As diferenças entre açorianas e lisboetas…

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As diferenças entre açorianas e lisboetas…

Regional
Manuel Moniz
27/12/2005 12:12:12

O último número da Revista de Estudos Demográficos, do Instituto Nacional de Estatística, que acaba de sair, integra um artigo de Piedade Lalanda, intitulado “A população feminina e as transições familiares através da demografia”, onde a autora compara dois acontecimentos que marcam a vida das mulheres, o casamento e o nascimento do primeiro filho, a partir dos dados estatísticos da Demografia, tendo por regiões de referência os Açores e Lisboa. Ao mesmo tempo que caracteriza a população feminina em idade fértil, entre os 15 e os 49 anos, o artigo pretende “entender que características têm as mulheres açorianas e lisboetas quando casam ou são mães e, em que medida, essa condição tem sofrido alterações nas últimas décadas”.
Piedade Lalanda estima que no que toca à população em idade ativa, os Açores padecem de alguma carência “resultante, em parte, da perda de efetivos provocada pela emigração nas décadas de sessenta e setenta. O inverso parece caracterizar a população da Região de Lisboa onde é notória a presença de mulheres em idades ativas, o que, em parte, poderá reforçar a taxa elevada de atividade feminina. A mulher lisboeta entra com mais frequência no mercado de trabalho, tenha ou não um nível escolar elevado, seja ou não solteira. No caso dos Açores, existe um défice de mulheres adultas ativas”.
Há uma “tendência para uma certa precocidade (antes dos 20 anos) na idade do casamento e do nascimento do primeiro filho nas mulheres açorianas. Ao nível de outras variáveis, como seja a escolaridade e a condição perante o trabalho, as mulheres açorianas têm em geral, aquando do casamento e do nascimento dos filhos, um nível escolar mais baixo, associado à condição de domésticas. No caso lisboeta, as mulheres casam em média mais tarde, sendo claro o aumento do número de primeiros filhos em mães com mais de trinta anos. Estes factos reforçam, no caso dos Açores, o modelo de casal onde o homem é a principal fonte de sustento familiar e, no caso de Lisboa a conjugalidade de dupla profissão”
Os Açores ainda mantêm uma taxa elevada de natalidade no contexto nacional. “Se considerarmos que o nível de escolarização das mulheres com idades entre os 15 e os 49 anos não ultrapassa, em média, o segundo ciclo, os Açores ainda registam um número significativo de mulheres que apenas concluiu o primeiro ciclo, ou seja, apenas frequentou quatro anos de escolaridade. Por sua vez, a percentagem das que concluíram uma licenciatura é bastante mais significativa na Região de Lisboa”.
Para Piedade Lalanda, “esta diversidade nos percursos escolares poderá explicar alguma resistência ao mercado de emprego por parte das açorianas e uma maior participação no caso lisboeta. O modelo de casal onde a mulher cuida do lar e dos filhos, enquanto o marido trabalha, ainda predomina nos Açores. Ao invés, esse modelo tende a desaparecer em Lisboa, onde a grande maioria dos casamentos associa dois indivíduos ativos, o que não significa que a mulher não continue a cuidar do lar”.
E conclui que “se por um lado, as mulheres assumem um papel cada vez mais relevante no mundo do trabalho, da intervenção pública, por outro, o mundo privado da família e da maternidade, enquanto universo relacional, continuam a condicionar as suas opções, sejam académicas, profissionais ou outras. É na medida em que as relações familiares são de cooperação e partilha, que estas condicionantes se atenuam e as transições familiares (casamento e maternidade) podem ser vividas, não como acontecimentos que limitam a plena participação da mulher na sociedade, mas como momentos de um percurso que integra diferentes dimensões identitárias”.
No entanto, também refere que “ser casada vai deixando de ser o único e principal estatuto social das mulheres, existindo, em paralelo, outros domínios de identificação, nomeadamente, a atividade profissional”.
De entre várias estatísticas trabalhadas, são fornecidos dados sobre a educação: “em 2001, 47,7% das mulheres açorianas entre os 15 e os 19 anos tinham completado o 3º ciclo, sendo esse valor de 60,7% na Região de Lisboa e de 58,7% a nível nacional”. Em 2004, 77% da população feminina dos países que integram a Europa a 15, estava habilitada com esse nível mínimo de formação o mesmo acontecendo para 79,6% das mulheres da Europa a 25. E destaca que “em termos de escolarização feminina, Portugal apresenta uma das mais baixas percentagens no todo europeu, apenas superior à de Malta (48,7%)”.
Em 1991, nos Açores, 64% de mulheres entre os 15 e os 19 anos estavam na condição de estudantes, enquanto na região de Lisboa esse valor atingia os 73,1%. No
entanto, no grupo etário entre os 20 e os 24 anos se, em 1991 apenas 10,9% das açorianas ainda eram estudantes, em 2001 registamos 23,6%, valor próximo da média nacional. Na região de Lisboa 28,8% das mulheres entre os 20 e os 24 anos mantém a condição de estudante.
Há uma evolução: “a população feminina tem vindo a possuir níveis mais elevados de escolaridade, sendo significativo o aumento do número de mulheres, no grupo etário entre 25 e 29 anos, habilitadas com um nível de ensino superior: de 5,1% em 1981 passou para 22,7% em 2001 no todo da população portuguesa, correspondendo a 31,9% na região de Lisboa e a 15,8% na região Açores”.
Os Açores apresentam percentagens mais baixas de mulheres ativas: 1981 – 22,8%, 1991 – 40% e 2001 – 56,1%), sobretudo quando comparada com Lisboa e Vale do Tejo (1981 – 57,7%, 1991 – 64,2% e 2001 – 75,2%. “O peso das domésticas na Região em 2001 ainda é bastante significativo (23,8% da população entre os 15 e os 49 anos), mesmo nos grupos mais jovens (15-19 anos: Açores – 9,6% e Lisboa – 1,2%; 20-24 anos: Açores – 14,6% e Lisboa – 1,6%).
Sobre esse assunto, refere que “podemos adiantar uma justificação quando se analisa o peso relativo dos casamentos antes dos vinte anos nesta região. Este facto poderá levar algumas mulheres açorianas a desistir, quer do prosseguimento de estudos, quer de uma vida ativa, para se dedicarem à família”. É que há, em 2001, “um maior número de mulheres açorianas casadas (42,3%) do que entre as lisboetas (22%). Aparentemente, a mulher açoriana abandona a escola bastante mais cedo do que a lisboeta e não ingressa, em número tão significativo, no mercado de trabalho, assumindo a condição de doméstica, mesmo que isso signifique ficar em casa dos pais, aguardando casar”.