SALAZAR FOI HÁ 55 ANOS

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POSTAL DO DIA
Que Salazar caia outra vez da cadeira
1.
António Oliveira Salazar morreu há 55 anos.
Foi na passada quarta-feira que um amigo me perguntou se iria escrever um postal sobre o homem. Disse-lhe que não, mas depois pensei melhor.
Sim, vou escrever um postal sobre um homem mesquinho, apesar de inteligente.
Um homem casto e virgem, apesar das fábulas com mulheres.
Um homem ignorante, apesar de culto.
Um homem mau, apesar de muitos jurarem que era sério.
Um homem que foi enterrado em campa rasa só para marcar uma posição.
2.
Salazar, ao fim de 55 anos, continua a alimentar as mais variadas histórias.
A Visão e a Sábado dedicam-lhe um tema de capa todos os anos.
Todos os anos há um canal de televisão que faz uma reportagem no Vimieiro ou em Santa Comba, todos os anos aparece o sobrinho que continua a viver como se o tio estivesse vivo, todas as manhãs o vemos a calçar botinhas parecidas às do homem que, não há muitos anos, pasme-se, ganhou uma votação televisiva para o melhor português.
Lembram-se?
3.
E todos os anos se escrevem livros.
São as cartas, é a Maria, são as amantes e as crianças protegidas em São Bento, são os rituais de que gostava, é a lavoura e os tempos de Coimbra, é a queda da cadeira, mais os conselhos de Estado forjados para que não percebesse que já não presidia a merda nenhuma.
Eram os filmes que não via, mas que a criada lhe contava.
Eram as visitas antes das inaugurações – porque Salazar não estava, já tinha estado.
Era a relação com Franco, mais António Ferro e os livros que lia.
Eram as entrevistas, as explicações para nunca ter ido para lá de Badajoz, o ódio aos comunistas ou a relação com a PIDE e Mussolini. Era o seu génio que nos manteve a salvo da segunda guerra.
Mais a amizade com Cerejeira e o “pobrezinhos, mas honrados”.
O “orgulhosamente sós”, mais o “Deus, Pátria e Família”.
É a guerra colonial, o bater pé aos grandes, o patriotismo, o modo como afagava a cabeça dos meninos nas aberturas de todos os anos letivos.
4.
Mas atenção, passámos agora para um outro nível. Agora parece existir muita gente interessada em ressuscitá-lo.
Vários cronistas de direita assinalaram nas últimas semanas que investigadores estrangeiros o têm citado e até associado a projetos de poder um pouco por todo o lado.
Com visível enlevo noticiam que Salazar voltou a estar na moda.
Em vários textos e opiniões nota-se um gostinho especial por puxar o lustro à cadeira para voltar a sentar o homem no lugar que lhe julgam pertencer – o lugar do futuro.
5.
António Oliveira Salazar morreu há 55 anos.
Mas há muita gente interessada em oferecer-lhe uma segunda vida.
Em pô-lo num andor.
Em usá-lo para limpar o país da democracia, da liberdade que é libertinagem, das comissões que oferecem luz a casos de pedofilia escondidos, da esquerda que dá dinheiro aos que não trabalham, da “paneleiragem”, dos pretos e ciganos, das mulheres que deviam era estar em casa a ter filhos e a zelar pela ordem do mundo.
Salazar tem o seu lugar na história.
Mas agonia-me quando tanta gente o carrega como se fosse um oráculo ou o profeta Elias numa carruagem de fogo purificador da malandragem e dos portugueses que não são de bem.
Que fique onde está – para que não nos esqueçamos do lugar que ocupou no passado, esse lugar distante que ainda nos marca com o ferro da mediocridade.
LO
CHRYSCHRYSTELLO ESCREVEU em 2020:
DIA 27 DE JULHO DEVIA SER LUTO NACIONAL 2020

 
NÃO SE COMPREENDE QUE NÃO SEJA FERIADO E DIA DE LUTO NACIONAL, AFINAL FAZ 50 ANOS QUE FENECEU O GRANDE LÍDER
Sim, passaram 50 anos sobre a morte desse grande estadista , probo, honesto, frugal que tirou Portugal das garras da guerra civil e da miséria, endireitando as contas do Estado, deixando na sua morte, um balúrdio de barras de ouro para o desenvolvimento futuro do país.
Um homem bom e tímido, incapaz de se declarar a todas as mulheres por quem nutria afeto, mas rígido, exigente e seguro com os seus subalternos, nem todos com a mesma visão e amor da Pátria como ele que toda a vida se sacrificou e pagava contas do seu bolso por achar que não eram encargo do estado.
Um homem que não deixou o povo emigrar para as colónias para que não sofressem lá, antes preferindo que emigrassem para o Brasil e outros países onde enriqueceriam mais depressa.
 
Um homem que teve de sacrificar os jovens do país para que eles defendessem as colónias dos terroristas norte-americanos e russos que só cobiçavam as riquezas ultramarinas.
Um grande líder que livrou Portugal da segunda guerra mundial exceto em Timor onde australianos, holandeses e japoneses invadiram o território contra a sua vontade e causaram milhares de vítimas.
A sua polícia secreta sempre protegeu os portugueses dos comunistas e outros extremistas que queriam o mal de Portugal, esse país em que quanto mais ignorantes mais felizes e em que beber vinho alimentava um milhão de portugueses, país idílico retratado de um qualquer romance oitocentista sem correspondência na vida real.
A sua política de protecionismo de natureza fiscal, tarifária e alfandegária protegeu Portugal e as colónias, equilibrando as finanças públicas e o défice externo enquanto se proclamava “orgulhosamente só” após a guerra. Infelizmente, e apesar de ter sido presidente do Conselho de Ministros durante 36 dos seus 81 anos de vida, morreu enganado, sem saber que há dois anos não governava e fora substituído pelo seu Delfim, Marcello Caetano.
Américo Tomás dirá que “a morte nos levou um homem que foi o maior português do seu século e um dos maiores de sempre”. O funeral foi impressionante, com cortejo para a Assembleia Nacional (hoje, Assembleia da República), a banda da GNR a tocar a Marcha Fúnebre de Chopin; seguindo, depois, para o Mosteiro dos Jerónimos, onde estaria em câmara ardente, quando o féretro seguiu num comboio especial para Santa Comba Dão, a viagem demoraria cinco horas, após o que seria sepultado numa campa rasa no cemitério do Vimieiro.
Ao contrário da bomba anarquista que explodiu antes da chegada do automóvel em 1937, das tentativas de golpe militar, uma cadeira seria o trágico fim do ditador. Ou, como José Cardoso Pires escreveu na fábula satírica Dinossauro Excelentíssimo, publicado ainda durante a ditadura e que era um retrato da vida de Salazar (“Dinossauro Um”): “Tinha caído e estava velho; era um gigante muito antigo, de fibras mais que secas, a estalar.”
E deixou um país cheio de barras de ouro, racistas disfarçados, esbirros da inquisição e delação, país de invejosos convencidos de que o país era pequeno só porque pequenas eram as suas mentes e as visões do Grande Líder, uma ficção em que a maioria acreditava.

Mas pelos vistos ninguém nas ruas celebra a morte que iria libertar o país para pertencer à Europa e ao mundo e errar sim, mas em democracia, que, apesar de tudo ainda é o menos mau dos sistemas. Por muito mal que o país esteja desde 1974 não consigo, ao contrário de alguns, imaginar-me a viver como nesses tempos e, apesar de muitas ameaças o novo estado vigilante Big Brother (ainda) não se pode comparar à PIDE.

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