TIMOR, Em Memória das vítimas do Massacre de Kraras

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Em Memória das vítimas do Massacre de Kraras
Com o falhanço do «Kontak Dame*», e não tendo sido acatada a ordem de rendição, a Indonésia pagava a bom preço a quem lhe trouxesse a cabeça de Xanana Gusmão que nessa altura preparava o Levantamento Nacional dos timorenses armados pelo ocupante e servindo nas suas forças militares. Em Ossú, Baucau e Kelikai,, estava esse levantamento a ser organizado por Francisco Guterres (Lu-Olo).Na Ponta Leste, os timorenses armados servindo nas forças indonésias estavam a cargo de Miguel dos Santos e em Viqueque a cargo de Domingos Raúl (Falur.Rate.Laek*).
O Levantamento Nacional preparado pelo Comando da Luta estava previsto para 17 de Agosto, dia em que na Indonésia se comemora a independência do país e que era igualmente o dia em que o General Benny Murdani pensava lançar a OPERASI PERSATUAN* como havia ameaçado fazer caso a Resistência não se rendesse. Contudo, um acontecimento ocorrido em Kraras, um campo de concentração de cerca de duas mil almas situado a 7 kms de Viqueque obrigou a uma antecipação dos acontecimentos que se preparavam.
Na primeira semana de agosto, um Ratih* saiu de Kraras e chegou à floresta para informar a FRETILIN dos raptos e da violação das mulheres praticados pelos soldados indonésios do Zipur B. Uma força de guerrilha constituída por Ologari, Mau Kalo, David Alex, Taur Matan Ruak, Hodu e Kilik. Partiram para Kraras e tomaram de assalto o campo indonésio. Nesse 8 de agosto, obedecendo às ordens dadas aos Miplin* pelo Comando da Luta , os Ratih de Kraras comandados por Virgilio dos Anjos, tendo encontrado os soldados recém chegados do deboche atacaram o pelotão Zipur B e no confronto foi abatido o major Sukiarjo e 14 soldados indonésios da arma de engenharia. Só o capitão Pulunban, apesar de ferido, conseguiu escapar com um soldado indonésio. O pelotão de Virgílio dos Anjos capturou 17 armas e diverso material de guerra. Foram libertados os presos e toda a população de Kraras. Os membros da Ratih fugiram com os ativistas clandestinos do suco de Bibileo e reuniram-se à FRETILIN nas montanhas. Os aldeãos de Krarás e das aldeias vizinhas que se lhes juntaram fugiram para a floresta .O Levantamento Nacional foi antecipado e entre 5 e 8 de Agosto de 1983, em resposta ao apelo de Xanana Gusmão, centenas de membros dos grupos de defesa civil, incluindo Wanra*, Hansip* , Ratih* e outros fisicamente capazes das aldeias de Mehara, Lautém, Lore e Luro em Lospalos , fugiram das suas aldeias e uniram-se nas montanhas às forças da 3ª Companhia comandada por José Rojas Henriques (Ko´o Susu) Os levantamentos de Krarás e Lautém assinalaram o fim de um cessar fogo que fora acordado entre as forças indonésias e a Resistência em março de 1983, e o início da Operasi Persatuan comandada por Benny Murdani.
O aldeamento de Kraras foi destruído pelos indonésios a 7 de setembro de 1983. Da população de Kraras sobreviveram ao massacre 570 habitantes. Para substituir o aldeamento de Kraras foi erigido o campo de concentração de Klalerek Mutin.
Kontak Dame-Conversações de paz.
Falur Rate Laek( o pombo que não tem túmulo),
OPERASI PERSATUAN (OPERAÇÃO UNIDADE)
Ratih,Wanra,Hansip-forças de defesa civil indonésia integradas por timorenses.
Excerto do livro Os Timorenses(1980-1988) com lançamento previsto para setembro.
Foto:cerimónia em memória das vítimas do massacre de Kraras.
Joana Ruas