TAIWAN PERDE MAIS UM PAÍS APOIANTE

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Taiwan perde mais um aliado diplomático para a China dias após as presidenciais.
Decisão da ilha de Nauru reduz para 12 os Estados que mantêm relações diplomáticas com Taipé.
Investigador diz ao DN que Pequim tem vindo a tentar, com sucesso, isolar cada vez mais Taiwan.
Taiwan perdeu ontem mais um aliado diplomático para Pequim, quando Nauru, um país insular do Pacífico, anunciou que iria reconhecer a República Popular da China e procurar restabelecer os laços entre os dois países pensando “no melhor interesse da República e do povo de Nauru”.
Este corte de relações surge dois dias depois de o vice-presidente e candidato do Partido Democrático Progressista (DPP), William Lai, ter vencido as eleições presidenciais de Taiwan com 40,05% dos votos e deixa Taipé reduzida um grupo de 12 Estados com quem mantém relações diplomáticas.
Foi através de uma breve declaração que Nauru anunciou que passava a reconhecer o princípio ‘Uma só China’ e que iria procurar reatar relações diplomáticas plenas com Pequim.
“Nauru reconhece a República Popular da China como o único governo legal que representa toda a China e pretende reatar relações diplomáticas plenas” com este país, sublinhou o governo da ilha do Pacífico em comunicado,
dizendo que esta mudança de política é um primeiro passo para “fazer avançar o desenvolvimento” da pequena república oceânica.
Para o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros de Taipé, Tien Chung-kwang, a decisão de Nauru é um sinal de que a China “está sempre a tentar abafar Taiwan” na cena internacional.
“Temos toda a confiança nos países com os quais mantemos boas relações. Não vamos cair na armadilha da propaganda chinesa, mas é claro que continuamos muito alarmados com a situação”, disse o responsável quando questionado se Taiwan temia um “efeito cascata” dos seus outros aliados diplomáticos.
Posteriormente, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan afirmou na sua conta oficial na rede social X que o corte nas relações desta vez “não é apenas uma retaliação da China” contra a eleição da ilha, “mas também um desafio direto à ordem internacional”.
“Taiwan permanece inabalável e continuará a ser uma força para o bem”, afirmou o ministério.
Já Pequim manifestou o seu “apreço” pela decisão do governo de Nauru.
“Como país soberano e independente, Nauru declarou o seu reconhecimento do princípio ‘Uma só China’, cortou as suas chamadas relações diplomáticas com as autoridades de Taiwan e manifestou a sua disponibilidade para retomar as relações diplomáticas com a China”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em comunicado.
“A China aprecia e saúda a decisão do governo de Nauru”, afirmou a mesma fonte, acrescentando que Pequim está pronta para “abrir um novo capítulo” na relação entre os dois países.
Na opinião de Luís Cunha, investigador no Instituto do Oriente (ISCSP/Universidade de Lisboa), “isto tem obviamente a ver com a China e com a maneira como a China lê o resultado das eleições em Taiwan.
A China tem vindo a tentar isolar cada vez mais Taiwan e tem conseguido”.
“Basta dizer que nos últimos oito anos, que correspondem ao consulado da senhora Tsai, foram sete os países que deixaram de ter relações diplomáticas com Taiwan.
E recordo que a China também fez um avanço diplomático nas ilhas do Pacífico Sul e é natural que haja mais do que uma a cessar relações com Taiwan”, prossegue, em declarações ao DN, este especialista em geopolítica da Ásia-Pacífico.
Este avanço diplomático da China na região é acompanhado por alguma perda da influência dos Estados Unidos, os grandes aliados de Taiwan, na Ásia-Pacífico, segundo Luís Cunha:
“O último documento estratégico australiano, um documento oficial, refere que os Estados Unidos deixaram de ser a potência unipolar na Ásia-Pacífico, o que vindo de um dos grandes aliados de Washington na região dá um pouco a medida de que o poder de influência entre aliados que os Estados Unidos tinham já não é exatamente o mesmo”.
“Isto não quer dizer que se esteja a perder de todo, porque não está.
Temos uma série de alianças a funcionarem e que os Estados Unidos estão a reforçar, quer com a Austrália, quer com o Japão, quer com a Coreia do Sul, quer destes países entre si, o que é um dado muito curioso”, sublinha o investigador,
dando como exemplo, a nível militar, “a notícia de que o Japão vai fabricar mísseis Patriot para os Estados Unidos, o que é muito significativo.
Portanto, há uma perda de influência dos Estados Unidos na Ásia-Pacífico, mas é muito relativa”.
Menos votos e sem maioria
Luís Cunha refere que as eleições presidenciais e legislativas deste sábado revelaram várias coisas, sendo uma delas o facto de o independentista William Lai ter conseguido apenas cerca de 40% dos votos,
um resultado inferior ao obtido pela ainda presidente (também do DPP) nas duas vezes que foi a votos.
“Mas mais significativo foi o facto de o DPP não ter conseguido a maioria no Parlamento, o que vai obrigar a uma espécie de geringonça em Taiwan, ou seja, vamos assistir a acordos pontuais entre os partidos, o que vai limitar, de certo modo, a presidência de Lai”.
Em termos externos, prossegue o investigador, “este novo presidente, à semelhança dos outros dois candidatos, vai continuar a trajetória do reforço da posição externa de Taiwan, apoiando-se muito no seu aliado tradicional, que são os Estados Unidos, e também no Japão”.
Aliás, ontem o presidente eleito de Taiwan reuniu-se com o antigo conselheiro de segurança nacional dos EUA Stephen Hadley e com o antigo secretário de Estado adjunto James Steinberg, enviados com o apoio da Casa Branca, na sede do DPP, segundo a agência oficial CNA.
Lai aproveitou para enaltecer o comunicado do governo norte-americano após as eleições e que demonstra a “forte camaradagem” entre os EUA e Taiwan.
Também a presidente ainda em exercício, Tsai Ing-wen, saudou a visita da delegação norte-americana, dizendo que esta “demonstra plenamente o apoio dos Estados Unidos à democracia taiwanesa e sublinha a parceria estreita e sólida entre Taiwan e os Estados Unidos”.
“Esperamos que as relações com Taiwan continuem a progredir e a desempenhar um papel de liderança na prosperidade e no desenvolvimento da região e do mundo”, acrescentou Tsai.
No domingo, o governo chinês apresentou uma queixa formal aos Estados Unidos sobre a reação do Departamento de Estado ao resultado das eleições em Taiwan,
em que Antony Blinken felicitou Lai e disse esperar trabalhar com ele e promover a relação bilateral “não oficial” de longa data.
Para a China, as declarações dos EUA “violaram gravemente o compromisso político dos EUA de manter apenas relações culturais, comerciais e outras relações não oficiais com a região de Taiwan e enviaram um sinal errado às forças separatistas que procuram a independência” da ilha.
Para o investigador, a grande incógnita do triângulo Taiwan-China-Estados Unidos é mesmo o terceiro vértice, por causa das presidenciais de novembro, que deverão colocar frente a frente Joe Biden e Donald Trump.
“A administração Biden tem feito alguma coisa para reforçar os laços com Taiwan, embora isso não seja do agrado de Pequim.
Ao mesmo, tempo vai continuar a tentar dialogar com a China, mas há sempre esta linha vermelha, que é Taiwan”.
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Luis Almeida Pinto

Nos últimos oito anos Taiwan perdeu os seguintes aliados diplomáticos, para além de Nauru: São Tomé e Príncipe (2016), Panamá (2017), República Dominicana, Burkina Faso, El Salvador (2018), Ilhas Salomão, Kiribati (2019), Nicarágua (2021) e Honduras (2…

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