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RUY CINATTI
Poeta, antropólogo e agrónomo, nasceu em Londres em 1915 e faleceu em Lisboa, em 1986, Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes. Após o falecimento de sua mãe, seu pai parte para os Estados Unidos, ficando entregue aos cuidados do avô materno, Demétrio Cinatti, em Lisboa, que era de origem toscana, mantendo, por isso, um ambiente oriental em casa, que o poeta um dia identifica como a origem da sua atração pelo Oriente.
Aos 7 anos, quando seu avô morre, fica entregue aos cuidados dos avós paternos, sendo então colocado como aluno interno no Instituto dos Pupilos do Exército.
Em 1925, o seu pai regressa dos Estados Unidos, casado e com uma filha, quando se iniciou um período de tensões e conflitos entre pai e filho que haviam de terminar de forma violenta no termo do curso secundário do poeta.
Contra a vontade de seu pai, matricula-se no Instituto Superior de Agronomia, voltando a residir com o avô. Participou então no 1º Cruzeiro de Férias às Colónias Portuguesas de África Ocidental no fim do seu primeiro ano na Universidade, visitando São Tomé e Príncipe, vendo nessas ilhas tudo o que sempre imaginou serem as ilhas do Mar do Sul. Esta sua experiência deu origem a uma pequena obra-prima, “O conto de Ossobó”(1936).
Mais tarde, começa a sentir um sentimento de revolta contra as ondas de violência que se abatiam sobre todo Mundo (Guerra Civil espanhola, Segunda Guerra Mundial, a polarização ideológica crescente nos meios intelectuais portugueses) e começa a sua entrega à poesia. Isso culminou no lançamento, com Tomás Kim e José Banc de Portugal, da primeira série dos “Cadernos de Poesia” (1940). Ainda na década de 40 colabora na revista “Panorama” e na revista luso-brasileira “Atlântico”.
Viveu em Timor, de 1946 a 1947 e de 1951 a 1955, estabelecendo fortes laços com a população local.
Elaborou uma tese de licenciatura, que dividiu em dois livros: “Explorações Botânicas em Timor” e “Reconhecimento Preliminar das Formações Florestais no Timor Português”. Em Timor, mostrou-se frustrado pela sua incapacidade de fazer frente aos atentados da Natureza e a algumas injustiças contra a população indígena. Pelo seu visível amor à ilha timorense, Cinatti apontou alguns critérios com vista na necessidade de centrar o desenvolvimento na pessoa humana, de respeitar os recursos naturais e de devolver à comunidade timorense a responsabilidade pelo seu próprio destino. Mas com pouco ou mesmo nenhum efeito, foi doloroso, para o poeta, observar a destruição do ecossistema e o desprezo pela cultura timorense. Desiludido, partiu de Timor em 1955 e regressou a Portugal.
O seu terceiro livro de poesia, “O livro do nómada meu amigo” (1958), dá conta da sua experiência timorense, e das angústias que o poeta realmente atravessou. A Cinatti já não lhe interessava intervir em Timor.
Em 1966, Cinatti sofre uma profunda crise psicológica, que narra em “Manhã imensa” (1984). A sua última ida a Timor ocorre em 1966, data a partir da qual é proibido de lá voltar por Salazar. No entanto, durante essa depressão, Cinatti emerge na sua alma de poeta e em quatro anos, organiza treze livros de poesia.
Em 1974, entusiasmou-se com a Revolução de 25 de Abril. Mas, a invasão ddo “seu” Timor pela Indonésia, em 1975, deixam-no de novo abalado. Foram, de novo, a poesia e a religião que o conduziram através desta fase.
Ruy Cinatti foi um grande poeta português, amante da sua terra de Timor e da sua população.
Ainda hoje continua muito esquecido, embora tenha sido agraciado em 1992 e a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique. Foi galardoado com o Prémio Antero de Quental (1958), o Prémio Nacional de Poesia (1968), o Prémio Camilo Pessanha (1971) e o Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia (1982).
Cito as suas obras de Poesia: Nós não somos deste mundo (1941 e 1960), Anoitecendo, a vida recomeça (1942), Poemas escolhidos (1951). “O livro do nómada meu amigo (1958 e 1966), Sete septetos (1967), O tédio recompensado (1968), Uma sequência timorense. Braga (1970), Memória descritiva (1971), Conversa de rotina (1973), Cravo singular (1974), Timor – Amar (1974), import-Export (1976), 56 poemas (1981 e 1992), Manhã imensa (1984 e 1997), Antologia poética (1986), Obra poética (1992), Corpo – alma (1994), Tempo da cidade (1996). Um cancioneiro para Timor (1996) e Archeologia ad usum animae (2000).
Tem ainda uma vasta bibliografia sobre Timor e sobre as Colónias portuguesas em África.
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  • Joaquim Manuel da Fonseca

    Que repouse em Paz este Grande Humanista e Amante de Timor.
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    Pedro Manuel Gonçalves Tolentino

    Tive o prazer de o conhecer pessoalmente e de passar um serão em casa dele com mais uns amigos timorenses
  • Paulo Cabral

    Paz à sua alma
  • José Bárbara Branco

    “ficando entregue aos cuidados do avô materno, Demétrio Cinatti, em Lisboa, que era de origem toscana, mantendo, por isso, um ambiente oriental em casa, que o poeta um dia identifica como a origem da sua atração pelo Oriente.” Em que medida ser “de ori…

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    • 12 h
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  • José Bárbara Branco

    Qual a fonte para poder afirmar: “A sua última ida a Timor ocorre em 1966, data a partir da qual é proibido de lá voltar por Salazar.” Esta “biografia” está muito “martelada” para ser politicamente correcta. Sugiro a leitura da biografia escrita por Peter Stillwel.
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    • 12 h
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