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MURROS NO ESTÔMAGO E OUTRAS MALEITAS MENOS GÁSTRICAS
Um dos aspetos positivos de se escrever livremente e de se publicar com responsabilidade sobre os livros de que se gosta é a coerência de opinião, por isso, e por interpelação, nada me custa reiterar tudo aquilo que escrevi, há umas semanas, num comentário decorrente da leitura do livro «Jénifer, ou a Princesa da França As Ilhas (Realmente) Desconhecidas», da autoria do escritor terceirense Joel Neto.
Editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, este não é um texto laudatório, e aquele leitor que, chegado ao final, lhe conseguir ficar indiferente, votando-o ao descrédito, ou não entendeu verdadeiramente o teor do que ali vem narrado ou então não percebeu as vantagens que traz assim como a intencionalidade com que se escreveu aquela obra.
A mim, porque me preocupa mais a emergência social em que sobrevive uma boa parte da população, reitero que terá de haver no leitor, e “A cada página, um esmurrar de estômago pelo confronto com aquilo que, efetivamente, é a realidade de tantos açorianos”. Penso desta forma por saber que aquilo que ali está escrito é o triste dia a dia de muitas crianças em idade escolar e, inevitavelmente, a condição de muitas famílias açorianas. Eu conheço-as e as suas circunstâncias chocam-me todos os dias, e mais ainda quando as vejo registadas daquela forma. Tenhamos presente que, para além do absentismo escolar, trabalho infantil, gravidez na adolescência, incapacidade institucional para travar estes problemas (ali muito bem narrados), nas nossas escolas a fome existe e, infelizmente, não se trata de ficção literária, sendo, qualquer uma destas problemáticas muito fácil de se comprovar.
É por tudo isto que não entendo por que razões se insurgem algumas pessoas contra este livro e contra quem o escreveu. Se há quem utilize a sua arte para amplificar a denúncia destes e de outros problemas, ainda bem, é mais uma voz que chega para ajudar. Tudo o resto não é relevante e pouco me diz. Importa-me mais a resolução rápida destes flagelos do que quaisquer desavenças políticas ou outras.
Para além disso, aprecio na literatura o realismo que esta possa veicular, especialmente aquele que se mostre capaz de intervir e de espoletar na sociedade o compromisso necessário à mudança, por isso, só posso reforçar o meu profundo agradecimento ao autor por continuar a alertar para os problemas que todos conhecerão, mas que, infelizmente, tardam a desaparecer.
De resto, a todos, umas boas leituras, e a cada um, um abraço dos maiores.
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