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FORTALEZA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE AJUDÁ
Ouidah, Atlantique – Benin
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Ouidah, Atlantique – Benin
Crónica de viagem: “Ajudá”, onde Salazar mandou incendiar o forte de S. João Baptista
Nova Portugalidade
13 hrs ·
Ajudá: a última feitoria
Situada na costa da Mina – actual República do Benim (ex-Daomé) – o lugar era conhecido pelos portugueses desde finais do século XV, que ali demandavam ouro e marfim, mas só no último quartel do século XVII, por força da perda do rosário de feitorias entretanto tomadas pelos holandeses na região, se decidiu Lisboa ali erigir um forte e uma feitoria que passou doravante a possessão da Coroa, tomando o nome de São João Baptista de Ajudá.
Constava a feitoria de uma casa grande de dois andares cercada por um pano de muralha artilhada e de uma vala de protecção. Um feitor, um capitão de ordenanças, um almoxarife e um escrivão respondiam perante o governador de S. Tomé e Príncipe. Em torno da feitoria cresceu e prosperou uma população mestiça que realizou uma curiosa mescla racial, cultural e linguística luso-africana que, de tão impressiva, deixou um crioulo afeiçoado e persistente, bem como vestígios vocabulares ainda hoje em uso na língua Fon do Benim, tais como bastão, moço, piloto, capitão, padre e escrivão. As relações entre as autoridades portuguesas e o vizinho Reino do Daomé eram a todos os títulos amigáveis, conhecendo um momento alto na primeira metade do século XIX quando o Rei Ghezo do Daomé, que ostentava um superlativo título de Guelélé, Manhosé, Quini, Quini, Quini (Senhor poderoso e sem igual, três vezes leão), nomeou um português do Brasil seu Xaxá (conselheiro). O célebre Francisco de Sousa Félix de Sousa acumulou uma fortuna imensa no tráfico negreiro, tendo deixado imensa prole servida por mais de doze mil escravos. Grande protector de portugueses e brasileiros atirados para aquelas plagas desoladas, o aventureiro português deixou como sucessor Isidoro, rapaz crescido e educado na Inglaterra.
Esquecida e longe das preocupações de Lisboa, Ajudá manteve-se portuguesa até 1960. Por ocasião da independência do Daomé – que fora colónia e depois província francesa – São João Baptista foi reclamada pela nova república africana. Lisboa ordenou então ao residente português que a abandonasse sem oferecer resistência, conquanto só o fizesse após atear fogo às instalações. Nos anos 80 do século XX, São João Baptista de Ajudá foi reconstruída pela Fundação Gulbenkian e abriga desde então um museu.
MCB