TIMOR E A NOVA DILI QUE NUNCA O FOI

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Rui Sá Pinto Correia replied to a comment on a post from 2 July 2016.

Cutulau (Em busca de Nova Díli) – 2ª Viagem exploratória

A 5 de Abril de 1946, Oscar Freire de Vasconcelos Ruas, encarregado do governo, determina após aprovação do Ministro das Colónias, que a cap...

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A 5 de Abril de 1946, Oscar Freire de Vasconcelos Ruas, encarregado do governo, determina após aprovação do Ministro das Colónias, que a capital de Timor seja transferida para Cutulau.
Esta transferência pretendia solucionar a necessidade de resolução dos problemas de saúde que caracterizavam Dili, reconhecidamente insalubre e a situação de ruína em que ficara a cidade depois da ocupação nipónica, para uma região de melhor clima onde se pudesse construir de raiz uma nova capital.
A mudança de localização da capital nunca se viria a realizar, por se terem de imediato mobilizado os recursos e meios para a recuperação das infra-estruturas existentes em Dili, deixando sem sentido a proposta de edificação de uma Nova Dili, remetendo assim este projecto para o esquecimento.

Esta é a segunda tentativa de reconhecimento do local a que se referiam.
Na lista de locais com este nome surgia próxima a Díli a aldeia de Cutulau no vizinho Municipio de Liquiçá, Posto Administrativo de Bazartete.
Em verdade viria a perceber que Nova Dili estava projectada para esta outra Cutulau, mais proxima a Díli, no Posto Administrativo de Laulara, Aileu.

Ruy Cinatti, a Cutulau se referiria na sua obra poética (Para uma corografia emotiva de Timor, 1946-1972)

Cototalu – cidade,
toda a cumeada.
Cidade sonhada
que nunca existiu.

Cotolau – ó ermo
de eucaliptos pretos
de ramadas altas
e crepes de líquenes!

Cotolau – a pedra
da inauguração,
encontrei-a eu,
coberta de musgo.

Cotolau – ó sonho,
por quem estás de luto?
Podem indicar-me
onde é Nova Díli?

Cotolau – deserto.
Fui a Cotolau
e trouxe de lá
braçadas de lírios!

“Nova Díli, o grande sonho do governador Óscar Ruas (1946-50) que nela via a futura cidade residencial, não passou de um sonho assaz custoso em dinheiro e esforço. O fitogeógrafo E. Meijer-Drees, dos Serviços Florestais holandeses, depois indonésios, dizia-me, opondo-se, de certo modo, aos desejos do governador, que, de facto, não se morreria de malária, como em Díli, senão de pneumonia, ou de acidentes de viação. O sítio, por lindo que o seja, não tem condições urbanísticas, por se reduzir quase que exclusivamente a uma faxa e cumeada desprovida de água, e com a base das nuvens baixas descendo a níveis inferiores na época das chuvas. Daí, as pneumonias – clima frio e húmido, que os liquenes denunciam, e também ventoso – e os acidentes de viação – declives muito pronunciados, quase abruptos mesmo, imersos em nevoeiro durante, pelo menos, quatro meses por ano, embora com abertas matutinas.”

(Paisagens Timorenses com vultos, Ruiy Cinatti, Relógio D’Água, 1996)