TENHAM MEDO DAS EMPRESAS PÚBLICAS

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TENHAM MEDO DAS EMPRESAS PÚBLICAS
O trágico acidente com o funicular da Glória, em Lisboa, trouxe à evidência a tradicional gestão desadequada e obsoleta com que as empresas públicas encaram a segurança das suas infraestruturas.
Não temos uma cultura de prevenção, pelo contrário, cultivamos muito o facilitismo e o desenrascanço à portuguesa.
Muitas vezes nem é culpa dos gestores, mas do próprio Estado que não disponibiliza ou negligencia os recursos necessários para um bom desempenho.
Nos Açores são conhecidas as dificuldades que as empresas públicas enfrentam para um desempenho cabal e com qualidades da sua missão, sobretudo nos tempos que correm, com os cofres da administração regional praticamente vazios.
O sector empresarial público regional é conhecido pela facilidade com que recruta e nomeia clientela política, enxameado de gente do partido no poder, descurando o investimento em equipamentos e outros recursos que contribuem para um melhor serviço público.
Ainda agora tive a possibilidade de verificar, por exemplo, a permanente falta de manutenção de gruas em vários portos de pesca das nossas ilhas, alguns enferrujados e a precisar de substituição.
Os pescadores que utilizam estes equipamentos estão sempre com o credo na boca e, em caso de avarias, como acontece regularmente, os horários dos técnicos da Lotaçor não coincidem com a labuta dos pescadores, sobretudo aos fins de semana.
Aliás, a Lotaçor deve ser a única empresa do mundo que não adequa os seus horários aos dos pescadores, como até os obrigam a não pescar devido à sobrelotação da armazenagem em frio.
Há, até, esta situação caricata, que é obrigar os pescadores a capturarem Bonito apenas de dois em dois dias!
É como se o governo decidisse que os açorianos só poderiam trabalhar de dois em dois dias, com a consequente quebra de rendimento, porque não tem capacidade para guardar tanta produção e riqueza.
Onde já se viu um país ou uma região travarem a criação de riqueza?
As negligências e incompetências em gestão pública nunca têm consequências.
Lembram-se da gestão ruinosa na SATA com a contratação de aviões desadequados, como o “cachalote”?
Lembram-se do cabeço de amarração enferrujado do molhe do porto de S. Roque do Pico, que provocou uma vítima mortal, em 2014, com a Portos dos Açores a lavar as mãos do problema?
E o recente incêndio no HDES, que poderia ser evitado se os equipamentos fossem outros?
Há infraestruturas críticas que necessitam de uma atenção redobrada por parte da gestão pública, mas não é o que se vê.
Em gestão pública a responsabilidade morre sempre solteira, não faltando exemplos de má gestão com reflexos ruinosos para o orçamento público e a algibeira do contribuinte.
Lembram-se do negócio da Sinaga?
Lembram-se da Saudaçor?
Sabem o que faz uma empresa pública chamada Ilhas de Valor?
Sabem quantos Observatórios existem na Região, o que fazem e quantas pessoas empregam?
Sabem que o actual governo quer criar mais Observatórios?
E quantos milhões custam à Região empresas públicas inúteis?
Só na Saudaçor o calote foi mais de 800 milhões de euros.
Até a EDA, que dá lucro, distribui os dividendos pelos accionistas, mas logo a seguir vai à banca contrair dívida para investimentos. O passivo já roça os 400 milhões!
Se juntarmos o passivo das empresas do Grupo SATA (Holding 200 milhões de dívida, Azores Airlines 223 milhões e Air Açores 55 milhões), Portos dos Açores (149 milhões), Lotaçor (21 milhões), Ilhas de Valor (9,9 milhões) e Atlanticoline (2,9 milhões), tudo somado já anda à roda dos mil milhões em dívidas.
Some-se a todo este descalabro as dívidas das empresas municipais, pois também proliferam como cogumelos, e temos uma tempestade perfeita.
Noutra dimensão, como ainda questionava há poucos dias o Diário Insular, para que servem um Atlantic Center e um Air Center, que nem tão pouco têm sede nos Açores?
Qualquer dia também vamos criar uma empresa pública para gerir os 17 milhões de euros com que vai custar a penosa Assembleia Regional este ano.
Haja alguém com coragem para pôr ordem na casa.
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GESTÃO BUROCRÁTICA – Há gente na administração regional que só serve para complicar.
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande (declaração de interesses: sou sócio) resolveu ajudar o excelente Festival Azores Burning Summer, na belíssima Praia dos Moinhos, transportando pessoas nas viaturas dos doentes não urgentes, com pagamento por parte da organização.
Uma iniciativa de louvar, à semelhança de outras para recolha de recursos financeiros, já que a administração regional é incapaz de financiar todas as associações de bombeiros da Região.
Mas eis que surgem os burocratas públicos: “Ai que isto é contra a lei”!
A Protecção Civil deu-se ao ridículo de se insurgir contra este tipo de angariação de fundos, argumentando com uma lei absurda e obtusa, contra a qual – aqui sim – devia levantar a voz resmungona.
Esta Região está recheada de burocratas da treta.
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GESTÃO POR INACÇÃO – Aqui vai outro exemplo recente da má gestão pública da nossa administração regional.
A Escola do Mar e o Governo dos Açores prometeram, por mais de uma vez, recuperar a velha e saudosa “Espalamaca” da ilha do Pico e pô-la a navegar.
É uma aspiração de vários anos, a que se dedicou de alma e coração a Associação dos Amigos do Canal, conseguindo fazer a recuperação possível, com um investimento de mais de 100 mil euros.
A Associação denunciou agora que, da parte do Governo dos Açores, nada foi feito e não deram os recursos necessários à Escola do Mar para completar a recuperação da “Espalamaca”, doada à Direcção Regional da Cultura (outra vez ela), que nunca actualizou o seu registo na Capitania da Horta, nem estabeleceu a sua categoria de navegação.
A “Espalamaca” jaz nos estaleiros da Madalena, em mais uma franca degradação, tendo como companhia fúnebre um contentor com os dois motores generosamente oferecidos.
É assim que a nossa administração pública regional gere o nosso Património.
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GESTÃO FUNESTA – Não é só na gestão pública que os partidos políticos nos surpreendem.
Na sua própria gestão de nomeações e candidatos a lugares, não param de nos surpreender.
O Chega, que se diz diferente dos outros, também já aprendeu a “importar” listas completas de candidatos da metrópole para as autárquicas dos Açores.
Não faltam exemplos, mas veja-se esta pérola, que transcrevo do “Jornal do Pico” desta semana: “O Jornal do Pico também pretendia entrevistar a candidata do Chega à Câmara Municipal de S. Roque, tal como fez com os outros candidatos, mas a Mandatária Regional do Partido, Olivéria Santos, disse, em conversa telefónica, que a mesma não se sentia à vontade para tal. Assim sendo, a Assessora de Imprensa do Chega remeteu a fotografia da candidata, Lúcia Alpalhão, bem como a seguinte informação sobre a mesma: Lúcia do Carmo de Jesus Alpalhão, tem 42 anos e é Assistente Funerária”.
Escondem que é da Amadora.
Fica a sete palmos e meio de S. Roque do Pico.
Osvaldo Cabral
Setembro 2025
(Açoriano Oriental, Diário Insular, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)

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