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António Portugal: A SATA já era a sua vida muito antes de trabalhar na empresa durante 43 anos
O pai foi trabalhar para a SATA em Santa Maria e António Portugal recorda-se da primeira viagem de avião que fez, aos 4 anos, e a vivência na “ilha do sol” até aos 15 anos, onde convivia de perto com os aviões. O fascínio foi crescendo e acabou por entrar na empresa, justamente em Santa Maria…
Trabalhou muitos anos na SATA mas já está reformado…
Há pessoas que passam os últimos anos da sua vida de trabalho a desejar a reforma, mas a mim nunca me ouviram dizer isso. Nem fui para a reforma por querer ir, fui “obrigado” pelo limite de idade, embora pudesse trabalhar até aos 70 anos.
Não era uma situação que ambicionasse e, sinceramente, se me perguntasse se preferia estar a trabalhar ou estar na reforma, não quero fazer-me mais do que os outros, mas preferia estar a trabalhar. Principalmente trabalhar naquilo que gostava de fazer, porque foram 43 anos sempre a trabalhar na mesma área.
Não foi fácil chegar a uma Sexta-feira, às 17 horas, fechar a porta, trazer dois caixotes com documentos que vamos acumulando ao longo do tempo, e pensar que na Segunda-feira já não ia trabalhar. Não foi fácil. Não é fácil.
Mas a reforma tem coisas boas e tem coisas más. Procuro manter-me activo, porque sempre o fui e não era agora que ia deixar de ser. Tenho mais tempo para fazer determinadas coisas que não fazia, ou fazia menos. Uma das coisas que estranho é que era uma pessoa que era capaz de receber mais de cem chamadas para o telemóvel, mesmo quando praticava desporto levava sempre o telemóvel e resolvi muitos assuntos profissionais a correr ou a andar de bicicleta. Hoje em dia é capaz de o telemóvel não tocar nem uma vez. Sinto falta da dinâmica na qual eu estava envolvido, porque foi uma vida.
E que vida era essa?
Trabalhei 43 anos na SATA, sempre dentro da mesma área, no handling. Entrei para a SATA em 1977, mas a minha história na SATA é muito anterior. Quando eu nasci, a 5 de Fevereiro de 1953, o meu pai já não estava cá, estava em Santa Maria porque já trabalhava na SATA – começou a trabalhar na SATA em 1948. Aos 4 anos foi a primeira vez que fui sozinho para Santa Maria dentro de um avião ter com o meu pai, e depois aos 6 anos toda a família se mudou para Santa Maria. O viver em Santa Maria dos 6 aos 15 anos, toda a minha juventude no aeroporto de Santa Maria, em contacto directo com os aviões que via aterrar e levantar, costumo dizer que trabalhei muitos mais anos na SATA porque o espírito que criei em termos de vivência da empresa em si, vem muito anterior a 1977. Em casa já se falava da SATA.
A SATA traçou-lhe a vida…
Traçou. E podia ter sido muito outras coisas, mas não quis. Não que o meu pai me tivesse inclinado a ir para a SATA.
Entrei para a SATA em Santa Maria, porque queria trabalhar na SATA e o concurso que houve foi em Santa Maria, e para além de todo o historial, o passado e os laços que me ligavam a Santa Maria. Para mim foi ouro sobre azul entrar para a SATA em Santa Maria como oficial de tráfego – fazer check-in, fazer acolhimento, vendas – mas a minha história da SATA começa muito antes de 1977.
Ao seu pai, Viriato Portugal, era proibido falar mal da SATA…
Acho que por aquilo que vivi na SATA, todos os funcionários da SATA têm um pouco desse espírito. Hoje em dia a comunicação social, as redes sociais, fazem críticas enormes à SATA, mas dentro da SATA, quem trabalha na SATA e trabalhava na SATA, não conheço colegas que em termos sociais, falasse mal da empresa. Com todos os problemas inerentes à própria empresa e ao desenvolvimento do dia-a-dia, todos nós nos chateamos. Vi várias vezes o meu pai chegar a casa chateado, preocupado e desabafar, mas nunca vi o meu pai dizer que não queria trabalhar mais na SATA. Pelo contrário.
Trabalhou ao mesmo tempo que o seu pai?
O meu pai foi o meu mentor, embora não trabalhasse directamente com ele. Quando entrei em 1977, o meu pai era o representante da SATA em Ponta Delgada, e eu só trabalhei quatro anos na SATA em Santa Maria.
Em 1981 a SATA convidou-me para ir abrir o aeroporto da Graciosa e disseram-me para vir um fim-de-semana a São Miguel para falarem comigo. Vim, aproveitei para ver também os meus pais, e convidaram-me para ir para a Graciosa.
Santa Maria naquela altura era o auge em termos aeronáuticos, e sair de um aeroporto que era “a escola” da SATA, e ir para a Graciosa, começar do nada, para mim não era aliciante. Mas, depois da proposta, cheguei a casa do meu pai e disse-lhe que me tinham convidado para ir para a Graciosa, mas que estava bem em Santa Maria, onde era supervisor, e onde estava satisfeito pessoal e profissionalmente. O meu pai disse-me três coisas: que
o que me estavam a oferecer com quatro anos de SATA talvez nunca mais conseguisse alcançar na empresa; que Santa Maria ia deixar de ser o que era em termos de aeroporto aquela altura; e que fosse para a Graciosa, mas que acrescentassem no contrato que ao fim os três anos me colocavam em Ponta Delgada. Disse-lhe que não queria vir para Ponta Delgada, mas ele respondeu-me que Ponta Delgada era o futuro da SATA.
Em termos aeroportuários, tinha razão. Aliás o meu pai teve razão em tudo. Porque ir para a Graciosa naquela altura não era fácil, mas acabou por ser uma experiência fascinante. Quando acabou o meu contrato, a SATA perguntou-me se queria continuar na Graciosa. Eu tinha 31 anos e voltei a falar com o meu pai. Disse-lhe que na Graciosa estava bem mas o meu disse-me que se quisesse evoluir na SATA tinha de vir para São Miguel. E eu vim. E mais uma vez o meu pai teve razão.
O seu pai influenciou não só a sua vida na SATA, mas praticamente todos os filhos estão ligados à aviação…
Éramos cinco filhos. A minha irmã mais velha nunca enveredou pela aviação e foi professora na Escola Antero de Quental. Eu fui para a SATA, a minha irmã Isabel foi durante mais de 20 anos secretária da administração da SATA, a minha irmã Ana é, há mais de 25 anos, supervisora de voo da TAP, e o meu irmão, que era o mais novo, era o chefe de cabine do avião acidentado em São Jorge, a 11 de Dezembro de 1999. Eu era o mais velho, mas fui o último a sair da SATA e a minha irmã Ana ainda trabalha como supervisora da TAP.
Como foi viver essa tragédia do acidente da SATA em São Jorge?
Foi num Sábado, eu estava em casa e a minha mãe estava internada no hospital. Eu era chefe de escala no aeroporto de Ponta Delgada – estive nessas funções mais de 20 anos – e o meu superior telefonou-me para ir para o aeroporto porque havia um avião da SATA que não se sabia onde estava. Fui para o aeroporto para pôr em prática todas as medidas de segurança e emergência para as quais estamos alertados, pois preparados nunca estamos.
Sabia que o seu irmão ia naquele avião?
Nem foi minha preocupação. A minha preocupação foi chegar ao aeroporto e tratar de todas as rotinas para fazer face a uma situação daquela natureza. Os meus colegas que estavam a trabalhar no aeroporto, e que tinham despachado o avião, sabiam que o meu irmão era tripulante e pensavam que eu estava no aeroporto por causa disso. Mas não estava. Depois de tratar de tudo o que era preciso tratar, as pessoas olhavam para mim de forma triste, mas eu sempre pensei que a tristeza deles fosse por aquilo que se passava com o avião. Havia várias notícias, que o avião tinha amarado, que tinha caído, que tinha desaparecido, não se sabia.
Providenciei todas as informações e práticas que eram necessárias e dirigi-me ao nosso serviço de operações, ligado mais ao voo propriamente dito, onde estava de serviço uma colega que era casada com um comandante da SATA Air Açores. Quando me viu começou a chorar. Perguntei-lhe se tinha sido o marido e ela disse-me que tinha sido o meu irmão. Foi aí que eu pensei, uma hora e tal depois, quem seria a tripulação. A minha preocupação nunca foi saber a tripulação, primeiro foi ver dos passageiros e atender aos familiares dos passageiros.
A partir dessa altura, o meu superior que me tinha ligado para casa, soube que era o meu irmão que estava no avião e providenciou que fosse outra pessoa substituir-me nas funções que estava a desempenhar. Mas não saí mais do aeroporto. Depois de se saber que o avião estava em São Jorge, disse que do aeroporto só iria para São Jorge e naquele dia fui. Naquele próprio dia fui ver os destroços do avião. Subi o Pico da Esperança, debaixo de muita chuva, de muito nevoeiro, mas tinha de ver com os meus olhos.
Subi o Pico da Esperança juntamente com um colega meu da manutenção, que precisava de ver determinados aspectos técnico ligados aos destroços. Mas a viagem para São Jorge naquele dia, não foi uma viagem nada fácil. Um voo cheio, com diversas entidades, com alguns familiares das vítimas, protecção civil, bombeiros. E só conseguimos aterrar à terceira tentativa em São Jorge. Só aterrámos porque naquele dia tínhamos mesmo de aterrar porque era preciso chegar a São Jorge.
Não foi fácil. Isso aconteceu num Sábado. Domingo foi a parte muito má de identificação das vítimas, e a partir da altura que identifiquei o meu irmão, voltei para São Miguel, na Segunda-feira. Na Terça fez-se o funeral. As coisas funcionaram muito rapidamente, embora a empresa não estives-se preparada – porque nenhuma empresa estava, embora hoje as coisas estão muito mais disciplinas e preparadas para situações dessa natureza.
Este é um assunto que ainda vive comigo, com os meus familiares. Durante estes anos, todos os anos e mais do que uma vez, eu vou ao Pico da Esperança ao sítio do acidente. Ainda há uns meses trouxe de lá parte de uma hélice, porque ainda existem alguns destroços lá. Para mim dá-me uma certa paz. É um sítio muito bonito, numa ilha muito bonita, com pessoas muito bonitas que me ajudaram muito, que não conhecia de lado nenhum mas que hoje em dia são amigos de uma vida.
Mas nessas situações o que queremos saber sempre são as razões. Porque aconteceu, em que condições aconteceu. Depois existe o inquérito, que é público. Este colega que subiu comigo naquele dia, disse-me que ia estar envolvido na parte técnica da investigação e perguntou-me se eu queria saber quando ele soubesse alguma coisa. Disse- lhe que queria saber.
Por ser familiar ou por ser responsável na SATA?
Naquela altura, como familiar. Todos nós na SATA, uns mais do que outros, temos algum conhecimento de como as coisas poderão acontecer. A minha função dentro da SATA, ligado ao handling, era andar de ilha em ilha em todos os aeroportos. Poderia fazer uma ideia de como as coisas se tinham passado.
Um dia, este meu colega e amigo da manutenção telefona-me e diz-me que tinha as gravações dos últimos minutos dos pilotos, se eu queria ouvir. Disse que sim. Fui ouvir os últimos segundos das gravações daquilo que o comandante e o co-piloto falaram quando se aperceberam do acidente. Isto é público, qualquer pessoa pode ter acesso a isso, no relatório tem a descrição das gravações.
O inquérito confirmou aquilo que eu pensei no primeiro dia: que o avião não devia estar naquele lugar naquele momento, porque não faz parte da rota. O avião ia de Ponta Delgada para a Horta e a rota ou é entre SãoJorge e o Pico, ou a Sul do Pico. Nunca é a Norte de São Jorge. Quando o comandante e o co-piloto se apercebem, porque há um instrumento a bordo que lhes dá a indicação de terra, se soubessem onde estavam, não viravam para a esquerda mas sim para o mar. Mas viram precisamente para cima de terra, porque pensam que estão entre São Jorge e o Pico, mas não estão; estão a Norte de São Jorge.
Atenção que não estou, de maneira alguma, a incriminar quem quer que seja, porque num acidente aéreo há sempre um conjunto de circunstâncias que se sobrepõem ao erro humano, que contribuem para o próprio acidente. Nunca é só erro humano. Naquele caso foi erro humano, um conjunto de circunstâncias de mau tempo, que existiam, mas também a precariedade de alguns instrumentos de navegação que naquela altura não existiam a bordo dos aviões da SATA. Tudo isso contribuiu para o acidente. E mais uma coisa que há 20 anos, não se falava, que são os factores humanos. Hoje em dia, na SATA temos formação em factores humanos, para sabermos como os factores humanos podem influenciar o nosso comportamento. Mas existe muito de factor humano na causa daquele acidente. Obviamente que ninguém quer ter um acidente, mas há muito de factor humano porque quando não estamos bem, por vezes contribuímos sem querer para determinada situação. O acidente da SATA marcou não só a empresa em si, marcou todos os seus funcionários, os familiares das vítimas. Foram 33 passageiros e 4 tripulantes que faleceram.
Há pessoas que me dizem que não sabem porque gosto de ir a São Jorge. Mas gosto de ir, porque sinto-me mais perto das coisas e quando nos sentimos mais perto vivemos as coisas de outra maneira.
Ajuda a atenuar a dor?
A mim ajuda. Este ano estive lá e fui com um amigo meu, residente em São Jorge, que na altura do acidente era bombeiro, esteve no local do acidente, e que nunca mais teve coragem para ir lá. Mas quando estive lá disse-me que ia comigo e 20 anos depois voltou. Disse que lhe tinha feito bem, mas que não podia ficar lá mais tempo.
Isso também serviu para a SATA evoluir…
Muito. Em termos de equipamento de navegação, meses a seguir foram logo colocados a bordo dos aviões equipamentos mais avançados que permitiam uma maior precisão em situação de navegação. Em termos de terra, houve uma outra preparação para fazer face a essas situações, como planos de emergência, planos de contingência. A SATA Air Açores opera em 9 ilhas, 9 aeroportos e teve de ter a preocupação de preparar as pessoas para qualquer eventualidade que viesse a acontecer.
Na SATA também desempenhou outros trabalho. Por exemplo formador…
É uma actividade que me apraz muito porque antes de entrar para a SATA, fui professor durante dois anos.
Quando acabei o antigo 7o ano, fui para a Marinha de Guerra em 1971 e ao fim de um ano saí. Foi uma escola extraordinária, de disciplina, de camaradagem. Foi uma experiência riquíssima, mas não queria ir para o Ultramar. Tinha 19 anos e fui tirar o curso de Gestão de Empresas, em Lisboa. No meu segundo ano de curso, dá-se o 25 de Abril de 1974, e acabei o curso no ano seguinte. Naquela altura havia falta de professores, eu tinha habilitações, e queria ir para Santa Maria. Concorri para a escola preparatória de Vila do Porto, para onde fui durante dois anos ser professor de Inglês e Educação Física. E saio de professor para entrar na SATA.
Isto para explicar que é uma coisa que sempre gostei de fazer. Foi implementado na SATA o gabinete de formação e eu fui um dos formadores, na área de assistência a passageiros, e abracei a formação nunca deixando a minha actividade. Para ser formador na SATA é preciso o Certificado Pedagógico de Formadores, mas também uma formação específica data pela IATA. Na altura fui formador de assistência a passageiros, fui tirar a formação à Suíça, à IATA, e tivemos um projecto na altura extremamente aliciante que era formar os Transportes Aéreos de Cabo Verde, em Cabo Verde. Estive durante dois anos a dar formação. Com as responsabilidades crescentes que fui tendo na SATA, entenderam que não podia estar muito tempo fora e tinha de dar lugar a outros. Aceitei mas sempre com pena. Depois foi montado um gabinete de segurança e fui convidado para formador de segurança, e ainda sou formador de segurança. De novo tive de fazer certificação pela IATA, pela ANAC, e comecei a dar formação de segurança. Também na IATA tirei um curso de formador, e mais tarde, enquanto era chefe de escala no aeroporto de Ponta Delgada, fui tirar um curso de gestão de escalas. Também tirei um curso de transporte aéreo, na Universidade do Porto.
Entendi que se a SATA me tinha dado a oportunidade de tirar o tal curso de gestão de escalas, por que não criar um curso, para transmitir aos meus colegas chefes de escala, de gestão de handling. Por força desta formação, nos últimos três anos tenho dado formação nos cursos de transportes dados pelas escolas profissionais, na área de transporte aéreo.
E como chega a porta-voz da SATA?
O engenheiro Paulo Menezes, Presidente do Conselho de Administração, um dia chama-me ao seu gabinete e diz-me que me queria fazer um convite, para ser porta-voz da SATA. Eu não conhecia o meio e disse-lhe para não me meter nisso, mas ele insistiu e que me ia ajudar se necessário. Foi um pedido, não era coisa que eu quisesse, foi mais trabalho, mas foi um prazer.
Teve um lado mais visível com esse cargo?
Tive um lado mais visível. O engenheiro Paulo Menezes tinha razão numa coisa, eu estava ligado directamente à área operacional e os jornalistas quando me ligavam era para saber porque os aviões não tinham seguido e quantos passageiros estavam à espera. Eu sabia isso em tempo real e conseguia dar essas respostas de forma mais rápida.
Ainda vai em Direcção à SATA?
Passo por lá mas é a correr ou a andar de bicicleta. Digo-lhe que estou bem reformado mas gostaria de continuar a colaborar com a SATA, graciosamente. Se a SATA precisar de mim, para aquilo que achar que eu posso constituir uma mais-valia, estou disposto a colaborar.
A SATA não me deve absolutamente nada.
Eu devo tudo à SATA. A SATA deu-me todas as oportunidades de evolução numa carreira aliciante, investiu na minha formação, e em termos profissionais, a SATA deu-me tudo e não me deve absolutamente nada. Se há alguém que deve, sou eu. E se entenderem que deva dar, eu dou.
Fui convidado para trabalhar na concorrência, já depois de reformado, e não aceitei. Porque não me ia sentir bem. É a minha maneira de ser.
Agora tento-me manter activo, física e intelectualmente, porque só assim se sobrevive à reforma. Tenho um grande defeito, a pontualidade. Chego sempre mais cedo do que o combinado. É um defeito que eu tenho.
Trabalhando com aviões, gosta de viajar?
Gosto muito de viajar. Já corri o mundo todo. A SATA proporcionou-me grandes partes das viagens que fiz em serviço. Tenho uma curiosidade incrível, desde muito novo, pelo mundo. Tudo devido a Santa Maria e ao seu aeroporto. Via um avião que ia para as Caraíbas, para Barbados, e não sabia onde ficava isso. Agora, dá-me um gozo ir conhecer aquelas paragens.
Há sítios onde ainda não fui, mas tenho de ir com tempo. Uma dessas viagens é a algumas ilhas do Pacífico, alguns países (poucos) da América do Sul, correr os Estados Unidos de lado a lado, o Canadá de lado a lado. Explorar um pouco de África, que é o continente que menos conheço. Gostava muito de ir a Timor. Um dos meus grandes hóbis é viajar, conhecer o mundo, ver coisas que fazem parte da minha imaginação.
Olhe, já fui preso uma vez nessas minhas viagens. Em Atenas, estava a sair da alfândega, pegam em mim e levam-me para um carro celular onde estive cerca de duas horas. Perguntaram-me o que ia lá fazer, eu que ia de férias, fizeram-me muitas perguntas. Ao fim de duas horas, vêm ter comigo, pedem-me imensa desculpa e mostram-me uma fotografia e eu era a cara de um terrorista libanês. Eles estavam à procura desse terrorista e pensavam que era um. Fui confundido com um terrorista.
Como passa agora os seus dias?
Além da actividade física, leio os jornais nacionais e regionais diariamente, vejo o telejornal regional e nacional, e em termos de leitura gosto de biografias. A última que li foi a do comandante que amarou no Hudson. Em televisão gosto de ver o programa “Mayday”, por estranho que pareça.
Como conseguiu conciliar a vida familiar com a SATA?
A minha esposa trabalha na SATA. Ela é assistente de bordo em Ponta Delgada, na Azores Airlines. Ela fez o primeiro voo da SATA Internacional, à saída de Lisboa. Quando casámos saiu de Lisboa e veio para cá viver, já está cá há mais de 20 anos.
(Carla Dias – Correio dos Açores de 04/10/2020)
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