REBELO DE BETTENCOURT em livro

Obra literária do açoriano Rebelo de Bettencourt descrita agora em livro

29-04-2014Rebelo de BettencourtNascido

Rebelo de Bettencourt: raízes de basalto é como se intitula o livro escrito pela investigadora Anabela Mimoso que aborda a obra literária de um poeta, ensaísta e jornalista açoriano que viu o seu percurso literário começar no Diário dos Açores, no ano de 1912.
A ideia para o desenvolvimento do trabalho surgiu no âmbito de um colóquio da lusofonia, no qual Anabela Mimoso iria apresentar apenas um artigo sobre Rebelo de Bettencourt.
“A minha ambição era apenas esta: escrever o artigo para a conferência. Mas, durante a investigação que fiz, surgiram tantos elementos sobre o escritor e nenhum estudo de fundo sobre a sua obra, pelo que acabou por merecer uma maior atenção da minha parte”, explica a autora, ao Diário dos Açores.
Nascido em Agosto de 1894, Rebelo de Bettencourt, natural de Ponta Delgada, frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa e um colégio em Londres, mas não concluiu os estudos, optando por enveredar pelo mundo do jornalismo.
Foi contemporâneo de vários escritores de renome portugueses, pertencentes à “geração de Orpheu”, da qual fez parte Fernando Pessoa, tendo, inclusivamente, sido companheiro de Santa Rita Pintor e Almada Negreiros, bem como aluno de Teófilo Braga, a quem dedicou um dos seus trabalhos.
O escritor açoriano participou na corrente futurista em 1917, conjuntamente com outros poetas, mas cedo a abandonou para se converter ao movimento do nacionalismo. Veio a falecer em Setembro de 1969, na terra que o viu nascer.
Como jornalista, além do Diário dos Açores, Rebelo de Bettencourt colaborou com o Século, em 1917-18, e fundou, em Ponta Delgada, o jornal Districto. Foi ainda redactor do A Pátria, em Angra do Heroísmo, e, em Lisboa, colaborou na Gazeta dos Caminhos de Ferro e na revista de turismo Viagem.
Sobre a obra de Rebelo Bettencourt, Anabela Mimoso avançou que esta “começou com poesia e com uma extensa colaboração em jornais e revistas, de onde resultou a publicação de vários ensaios”. Publicou ainda um livro de contos e uma “multiplicidade de crónicas e artigos em vários periódicos, nomeadamente, no Diário dos Açores, onde começou a sua carreira”.
“A influência do Diário dos Açores na obra de Rebelo de Bettencourt mostrou-se através do futurismo, em termos de conhecimento da corrente”, afirmou a investigadora, realçando o facto de o Diário estar, naquela altura, “bastante à frente do seu tempo, em termos literários”. Além disso, este jornal tornou também possível que o escritor açoriano se tornasse correspondente de uma publicação brasileira, que servia a comunidade portuguesa, e para o qual Rebelo de Bettencourt colaborava com artigos que “davam a conhecer os Açores”.
Entre poemas, contos, ensaios e peças jornalísticas, Bettencourt era conhecido como poeta, mas o facto de ter sido contemporâneo de outros poetas, “com maior peso”, fez com que não se destacasse tanto nesta área. Já no aspecto ensaístico, era qualificado como “brilhante” e “fantástico, com uma elegância e uma escrita muito clássicas”.
Dos seus tempos futuristas, publicou uma antologia de crónicas da revista Portugal Futurista intitulada O Mundo das Imagens, e três antologias poéticas, Cantigas (1923), Oceano Atlântico (1934) e Vozes do Mar e do Vento (1953), e alguns ensaios de mérito sobre Antero de Quental e Teófilo Braga. O seu primeiro livro, intitulado Ode a Camões, foi publicado pela Tipografia do Diário dos Açores. Entre as suas obras, Anabela Mimoso destacou O Mundo das Imagens, onde o açoriano “fala muito de Fernando Pessoa e da geração de Orpheu”.
A investigadora refere que a obra de Bettencourt “caiu no esquecimento”, pelo facto de outras “figuras de proa” terem sobressaído, naquela época.
“Fernando Pessoa sobrepõe-se a todos os poetas seus contemporâneos, sejam futuristas ou não”, afirmou, acrescentando, por outro lado, que o ensaio não é valorizado. “Valorizamos muito mais o romance e Bettencourt não escreveu romances”, explica.
Anabela Mimoso lembra que “se a escola não impõe como leitura obrigatória nenhuma obra de determinado autor, ele acabará esquecido”. “É a escola que canoniza estes escritores”, defende, justificando a falta de conhecimento que existe sobre o escritor açoriano.
A obra Rebelo de Bettencourt: raízes de basalto é publicada pela editora Seixo Publishers, criada pelo neto do escritor, Eduardo de Bettencourt Pinto, em Pitt Meaddows, no Canadá, e será apresentada amanhã, no Centro Municipal de Cultura, em Ponta Delgada, pelas 17 horas.
Anabela Mimoso, investigadora de literatura, já publicou vários artigos sobre escritores açorianos, nomeadamente, Rui Gonçalves, Antero de Quental, Teófilo Braga e Rodrigo Leal de Carvalho. “Estudei-os não por serem açorianos, mas por serem grandes autores”, frisa. Possui ainda uma vasta obra de ficção para crianças e adultos e diversos trabalhos publicados em revisas nacionais e internacionais.

Por: Alexandra Narciso