SANTA INQUISIÇÃO

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A 21 de Setembro de 1761, é morto, na fogueira, durante um Auto-de-fé no Rossio, a praça mais importante de Lisboa, o padre jesuíta Gabriel Malagrida.
Gabriel Malagrida, padre jesuíta no século XVIII, entrou para os anais da história de Portugal (e da igreja católica) pelo conflito que o opôs àquele que viria a ser o Marquês de Pombal. A querela acabaria com a prisão e execução do missionário italiano num auto de fé realizado no Rossio, corria então o ano de 1761.
Gabriel Malagrida nasceu em Milão e entrou para a Companhia de Jesus, ainda em Itália, mas fez a sua carreira como missionário em diversas regiões do Brasil, onde viveu até 1754.
Estava em Lisboa aquando do grande terramoto que ocorreu no ano seguinte. Imbuído de um intenso fervor religioso, Malagrida rejeitou a explicação oficial do terramoto, que apontava para causas naturais, e afirmava que se tinha tratado de um castigo divino, exortando a população à penitência.
A crescente hostilidade de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal, aos jesuítas, e a ligação de Malagrida aos círculos da oposição levaram ao seu desterro, primeiro, e à sua prisão, pouco depois, sob acusação de ser o instigador moral do atentado ao rei D. José.
Por esta altura, Gabriel Malagrida era acometido de visões e aparições, afirmando falar directamente com Deus e a Virgem Maria. Tornou-se, portanto, um alvo fácil para a Inquisição, que era já controlada pelo marquês de Pombal, e foi acusado de ser um impostor, um falso profeta e um hereje.
A execução de Gabriel Malagrida foi naturalmente um processo com motivações políticas, preparado e levado a cabo pelo marquês de Pombal. A forma como as suas crises místicas foram aproveitadas para colocá-lo sob a alçada da Inquisição revela como este tribunal era agora um órgão ao serviço da Coroa.
O processo de Malagrida teve ampla divulgação, tanto em Portugal como no estrangeiro. A sentença foi publicada em várias línguas. O maior impacto foi, talvez, causado pela atenção que lhe dedicou Voltaire, ao descrever o processo e o seu desfecho.
Não deixa de ser curioso que o filósofo francês das Luzes, que era hostil aos jesuítas e à subordinação de Portugal à Santa Sé, manifeste repulsa pelo processo do padre Malagrida, não por achá-lo inocente, mas por ter sido executado pela Inquisição. Ficou célebre o seu juízo, condensado num escrito de 1768 e que diz o seguinte: “a enormidade do ridículo e do absurdo somou-se à enormidade do horror”.
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