TEÓFILO BRAGA Inovação na Escola Secundária das Laranjeiras

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Inovação na Escola Secundária das Laranjeiras

Na Escola Secundária das Laranjeiras está em curso uma experiência inovadora na utilização da Horta Pedagógica. Digo inovadora porque antes não existia e porque pretende não só resolver um problema, uma subutilização do espaço, como ir mais longe na valorização dos trabalhos da terra e na educação para uma cidadania ativa.

Tudo começou com a eleição de um novo conselho executivo, no ano letivo 2018-2019, que no seu programa de candidatura incluía a dinamização da Horta e um rearranjo de todos os espaços verdes.

No primeiro ano de exercício, dada a instabilidade do corpo docente, pouco foi alterado no funcionamento da horta, mas foram dados alguns passos no que diz respeito às podas desnecessárias de algumas plantas ornamentais, como os plátanos (Platanus acerifólia), ou as tipuanas (Tipuana tipu) que nunca floriam e que passaram a expor a beleza das suas flores.

Sobre as podas, que eram feitas por hábito ou por vício, por pressão de não docentes, suponho que para evitar a limpeza das folhas que caiam, o arquiteto Ribeiro Teles defende que, no que diz respeito às árvores ornamentais ou florestais, não são operações culturais normais e que as árvores devem manter a sua forma natural e não, acrescento eu, verem os seus ramos decepados ou suas copas transformadas em fundos de frigideiras, como se pode ver em diversos estabelecimentos escolares.

No que diz respeito à horta propriamente dita, que ocupa uma área de cerca de dois alqueires, a (r)evolução começou este ano letivo com uma proposta apresentada por um docente em Conselho Pedagógico, que foi aprovada por unanimidade. Na proposta, depois de defender que as hortas escolares são uma boa ferramenta pedagógica para trabalhar valores como a responsabilidade, a cooperação e a autonomia, podendo inspirar mudanças de comportamentos imprescindíveis para tornar a Terra mais sustentável, o autor sugeriu que para dinamizar parte do espaço fosse criado um clube de hortofloricultura e fossem cedidos talhões a elementos da comunidade educativa.
O conselho executivo não teve mãos a medir e incumbiu a dois docentes a tarefa de concretizar o aprovado. Assim, depois de um período de inscrições para membros, foi criado o Clube de Hortofloricultura da Escola Secundária das Laranjeiras que tem os seguintes objetivos: promover o gosto pela hortofloricultura, dinamizar a Horta Escolar, fomentar o intercâmbio de saberes e experiências; permutar sementes e plantas e utilizar a Horta como instrumento de educação ambiental, alimentar e cívica.

Embora sem periodicidade definida, começou a publicar-se, em novembro, um boletim denominado “A Joaninha” que em cada número divulga informação sobre os trabalhos agrícolas a fazer na época, faz a descrição de uma planta da horta, com a indicação do seu nome científico, a sua distribuição geográfica e a sua utilização, quer como alimento, quer como condimento, ou uso na medicina popular. Há, também, uma secção sobre plantas ou sementes disponíveis para permuta ou oferta e, por último, a “árvore do mês”, que não é mais do que a apresentação, com indicação do nome científico, família e origem de uma das árvores existentes na escola.

Criado o clube, passou-se de imediato à ação, com a realização de uma reunião onde foi feita a distribuição dos 15 talhões disponíveis por docentes e um não docente, tendo logo a seguir começado, com grande entusiasmo, as sementeiras e as plantações. Hoje, já se está em período de colheita, sobretudo de nabos e rabanetes.

Alguns professores já começaram a fazer visitas com os seus alunos que têm a oportunidade de ficar a conhecer as árvores de fruto presentes na horta e as espécies cultivadas pelos docentes e não docentes, bem como pelos seus colegas que lá têm aulas práticas, em disciplinas específicas.

Termino este texto com o extrato de um relato de uma visita à horta feita no passado dia 2 de março pela aluna Clara B., do 7º ano de escolaridade, publicado no 3º número de “A Joaninha”:
Hoje, na aula de cidadania, a nossa turma foi visitar a horta da escola. Vimos várias árvores de fruta, como laranjeiras, romãzeiras, anoneiras, e um abacateiro.
Observamos as pequenas hortas dos professores e funcionários da nossa escola, onde alguns deles têm batatas, faveiras, feijoeiros, curgetes, cebolinhos, tremoço de cheiro, cebolas, cenouras e beterrabas.
A horta está a renascer pouco a pouco o que é bom para a nossa escola.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores 32089, 25 de março de 2020, p. 15)

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