RAQUEL VARELA COMENTA AS NOVAS MEDIDAS

Ouvi com atenção o discurso de António Costa.
Acho que há medidas correctas, e outras absurdas. O central fica por esclarecer. Não as comento todas, apenas algumas.
Nas correctas, creio que se destaca o tom humilde, sincero ou não – desta vez não há “abanões”, nem fomos tratados como súbditos chineses. Digamos…que sentiu o abanão da crítica.
Medidas consoante os lugares, não generalizadas. Claro, era óbvio. Desde o dia 13 de Março que o país não é todo igual.
Ter insistido em medidas de educação e dito que uma pandemia não se combate com medidas e regras restritivas, mas com educação. Registámos. Vamos citar várias vezes.
Ter reiterado que a máscara é para usar ao ar livre, mas só quando não é possível manter distanciamento. Ouviram? Vê-se gente nas ruas sozinha, a 5 metros do vizinho do lado, nos jardins, de máscara. Não é nem obrigatório, nem faz bem a saúde. Guardem os olhares de condenação – a máscara é para usar apenas quando as pessoas estão juntas, muitas.
Manter as escolas e universidades abertas. Lá se foi a maravilha do ensino online. Demorou, mas compreenderam – ensinar é um acto relacional.
Manter restaurantes e comércio aberto. Deixem os pequenos comércios em paz. O meu vizinho, que antes da pandemia tinha um cliente por semana, foi obrigado a fechar em Março. Agora há algum bom senso.
Resolver – não sei como, é certo, nem foi referido -, os internamentos sociais.
Negativo, e essencial. Porque é por aqui que tudo passa. O SNS e a democracia.
Anunciar a contratação de médicos e enfermeiros sem dizer quantos saíram este ano para o privado, quantos pediram redução de horário e quantos se reformaram. E em que condições trabalharão: aumento de salários, carreiras, autonomia, equipas?
Insistir que a principal forma de combate a uma pandemia é a auto-responsabilidade. Não é. Nunca foi. É o SNS, e esse é da responsabilidade do Governo.
Tornar obrigatório o tele-trabalho, um inferno que implica perda de qualidade do trabalho, degradação das relações pessoais e familiares.
Insistir que as pessoas têm o dever – não a obrigatoriedade! – de recolher-se depois de, cito, “ir ao trabalho, escola, fazer compras, fazer exercício, e passear os animais domésticos”. Ou seja, contaminam-se o dia todo a fazer o que toda a gente faz normalmente e depois recolhem-se em casa e contaminam-se uns aos outros na família. O “dever de recolher” é claramente uma expressão de autoritarismo light, já que a maioria dos portugueses muito antes da pandemia estava recolhido, depois do trabalho, escola e passear o cão (curioso que nunca se fala em passear crianças, detalhe importante). O mal das nossas cidades e aldeias é que não há vida pública, há muito tempo, já eram um deserto depois das 8 da noite, antes da pandemia, agora há um Estado a tornar este norma recomendável, aproveitando a pandemia para reforçar o seu autoritarismo. Absurdo.
Do que acabei de escrever depreende-se que os suecos têm razão. Se se pode andar de transportes, ir à escola, sair ao supermercado, trabalhar, pode-se proibir grandes eventos, discotecas, grandes aglomerados, etc. O resto é pensamento mágico. Estas medidas não vão diminuir as taxas de contágio, vão apenas degradar a saúde mental e outras patologias. E diminuir a democracia e confiança entre as pessoas.
Anunciar que os centros comerciais fecham às 22 horas. Deviam fechar, mesmo antes da pandemia, às 18 horas… – é assim que é a vida normal dos países civilizados. Às 22 horas as pessoas deviam estar há muito a namorar, descansar, ócio. Não a fazer compras exaustas.
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