para a ASEAN, incluindo a questão do Myanmar, alvo de um golpe de Estado e liderado por uma junta militar que está, formalmente, impedida de participar nas reuniões de alto nível da organização.
O assunto assumiu alguma polémica nas últimas semanas depois de Xanana Gusmão criticar a ação da junta militar, instando a ASEAN a resolver a situação, em declarações que levaram a junta a expulsar o encarregado de negócios timorense naquele país.
Hoje, Xanana Gusmão reiterou a sua posição sobre o assunto, afirmando que se trata de defender os princípios que Timor-Leste sempre defendeu e de contestar, entre outros aspetos, a prisão da líder nacional Aung San Suu Kyi
“O meu perfil é dizer abertamente, claramente as coisas, o que penso. A reação deles de expulsar o nosso representante diplomático é normal. É uma medalha para nós. Mas acredito que as minhas declarações não impedirão a nossa preparação para a adesão porque todos apoiam a nossa adesão”, afirmou.
“Há benefícios [com a adesão], mas nunca devemos esquecer que os valores devem estar sempre acima dos benefícios que podemos receber. Temos de ser coerentes com a nossa posição, com a nossa visão do mundo”, enfatizou.
A propósito da situação em Myanmar, a chefe da diplomacia indonésia, Retno Marsudi, disse hoje aos jornalistas que a ASEAN está empenhada em ajudar a ultrapassar a situação no Myanmar, tema que deverá marcar parte da agenda da cimeira.
“A nossa presidência trabalhou arduamente para impulsionar uma solução de unidade para a ASEAN. A ASEAN só pode avançar com toda a sua força se formos capazes de assegurar uma solução pacífica e duradoura para o Myanmar”, vincou Marsudi.
Nesse âmbito, destacou, os Estados membros vão analisar novamente o roteiro de cinco pontos para alcançar a paz, aprovado anteriormente para a organização, antes de uma recomendação dos chefes de Estado e de Governo da ASEAN sobre a matéria.
Xanana Gusmão, que discursou no Fórum Empresarial da ASEAN, mantém hoje um encontro de cortesia com o Presidente indonésio Joko Widodo, antes de dois dias intensos de reuniões na cimeira e a nível bilateral.
Entre os encontros previstos, à margem da cimeira, contam-se reuniões com o seu homólogo australiano, Anthony Albanese, e com o secretário-geral da ONU, António Guterres.
ASP // VQ
Lusa/Fim
PM timorense exorta ASEAN a fortalecer resiliência e estabilidade nos Estados frágeis
Jacarta, 04 set 2023 (Lusa) – O primeiro-ministro de Timor-Leste exortou hoje a ASEAN a contribuir para uma nova ordem mundial, usando a sua própria experiência de consolidação regional para fortalecer a resiliência e estabilidade dos Estados mais frágeis.
“Reconhecendo as extraordinárias conquistas da ASEAN, acredito que tem um papel a desempenhar ajudando a construir resiliência e estabilidade em Estados frágeis”, disse Xanana Gusmão, num fórum empresarial em Jacarta.
A Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), disse Gusmão, “pode fornecer modelos de desenvolvimento soberano para a construção de comunidades fortes, infraestruturas sociais e resiliência económica”.
O primeiro-ministro, que chegou hoje a Jacarta para participar na 43ª. Cimeira da ASEAN, falava no segundo dia do Fórum Empresarial e de Investimento, dedicado ao tema da resiliência e estabilidade na região no contexto das fraturas da economia global.
“Exorto agora a ASEAN a fazer mais – peço que olhe para além da nossa região e se torne parte de uma rede global de apoio aos Estados frágeis, onde a democracia e os direitos humanos são a base da construção de Estados pacíficos”, afirmou Gusmão.
“Numa economia global volátil, a ASEAN pode dar um importante contributo para o reforço da resiliência e da estabilidade internacionais, através da tolerância e da dignidade humana. Trabalhando em conjunto, podemos estabelecer uma melhor ordem internacional baseada numa visão de solidariedade humana e prosperidade partilhada”, considerou o chefe de Governo.
O líder timorense disse que são necessárias novas soluções para a ordem mundial, vincando que “o Ocidente não tem as respostas para o desenvolvimento global”, com um planeta cada vez mais economicamente interligado, mas “demasiados Estados frágeis a enfrentarem a exclusão económica e maus resultados em termos de desenvolvimento”.
Por isso, afirmou Gusmão perante centenas de empresários e líderes económicos regionais, a ASEAN pode usar a sua própria experiência, especialmente na consolidação da capacidade dos Estados, da construção de Governos eficazes, Estado de direito e ordem pública, com uma “mão de obra saudável e instruída”.
“Enquanto tantos países em todo o mundo lutam contra a fragilidade e a agitação, a ASEAN fornece exemplos de economias emergentes fortes que estão estruturadas para o benefício das pessoas”, considerou o primeiro-ministro.
Recordando as “notáveis conquistas económicas” da ASEAN e de vários dos seus países, Gusmão destacou ainda a capacidade da organização para ajudar a “construir nações fortes e estáveis a partir da fragilidade e do conflito”.
Êxitos, vincou o timorense, que não estão a ser replicados noutras zonas do mundo onde perdura a guerra e os conflitos e onde, “em vez de cooperação e harmonia, há a perda generalizada da dignidade humana e da esperança”.
“Muitos países do mundo são incapazes de se integrar, de forma significativa, na economia global. E isso está a levar a que muitas pessoas vivam sem esperança, sem um emprego digno, muitos a viver em favelas, em sociedades que estão em crise”, recordou Gusmão.
Também são os Estados mais frágeis, vincou o primeiro-ministro, que sentem em maior escala os efeitos das alterações climáticas, com povos do Pacífico a viver com a subida do nível do mar, perante a “incapacidade das potências globais” em responder à crise ambiental.
“O fracasso do sistema económico global em desenvolver as regiões mais pobres do mundo está a resultar em fragilidade e perigosos declínios na capacidade do Estado. Está a alimentar a migração em massa e as tragédias a que assistimos nas costas da Europa”, disse Gusmão.
“Está a alimentar o extremismo, o crime transnacional e o crescimento de grupos de milícias”, sublinhou o líder do Governo timorense.
Avaliar o que se passa, sublinhou Gusmão, implica reconhecer os ecos da história, dos sucessivos impactos de conflito, exclusão económica e “intervenção estrangeira que mantém estes países presos num estado de fragilidade”.
Motivo pelo qual, disse o primeiro-ministro, é necessária “uma ordem internacional que se baseie numa visão de solidariedade humana e prosperidade partilhada”, que “ajude os Estados frágeis a reforçar a resiliência e a estabilidade”.
ASP // VQ
Lusa/Fim
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