revisitei orwell em 2007, agora chegou de vez

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. GEORGE ORWELL 1984 A transformação da realidade é o tema l – CRÓNICA 47 NOVº 2007

Como muitos o citam sem o lerem extraio um resumo adaptado sincreticamente por mim

“…passa-se no “futuro” ano de 1984 na Inglaterra, Pista de Pouso Número 1, megabloco da Oceânia, congregação de países dos oceanos. Disfarçada de democracia, a Oceânia vive um totalitarismo desde que o IngSoc (Partido) chegou ao poder sob o omnipresente Grande Irmão (Big Brother). …é a história de Winston Smith, membro do partido externo, funcionário do Ministério da Verdade, cuja função é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido.

 

Nada diferente do que faz um qualquer jornalista ou historiador nos dias de hoje.

 

“Antes da Terceira Guerra, Winston fruía uma vida normal com os pais, mas tinha dificuldade em lembrar o passado. A propaganda e duplipensamento tornavam a tarefa quase impossível, o futuro, presente e passado eram controlados pelo Partido. Winston questiona a opressão do Partido. Se alguém pensa diferente, comete crimideia, capturado pela Polícia do Pensamento desaparece como se nunca tivesse existido. Winston é o cidadão comum vigiado pelas teletelas e Partido. Uma atitude suspeita pode significar o fim, desaparecer de facto. Os vizinhos e os filhos eram incentivados a denunciar quem cometesse crimideia. Algo estava errado, Winston sentia-o e precisava extravasar. Comprou clandestinamente um bloco e um lápis (venda proibida). Atualizou o diário usando o canto “cego” do apartamento, sem ser focado pela teletela. A primeira frase que escreve é: Abaixo o Big Brother! O seu trabalho era transformar a realidade. No MINIVER (Ministério da Verdade), alterava dados de tudo que contradissesse a verdade do Partido e incinerava os originais (Buraco da Memória). O Partido informa: a ração de chocolate aumenta para 20 g. Winston apagava os dados antigos quando a ração era de 30 g. e a população agradece ao Grande Irmão o aumento. O medo de comentar era a arma do Partido para controlar a população. Havia os “Dois minutos de ódio”, em que os membros do partido viam propaganda do Grande Irmão e, direcionavam o ódio contra os inimigos. A mulher de Winston separa-se por não querer participar em sexo por prazer (era crime), sexo apenas para procriar. Apesar de proibido e muito perigoso Winston anota tudo, revoltado por ver os últimos sobreviventes da Revolução, confessarem assassinatos e sabotagens, perdoados e executados, estavam na Eurásia (na época a inimiga) mas de súbito, a Lestásia passara a ser a inimiga. “

 

Bastante atual se se comparar o apoio a Saddam Hussein, Kadhafi, bin Laden antes de serem os inimigos eternos.

 

Revoltado, escreve “liberdade é escrever 2+2=4”, mas as fábricas têm placas 2+2=5 se o partido quiser. Winston entrevista pessoas sobre a vida antes da guerra, mas os idosos não se lembram. Vê uma mulher e desconfia que seja espia da Polícia do Pensamento. No dia seguinte, encontra-a no Ministério e recebe um bilhete: “Eu te amo”. Os membros do Partido, de sexo oposto, não deviam comunicar. Marcaram encontro num lugar secreto, e após beijá-lo, Júlia confessa-se atraída pelo seu rosto que ia contra o partido e o seu desejo era corromper o estado por dentro. Apaixona-se, recupera peso e saúde. O’Brien, membro do Partido Interno, percebe que Winston é diferente e convida-o a ir ao apartamento ver o dicionário de Novilíngua. O convite era incomum, Winston anima-se e leva Júlia. Para espanto do casal, O’Brien desliga a teletela do luxuoso apartamento. Os membros do Partido Interno tinham permissão para se desconetar. Winston confessa acreditar na Fraternidade. Os planos eram regados a vinho, proibido aos do Partido Externo. Dias depois, Winston recebe a obra e devora-a. Ouve uma mulher cantar música prefabricada em máquinas de fazer versos. “Nós somos os mortos” filosofa Winston. Nada distante da música atual. “Nós somos os mortos” repete a voz metálica da teletela atrás do quadro. Guardas irrompem no quarto, Winston é preso no Ministério do Amor, onde as celas tinham teletelas que vigiavam cada passo. O’Brien torna-se o seu torturador e explica o duplipensar, o funcionamento do Partido e questiona-o acerca das frases sobre liberdade. Winston, torturado e drogado aceita o mundo de O’Brien e passa ao estágio seguinte aprender, entender, aceitar. e confessa que a Eurásia era a inimiga e que nunca vira a foto dos revolucionários. Faltava a reintegração, ritual de passagem a concluir no Quarto 101, um inferno personalizado. Como Winston tem pavor de roedores, os torturadores colocam a máscara no rosto com abertura para uma gaiola de ratos famintos. A única forma de escapar é renegar o perigo maior, o amor a outra pessoa acima do Grande Irmão. Winston, libertado, termina os dias só, e surge na teletela confessa os crimes, é libertado, despromovido num trabalho ordinário num subcomité. Júlia escapa do Quarto 101. O Partido separou-os e encontram-se ocasionalmente. Já não eram os mesmos. Tinham “crescido”. Winston sorri, completamente adaptado. Finalmente ama o Grande Irmão.”

 

Trajetória de milhares de pessoas de regimes totalitários, como o checo Thomaz de “A Insustentável Leveza do Ser”[1]. Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 1930-40, Orwell critica o estalinismo e o nazismo e a nivelação da sociedade, tal como pretendem em Portugal depois do 25 de abril. Uma redução do indivíduo a peça para servir o Estado através do controlo total, incluindo o pensamento e a redução do idioma. Tudo isto acontece e só vai piorar. O Big Brother está na nossa vida e aceitamo-lo sem pruridos. Sabe o que fazemos pelos cartões de crédito e débito, cartão de cidadão, passagem pelas portagens de autoestrada, pelo Metro e “Cartão Andante”, câmaras nos centros comerciais. Não se admirem se qualquer dia com a nossa inconformidade e individualismo pudermos ser privados da pseudoliberdade por não termos cumprido as normas de higiene e de saúde que determinaram obrigatórias. Já não há espaço para seres pensantes e questionadores. Só espero que isto não acelere demasiado para os anos de vida que tenho. Não se preocupem, sou assim com fobia excessiva contra as bases de dados, sinal evidente da minha hipocondria e da necessidade absoluta de me internarem como um perigo para a sociedade uniforme e cinzenta que me querem impor. Ah! Se eu ao menos tivesse cá a cicuta, repetia-se o destino. Parecia que o mundo real lá fora estava a conspirar, mas a maior parte das pessoas nem se apercebia e vivia tranquila na morrinha da lufa diária pela sobrevivência, que a mais não podiam aspirar. … Também isto constava das previsões de George Orwell[2]. Adquiri pés de galinha, os cabelos eriçaram-se como se visse um fantasma, isto, no caso de existirem. Comecei a olhar sobre o ombro à cata de quem me espiolhe ou esquadrinhe as ideias, diversas do pensamento “aprovado e oficial”. Não me apetecia ser vaporizado pois tinha um legado que queria imune à ação do ministério da verdade. A privacidade de há 20 anos ou mais, é impensável hoje. Tudo em nome da defesa dos valores sagrados da civiliz ação ocidental. Da luta contra o terrorismo, doutra peleja que os líderes hão de inventar. Como as armas químicas que o velhaco do Saddam Hussein não tinha ou o que os EUA forjaram com Bin Laden. Há um século que “inventam” para fazerem o que lhes convém, lembremos o Xá da Pérsia, Panamá, centenas de golpes falhados e os que fizeram ricochete…

 

[1] o médico que vira pintor de paredes ao renegar as ordens do partido não é diferente dos que não se adaptam nas profissões no mundo livre, de Milan Kundera

[2] (n. Eric Arthur Blair, Bengala, 1903-1950