refugiados, migrantes e escravos

A primeira coisa que acontece a um refugiado é perder a sua identidade. As televisões ajudam: quase todos os que aparecem falam inglês. São os que podem ou foram escolhidos. Ora, a maioria dos que nadam para a Europa têm como línguas maternas o árabe (uma das línguas mais faladas no mundo) e tantas ou mais línguas que a Torre de Babel. Quantos, nesses países, tiveram a oportunidade de aprender outra língua, além da materna? Quantos puderam cá chegar e quantos ficaram pelo caminho? Quantos ficaram para trás sujeitos a totalitarismos vários, torturas, misoginias, fomes que engrandecem alguns que argumentam com a “economia de mercado”? Em países com tantas violências quantos puderam aprender alguma coisa das culturas europeias, a começar pelas línguas, quando nem sequer podem ir à escola? Os que aparecem, e anónimos nas televisões, são apenas os representantes mínimos de uma tragédia enorme, que muitos teimam em esquecer, numa Europa de má memória que parece ter esquecido os refugiados das guerras mundiais, a fuga dos desesperados para as Américas, os tráficos mundiais de escravos.