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Era suposto falar de outra coisa hoje, mas uma pessoa com a mesma sensibilidade que a nossa enviou-nos ontem estas fotos.
São apenas quatro, e são uma ínfima amostra de uma das muitas obscenidades que a agroindústria que deixámos aqui instalar produz. E são também apenas quatro fotos das centenas que se poderiam tirar em todas as explorações. São toneladas e toneladas de comida em perfeitas condições que são atiradas para o lixo todos os dias.
Não somos um país rico e não é difícil constatar essa evidência, mas a nossa pobreza é numa imensidão de gradações incomparável com a verdadeira pobreza. Que uma vez vista e sentida faz rasgar dentro de nós qualquer coisa que nunca mais nos deixa ver coisas destas, sem sentir uma repulsa que chega a ser física. Uma náusea pela humanidade imbecil e arrogante.
Estas fotografias são radiografias de tudo o que está errado nesta operação nefasta, obscena e gerida por gente ridícula que não faz ideia do que anda a fazer neste mundo.
É esta mentalidade que eu vou combater para o resto dos meus dias e é contra este tipo de gente que eu me vou bater até não ter mais forças. E acreditem quando digo que a minha motivação para fazer implodir este atentado contra o ambiente a sociedade e inteligência colectiva, que aqui deixámos instalar, aumentou vários níveis, porque agora já nem respeito lhes devo.
Temos escolas, centros de dia, gente carenciada, lares de idosos e toda uma panóplia de soluções, para onde toda esta comida poderia ser enviada, se estivéssemos a falar de gente com o mínimo de preocupação pela sociedade onde está inserida. Se estivéssemos a falar de gente. Mas não estamos.
Estamos a falar de um processo de fabricação de dinheiro, com calibragem, aspecto e marketing que só quem é parvo é que pode chamar de agricultura. Este sorvedouro da nossa agua, que nos conspurca o ambiente com milhares de toneladas de produtos químicos, mata as espécies endémicas, inquina os nossos lençóis freáticos e explora e incita à exploração de cidadãos estrangeiros, e destrói o nosso tecido social e economia local, tem tanto respeito por nós e pela nossa terra, como tem pelos milhares de toneladas de vegetais com menos um milímetro que deita fora.
Isto não é agricultura meus amigos. Agricultura pressupõe respeito, inteligência emocional, e uma ligação ao meio que produz cultura e civilização. Os tipos e tipas que fazem isto, andam em bons carros, vestem roupas caras e arrogam-se de um estatuto social diferenciado, mas são uns parolos tão pobres que a única coisa que possuem é dinheiro. São aqueles saloios com taco de notas no bolso mas que comem de boca aberta.
É para deitar fora comida que poderia ser usada para ajudar quem precisa, que já estão a roubar a água aos habitantes do interior do concelho. É para continuarem a cometer este acto ridículo que têm o controle do bem mais precioso que possuímos.
Foi sem qualquer respeito por nós, pela nossa cultura universalista, e sociedade de entreajuda, que estes parasitas se vieram instalar aqui num Parque Natural com um património ambiental incalculável, e com vestígio civilizacional que remonta à pré-história.
Se não conseguirmos acabar com isto, vamos nós acabar cobertos de vergonha por não termos sido capazes de honrar o legado que aqui nos foi deixado com tanto sacrifício.
Se não soubermos levantar-nos agora, pois que fiquemos sentados para sempre, porque não merecemos a dignidade…
Um bom dia para todos…
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