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Aos meus amigos que vivem em território continental, por favor atentem a este texto e façam chegar aos doutos senhores que comentam nos canais nacionais como se de tudo soubessem, e revelando na verdade uma ignorância atrevida, ao serviço da indignação da moda . Ficarei agradecida!

OPINIÃO
Respeitem Rabo de Peixe!
Nos últimos dias, Rabo de Peixe tem sido referida como exemplo negativo do desenvolvimento social.
Sentados no Terreiro do Paço, os comentadores políticos falam da maior freguesia dos Açores (com o dobro de habitantes de ilhas como, Graciosa, Flores ou Santa Maria) como “uma pequena aldeia”. Ignoram ser a freguesia mais jovem da região, com uma das menores taxas de envelhecimento e índice de dependência demográfica do país e onde as taxas de natalidade (11,8‰), fecundidade (44 ‰) e crescimento natural (4,3‰), em 2018, foram significativamente superiores aos valores médios regionais. É bom lembrar que os Açores estão a perder população e em 2018 registavam uma taxa de crescimento natural negativo (-0,2‰), ou seja, morreram mais pessoas do que as que nasceram.
As narrativas desses comentadores, emanadas do alto da sua continentalidade, só podem ser fruto de uma profunda ignorância. Foi dito e escrito, a propósito de Rabo de Peixe, que está no “fundo do fundo” da miséria, porque 30% das famílias recebem RSI (José M. Tavares no Público de 21/11/20); é uma comunidade falhada, insustentável do ponto de vista económico, um sítio marcado por uma quantidade de droga que, há 20 anos, deu à costa, onde a pobreza é objeto de “turismo” e as mulheres não podem ir ao mar (Eixo do Mal de 20 de novembro).
Esta visão estereotipada ignora a riqueza económica desta comunidade, onde se situa o maior porto dos Açores e os principais produtores de hortícolas e frutícolas da ilha. Mas, sobretudo, desconhece a sua riqueza sociocultural. Na comunidade piscatória, apesar dos baixos rendimentos que resultam da divisão tradicional por quinhões, todos contribuem para o clube desportivo e para as festas do Padroeiro. As mulheres podem não ir no barco, mas muitas trabalham na Conserveira e são elas quem resolve os problemas administrativos, tratam dos “papéis”, e colaboram na preparação do isco, mesmo quando não são reconhecidas e pagas por isso.
Esta é uma comunidade onde é evidente a força dos laços de parentesco que, ainda agora, alimentam a relação com aqueles que emigraram.
Há famílias com dificuldades económicas? Sim, ninguém o nega. E isso explica-se pela precariedade do rendimento da pesca, e do setor primário em geral, onde não há contratos de trabalho e se está sujeito às condições do clima, particularmente na pesca artesanal.
Essa subsidiodependência, de que tantos falam, tem permitido apoiar o pescador quando não pode ir ao mar (Fundo Pesca) e investir na qualificação dos mais jovens, para que acedam às licenças de pesca. Não há sustentabilidade no setor primário sem investimento na qualificação, na diversificação dos produtos e em novas formas de conservação e comercialização.
Nunca se fala das histórias de sucesso dos jovens desta comunidade, subestimados em discursos catastrofistas, que arrasam a autoestima de quem ali vive e reside.
Falemos de Rabo de Peixe, pela positiva, como uma comunidade de fortes tradições culturais, solidária, que vive intensamente o culto ao Espírito Santo, sente a música como poucos, ao som das castanholas do balho dos pescadores e das filarmónicas, e fez nascer uma orquestra OI Jazz, a partir de um projeto escolar. Uma comunidade jovem, com potencial de crescimento, que precisa de continuar a acreditar em si.
Rabo de Peixe merece um discurso de respeito.
Sentados no Terreiro do Paço, os comentadores políticos falam da maior freguesia dos Açores (com o dobro de habitantes de ilhas como, Graciosa, Flores ou Santa Maria) como “uma pequena aldeia”. Ignoram ser a freguesia mais jovem da região, com uma das menores taxas de envelhecimento e índice de dependência demográfica do país e onde as taxas de natalidade (11,8‰), fecundidade (44 ‰) e crescimento natural (4,3‰), em 2018, foram significativamente superiores aos valores médios regionais. É bom lembrar que os Açores estão a perder população e em 2018 registavam uma taxa de crescimento natural negativo (-0,2‰), ou seja, morreram mais pessoas do que as que nasceram.
As narrativas desses comentadores, emanadas do alto da sua continentalidade, só podem ser fruto de uma profunda ignorância. Foi dito e escrito, a propósito de Rabo de Peixe, que está no “fundo do fundo” da miséria, porque 30% das famílias recebem RSI (José M. Tavares no Público de 21/11/20); é uma comunidade falhada, insustentável do ponto de vista económico, um sítio marcado por uma quantidade de droga que, há 20 anos, deu à costa, onde a pobreza é objeto de “turismo” e as mulheres não podem ir ao mar (Eixo do Mal de 20 de novembro).
Esta visão estereotipada ignora a riqueza económica desta comunidade, onde se situa o maior porto dos Açores e os principais produtores de hortícolas e frutícolas da ilha. Mas, sobretudo, desconhece a sua riqueza sociocultural. Na comunidade piscatória, apesar dos baixos rendimentos que resultam da divisão tradicional por quinhões, todos contribuem para o clube desportivo e para as festas do Padroeiro. As mulheres podem não ir no barco, mas muitas trabalham na Conserveira e são elas quem resolve os problemas administrativos, tratam dos “papéis”, e colaboram na preparação do isco, mesmo quando não são reconhecidas e pagas por isso.
Esta é uma comunidade onde é evidente a força dos laços de parentesco que, ainda agora, alimentam a relação com aqueles que emigraram.
Há famílias com dificuldades económicas? Sim, ninguém o nega. E isso explica-se pela precariedade do rendimento da pesca, e do setor primário em geral, onde não há contratos de trabalho e se está sujeito às condições do clima, particularmente na pesca artesanal.
Essa subsidiodependência, de que tantos falam, tem permitido apoiar o pescador quando não pode ir ao mar (Fundo Pesca) e investir na qualificação dos mais jovens, para que acedam às licenças de pesca. Não há sustentabilidade no setor primário sem investimento na qualificação, na diversificação dos produtos e em novas formas de conservação e comercialização.
Nunca se fala das histórias de sucesso dos jovens desta comunidade, subestimados em discursos catastrofistas, que arrasam a autoestima de quem ali vive e reside.
Falemos de Rabo de Peixe, pela positiva, como uma comunidade de fortes tradições culturais, solidária, que vive intensamente o culto ao Espírito Santo, sente a música como poucos, ao som das castanholas do balho dos pescadores e das filarmónicas, e fez nascer uma orquestra OI Jazz, a partir de um projeto escolar. Uma comunidade jovem, com potencial de crescimento, que precisa de continuar a acreditar em si.
Rabo de Peixe merece um discurso de respeito.
(Piedade Lalanda)
in, Açoriano Oriental, 24 de Novembro / 2020