Roberto Y. Carreiro · A REVANCHE COMO PROGRAMA E PRIORIDADE POLÍTICA

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A REVANCHE COMO PROGRAMA E PRIORIDADE POLÍTICA
Já muito se disse e se escreveu sobre as recentes eleições legislativas açorianas.
Não obstante a Abstenção continuar a ser absolutamente maioritária e por consequência «vencedora» – da qual agora ninguém fala… – os resultados apurados ofereceram um quadro parlamentar sui generis e de geometria variável.
Há quem fale de esquerda e de direita mas esses conceitos estão completamente ultrapassados e se formos avaliar pela governação que agora finda constatamos que de «socialista» pouco ou nada teve ou tem. Ao invés, os partidos da dita «direita», fazendo fé nos seus programas eleitorais e na sua praxis política anterior, preconizam mais investimento público e despesa pública, portanto mais «socialismo» segundo o jargão dum liberal.
Embora o PS-A tenha sido o partido mais votado, quer em número de votantes, quer em número de mandatos e mesmo em número de freguesias e ilhas, não conseguiu obter a sua ambicionada maioria absoluta com a qual dormiu confortavelmente vinte anos consecutivos sem ligar muito àquelas que batiam à campainha e que reclamavam por direitos, trabalho e oportunidades.
Em segundo lugar, e ainda a uma distância razoável do PS-A ficou o PSD-A, seu rival e irmão gémeo em ideologia política.
Os dois partidos principais do regime obtiveram em conjunto cerca de 81% dos mandatos parlamentares, ficando os restantes 19% distribuídos por outras seis forças políticas, algumas delas estreantes na ALRAA.
Ora, aqui é que está o grande imbroglio desta nova legislatura e que tem como consequência primeira e directa a formação do novo governo regional.
Qualquer dos dois partidos – PS e PSD (este mais do que aquele) – necessitará de fazer uma coligação ou subscrever uma plataforma de entendimento parlamentar com os restantes partidos, alguns mesmo só com um representante.
Será sempre uma ginástica política muito arriscada e que dificilmente garantirá estabilidade governativa para uma legislatura, dado o carácter geográfico dalguns partidos ou o perfil psicológico errático e bipolar dalguns protagonistas.
O ideal seria uma coligação com dois partidos. Nesse campo o PS estaria melhor posicionado mas a sua namorada de sempre – o CDS – disse «não» à beira do altar.
Outra hipótese – mais hipótese do que solução – é o PSD formar governo em coligação e acordo com um total de quatro partidos, o que torna um quebra-cabeças para quem vai liderar o governo e mais ainda para quem vai ser objecto da governação.
Tudo estaria normal dentro do actual quadro jurídico-constitucional e no quadro duma sã alternância democrática, se esta segunda hipótese – a liderar pelo PSD – não incluísse a participação activa dum partido que «chegou» recentemente ao palco político dos Açores e que pela sua génese, ideologia e postura é um partido manifestamente populista, extremista, anti-autonomista e até anti-sistema (embora queira tirar proveitos do mesmo).
Se esta segunda hipótese vingar criar-se-á um precedente muito grave – não pela geringonça em si, mas pela legitimação dum partido especializado em fomentar a desordem e a discórdia social – e que colocará permanentemente um eventual governo com a cabeça num cepo.
Mas parece que isto não preocupa quem está arquitectando esta «marosca» política – à revelia dos principais valores e princípios dum partido (o PSD-A) que tem um inegável património autonomista. E muito menos estão preocupados em honrar o pensamento e a liderança dos seus fundadores que sempre rejeitaram acordos com partidos à sua direita, como era o caso do próprio CDS que nunca «comeu» à mesa na casa do PSD….
Assim sendo só resta uma explicação para esta «união» tipo poliamor – a vingança política e a avidez aos lugares públicos e à gestão dos orçamentos púbicos.
Dificilmente se vê na face e na atitude dos seus principais protagonistas e apoiantes qualquer preocupação com o futuro dos Açores – num sentido lato – ou com a vida real do Povo Açoriano.
Querem apanhar o comboio antes que outros o apanhem…
Como diria Giuseppe di Lampedusa – é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma….
@ Ryc