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Estudo internacional dos sedimentos da Lagoa Azul, nas Sete Cidades, conclui que a maior ilha dos Açores, hoje com 125 mil habitantes, já era povoada em 1287
Fonte: S. Miguel já era povoada 150 anos antes da descoberta oficial dos Açores
S. Miguel já era povoada 150 anos antes da descoberta oficial dos Açores
20.02.2017 às 20h08
Estudo internacional dos sedimentos da Lagoa Azul, nas Sete Cidades, conclui que a maior ilha dos Açores, hoje com 125 mil habitantes, já era povoada em 1287
Oestudo de pólenes e esporos, combinado com a análise do carvão e de fósseis de vários microrganismos, nos sedimentos acumulados no fundo da Lagoa Azul, na caldeira das Sete Cidades, em São Miguel, revelam que esta ilha dos Açores já era habitada por volta de 1287, cerca de 150 anos antes da data oficial do seu povoamento, logo a seguir à última erupção vulcânica conhecida.
A datação foi feita por Carbono 14 e o estudo acaba de ser publicado na revista científica internacional “Quaternary Sicence Reviews” por uma equipa que reúne investigadores do polo do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) na Universidade dos Açores; do Instituto Dom Luiz na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; das universidades da Corunha, Barcelona e Autónoma de Barcelona e de dois institutos de investigação da mesma cidade; e das universidades Edith Cowan (Austrália) e da Austrália Ocidental.
Como recorda o estudo, “a data mais consensual da colonização humana dos Açores é 1432, quando Gonçalo Velho Cabral chegou à ilha de Santa Maria” (grupo oriental). O mesmo navegador descobriu depois São Miguel, a outra ilha do grupo oriental. A data oficial do início da colonização do arquipélago é 1449, mas há historiadores que defendem que os Açores já eram conhecidos antes, baseados em mapas de 1339 onde as ilhas do Corvo e de São Miguel já estão assinaladas, embora com nomes diferentes (Corvinaris e Caprara, respetivamente).
Reconstruir o desenvolvimento da vegetação
O objetivo da equipa internacional de investigadores com o estudo agora publicado foi reconstruir a dinâmica da vegetação na região da caldeira das Sete Cidades e no arquipélago dos Açores em geral ao longo dos últimos 1000 anos. E definir os principais fatores de mudança na ecologia das ilhas, “com destaque para as alterações climáticas e para o ‘timing’ da ocupação humana inicial e das suas consequências posteriores”, explica o artigo da revista “Quaternary Sicence Reviews”. No fundo, os cientistas pretendiam compreender como foram modeladas as atuais paisagens e comunidades agrícolas dos Açores.
Os pólenes, esporos, carvões e outros materiais orgânicos analisados pelos investigadores serviram assim para reconstruir o desenvolvimento da vegetação da ilha de S. Miguel antes e depois do povoamento pelos primeiros europeus. Mas adicionalmente, a equipa internacional usou também pólenes de algas e plantas aquáticas da Lagoa Azul.
Do ponto de vista ecológico, referem os cientistas, “os Açores podem ser vistos como o lugar de uma experiência não intencional em larga escala, onde plantas introduzidas pelos seres humanos de origens geográficas e ecológicas díspares substituíram a vegetação original e desenvolveram novas comunidades, cuja composição e funcionamento ecológico não tinha precedentes”.