sociedade de idiotas

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Qualquer semelhança com alguma eventual realidade é apenas uma mera coincidência… 😁🧐😉
Pode ser uma imagem de árvore e ao ar livre
Nota: Esta é uma história de ficção. Qualquer semelhança com qualquer situação real é mera coincidência. Todos pormenores informativos foram adicionados pelo autor.
Zé, o terrorista da pouca sorte.
Era uma vez o Zé.
O Zé é um adolescente que entrou há pouco na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Embora seja mais inteligente do que a maioria, não consegue adaptar-se socialmente. Virgem, com caspa e sarro no couro cabeludo, tem problemas de autoestima e higiene pessoal. Não gosta do que vê ao espelho. Quociente de inteligência alto mas inteligência emocional baixa. Quando uma miúda lhe diz “bom dia”, ejacula. Se a miúda não responde, lança-lhe todo o tipo de impropérios – só em pensamento, não vá o Zé levar um par de estalos – e deseja-lhe em segredo todas as desgraças. Tem atração por armas porque cresceu a ser gozado por todos. Lida com a frustração de uma forma secreta e não exterioriza nada. As pessoas da terra gostam dele. “Ele sempre foi bom rapaz e amigo do seu amigo”. “Nunca arranjou problemas com ninguém. Toda a gente gozava com ele mas aqui toda a gente goza com toda a gente”. O Zé não tem nem nunca teve amigos. Como vive em Portugal, não tem acesso a armas de fogo. Mas juntou ao longo dos anos algumas facas, soqueiras, porcarias com setas – daquelas que o Rambo usa contra helicópteros – e pouco mais. A sua atração por armas é quase doentia porque a sua mera posse eleva a sua fraca masculinidade e falta de amor próprio.
Aqui entra o plano macabro
Atraído por estas tretas porque não sabe lidar com a sua frustração de outra forma, sonha com um dia ser herói, daqueles que entram no café, pedem um copo de leite e desatam à porrada a toda a gente porque não gostou do tom do gajo lá ao fundo que lhe perguntou as horas. No final, sai pela porta do tasco qual cowboy a sair do saloon depois do duelo de morte. No mundo do Zé (internet), ele é o maior. Consome pornografia de forma sequiosa, com alguma curiosidade para a pornografia infantil para sentir a experiência de domínio num ser humano mais fraco. Consome de forma ávida informação sobre massacres como aqueles que acontecem com frequência em escolas e universidades nos EUA. O Zé frequenta também chats da especialidade, onde demonstra todo o seu poder e sabedoria nessa matéria porque os outros “não percebem nada de atentados”. “Na faculdade onde eu ando, qualquer um podia entrar e rebentar aquilo tudo”. “Eu sei perfeitamente como se podia fazer isso. Um dia chateio-me e eles vão ver”.
Aqui entra o FBI.
Dizem que os americanos monitorizam a internet constantemente. Frequentam chats e fóruns de discussão da especialidade para tentar antecipar todo o tipo de ataques, incluindo ataques a escolas e universidades. Não são chats do messenger, tão utilizado pelos 10 milhões de especialistas em chats que vivem em Portugal. São chats da dark web, uma cena “muita à frente” que em Portugal ninguém conhece, mas que qualquer pessoa tem acesso com uma pesquisa de 5 minutos. Bem mais fácil do que pesquisar coisas sobre o Big Brother. O Zé frequenta muito esses fóruns e usa, como todos sabem, um avatar abonecado cheio de músculos. Mesmo à macho como ele é. O Zé é o maior e um autêntico paladino da verdade em questões terroristas que envolvem escolas e, para provar isso, fala dos erros de principiantes dos heróis dos atentados escolares nos EUA, demonstrando com planos e esquemas que ele, se quisesse, faria muito melhor.
Aqui entra a PJ
Na posse destes dados, o FBI avisa a PJ. Na dúvida mais vale enviar isto para os tugas. A PJ, que não liga a estas tretas porque “são coisas desses americanos que têm a mania”, trata do assunto à moda antiga: duas vigilâncias para tirar umas fotos do Zé a comer um Happy Meal, umas pesquisas, duas cervejas e um mandado de busca, não vá esta porcaria dar para o torto. “isto ainda cai para cima de nós”. Ainda por cima “parece que amanhã o puto diz que vai à faculdade fazer lá qualquer coisa. Mais vale ir lá na quinta porque se for na sexta, esta treta prolonga-se para o fim de semana”. Na dúvida, a PJ vai lá. Depois da busca domiciliária “para interromper a atividade criminosa em curso”, a PJ aborda o rapaz tranquilamente e apreende umas facas, uns corta unhas e umas tretas com setas que são depois classificados como “artigos suscetíveis de serem usados na prática de crimes violentos”. Só para dar aquele toque. O Zé não percebe porque entraram por ali adentro. Só escreveu aquelas coisas para surpreender a namorada que conheceu na net há uns meses largos mas que nunca viu. Eles não sabem mas a rapariga está a passar um mau bocado. Diz que é mulher mas que está num corpo de homem desde que nasceu, coitadita.
Aqui entra a comunicação social.
Terrorismo. Bombas. Atentados a escolas. O horror. O fim do mundo. Na televisão, tudo a arrotar postas de pescada: analistas de bombas, analistas de ataques bombistas e analistas comportamentais de situações graves ligadas a escolas e afins. Analistas psicólogos que analisam as análises dos analistas. Especialistas da palavra Terrorismo para escrutinar se a palavra é bem utilizada. “Para ser terrorismo, o Zé tem de ter motivações ideológicas”. Aparece o Presidente da AEEQS (Associação Eu É Que Sei) criada ontem para o efeito. Temos de ter cuidado com a forma como utilizamos a palavra Terrorismo. Não vá um terrorista ficar ofendido e apresentar queixa.
Aqui entram os analistas das Fábricas de Cretinos Digitais (redes sociais)
Por fim, surgem os 10 milhões de virologistas que se transformaram há dias em analistas de resultados eleitorais e especialistas da invasão da Extrema Direita em Portugal. Que por acaso, são desde ontem doutorados em “Terrorismo E Coisas Estranhas Que Se Passam Na Juventude De Hoje” e licenciados em “Volta Salazar Que Esta Juventude Está Perdida.
Aqui entra o Moral da História
Infelizmente, a obsessão pelo escândalo converteu a comunicação social numa forma mais de entretenimento do que de informação. Como dizia Bertrand Russell, Prémio Nobel da Literatura, “A principal causa dos problemas no mundo de hoje é que os idiotas estão cheios de certeza enquanto as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas”.
Sérgio Soares, 11/02/2022
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