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olhem só o que disse da educação em janº 2008:
CRÓNICA 50 o desensino 18-31 janeiro 2008
Neste interior pacato da ilha de são Miguel, nesta costa norte cheia de chilrear de passarinhos, vaquinhas a pastar nos campos verdes, ar puro, quem precisa de Internet? Estou a pensar em mandar cortar a luz e comprar uns candeeiros a azeite, acho a eletricidade uma modernice desnecessária para estas bandas…
Foi pena não ter havido coragem para desobrigar totalmente os alunos de frequentarem aulas, pois com isso reduzia-se imenso o défice nacional, dispensando milhares de professores que só seriam necessários no caso de haver exames ou provas de avaliação.
in Informativo-Notícia 2008-01-18 11:09:00 Publicadas alterações ao Estatuto do Aluno em Diário da República
As alterações ao estatuto do aluno, datado de 2002, foram aprovadas com os votos contra de toda a oposição e após um período de controvérsia em torno das faltas dos estudantes, tendo sido realizadas três alterações ao projeto. O novo diploma permite que os estudantes passem de ano sem frequentar as aulas, desde que sejam aprovados nas provas de recuperação. A reprovação só ocorre se o aluno faltar sem justificação à prova de recuperação, ficando retido, no caso do básico, ou excluído da frequência da disciplina, no caso do secundário.
Este documento estipula que o prazo limite de faltas não justificadas é de duas semanas, se o aluno estiver no primeiro ciclo, e do dobro dos tempos letivos semanais de uma disciplina, se o estudante frequentar os restantes níveis de ensino. O estatuto do aluno até agora em vigor, introduzido em 2002 no Governo PSD-CDS/PP, previa a retenção automática de um aluno do ensino básico que excedesse o limite de faltas injustificadas ou a sua imediata exclusão da frequência de uma disciplina, no caso de estar no secundário. Este estatuto do aluno entra em vigor para a semana.
Começaram em janeiro as quatro semanas de celebração do carnaval com a passagem na noite da quinta-feira do Jantar dos Amigos que é uma cena curiosa pois as mulheres ficam em casa e os homens reúnem-se. Depois do jantar há sessões de striptease que decerto ajudam o ego frustrado de tanto macho latino reprimido que aqui deve haver.
Na semana seguinte foi a vez da Noite das Amigas em que elas fizeram o mesmo mas com striptease masculino para se vingarem dos machos que têm. A menos que sejam de preferências sexuais alternativas.
Depois foi a Noite dos Compadres e a das Comadres que antecedem o Carnaval e o S. Valentim ou Dia dos Namorados.
Curiosos estes hábitos – a que chamam tradições – da ilha de S. Miguel e até tiveram direito a espaço informativo nas televisões do continente. Lentamente se vai aprendendo de que é feita a massa cinzenta e outra (menos cinzenta) destas gentes. Era vê-los em frente às câmaras de televisão todos lampeiros, satisfeitos depois de se alambazarem com imensa comida e bebida à espera da “sobremesa”.
Eu só estou a falar disto porque não estou de forma nenhuma integrado na sociedade local, dado que ninguém me convidou a ir a uma destas noites.
Podia começar esta crónica com o comezinho incómodo que tive nas duas últimas semanas enquanto deitavam abaixo à marretada e à força bruta de uma retroescavadora a casa centenária que em ruínas nos acompanhou aqui ao lado durante mais de dois anos.
Foi acordar um dia ao som dos tremores de terra constantes que abanavam esta estrutura centenária que habitamos, em especial a parte da falsa (sótão) no primeiro andar e que é em estrutura de madeira, com paredes de tabique ou madeira prensada…
Se não soubesse já qual o sentimento de ter um terramoto então era a oportunidade de o experimentar até cerca das cinco da tarde. Dias e dias, a fio e pavio, sempre a tremer, sem poder abrir a janela devido às toneladas de pó que se iam acumulando pela casa toda.
Também podia começar esta crónica com a remodelação governamental mas não me apetece falar da política do jardim à beira-mar prantado pois teria de mencionar a mais ridícula de todas as deliberações legais levada a cabo pela zelosa ASAE: O milho para os pardais ou galinhas só pode ser vendido em sacos de 5 kg, nem mais nem menos…isto mesmo que se trate de velhinhas que só podem levantar dois quilos de cada vez, para darem às galinhas que sobrevivem no pátio enquanto não são comidas na noite de consoada em memória dos perus que já não comem há muito.
Um cronista da nossa praça dizia com razão que, a continuar assim, mais valera a ASAE acabar com as velhinhas…
Mas a razão por que não queria falar de política é que o ministro ora demissionário (será este o novo nome que dão aos despedidos ou demitidos?) Correia de Campos da pasta da Saúde (ou falta dela) andava a tentar rapidamente fechar todo o país interior: começara pelas urgências e por outras coisas com nomes esquisitos SAP, SAPU, VMR, etc. Mas os desígnios dele eram mesmo fechar o interior para ficar como coutada dos ricos que ali poderiam comprar umas casinhas ao desbarato para passarem férias.
Foi não pena o ministro não ter sido ambicioso já que era arrogante: deveria era ter tentar fechar todo o país, não só algumas urgências. Com o país encerrado, era mais fácil governá-lo e gastava-se menos dinheiro (logo ficava resolvido o problema do défice), os espanhóis vinham e podiam plantar tudo aquilo que os portugueses não plantam (porque não dá, ou porque não vale a pena, dizem eles) e faziam disto a sua horta ou quinta, um pouco à moda dos do Faial que faziam do Pico a sua colónia de férias.
Só havia um problema nesta solução, como é consabido os portugueses têm uma produtividade elevadíssima quando trabalham no estrangeiro e aí sim era uma chatice, se começassem a trabalhar nas hortas dos espanhóis (que dantes eram dos portugueses) podiam começar a habituar-se a trabalhar e a produzir e ainda tornavam este país rentável…
Podia falar-vos das chuvas torrenciais dos últimos dois dias que, como é habitual, levaram nas suas enxurradas mais umas terras que desabaram pela estrada dentro e obrigaram à intervenção das solícitas equipas da proteção civil açoriana. Mas isso é o habitual e já ninguém estranha. Eram vários os começos que idealizei para esta crónica demicentenária e como eram muitos acabei por esquecer como fazê-lo.
O que é importante é uma coisa que há muito ando a dizer nos labirintos esconsos das minhas conversas: o ensino em Portugal (tal como a democracia que temos) segue um rumo globalizado de privatização que irá conduzir no futuro a termos um acesso universal ao ensino (para todos) mas de má qualidade e sem grande futuro, levando as pessoas a engrenagens de dívidas perenes e endividamento aos bancos, sem hipótese de saírem desse círculo.
Entretanto as pequenas elites com poder de compra irão, cada vez mais, optar por escolas privadas, donde sairão os futuros dirigentes da nação que optem por não irem para o estrangeiro. Teremos assim um país (e o mundo) a duas velocidades: a das massas (melhor do que no tempo da ditadura, dado que todas ostentam títulos académicos sem que isso represente emprego ou profissão duradoura) e a das elites (à semelhança dos velhos tempos da outra senhora, serão sempre estes os que ocuparão os lugares de chefia a todos os níveis a partir do intermédio).
Daí esta revolução ruidosa a que temos assistido no reinado de Sócrates e da sua ministra plenipotenciária da Educação (Mª de Lourdes Rodrigues). Desacreditando os professores e a sua profissão, abalando os alicerces do ensino público com normas pouco exequíveis, pouco fiáveis e de resultados estatísticos garantidos mas sem que isso represente qualquer grau de conhecimentos técnicos, científicos ou académicos, esta reforma do ensino privilegia os títulos obtidos nalgumas escolas privadas (exceção feita à Universidade onde o senhor primeiro-ministro comprou o seu diploma por fax e outras quejandas).
As massas continuarão a enviar as suas crianças para a escola sem se aperceberem que os paradigmas do século XX já não vigoram e os estudos nada significam, ou seja, nada do que significavam. Afinal isto não é mais do que a aplicação da velha máxima minha quando afirmo que um dia destes, um décimo segundo ano equivale a uma quarta classe da minha infância e uma licenciatura não é mais que um velho 5º ano do liceu (curso complementar) e assim sucessivamente até ao mestrado que terá o valor dum antigo bacharelato e o doutoramento da velha licenciatura. Ridículo? Ousado? Despropositado? Não? Comparem o conteúdo curricular dos vossos filhos ou netos com o vosso e depois conversamos. Agora com a passagem obrigatória de todos os alunos, mais o plano das ”Novas Oportunidades” vamos finalmente baixar o nosso coeficiente de iletrados mas ao contrário do que muitos pensam, não vamos deixar de ter iletrados, o que vamos deixar é de ter iletrados sem diplomas.
Nada disto é feito à toa, nem apenas é feito por uma questão de birra do senhor primeiro-ministro que parece não nutrir grande afeto pelos que ensinam, fruto duma qualquer frustração infantojuvenil que não posso confirmar…
Já foi feito nos EUA, na Austrália e no Reino Unido onde há escolas secundárias que custam tanto ou mais que universidades privadas…